Davi Dias Souza
Nos últimos meses, exportadores brasileiros foram surpreendidos: Donald Trump prometeu impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações do Brasil para os EUA. É a penalidade comercial mais severa sob este governo americano. O pânico se espalhou: de produtores de café a fabricantes de aviões, todos temem perder mercado. A bancada do agronegócio alertou que a medida “atingiria o agronegócio, impactando o custo de insumos e a competitividade das exportações”. Até os produtores de suco de laranja da Flórida, parceiros do Brasil, admitiram que a medida enfraqueceria o setor e “aumentaria o preço do café da manhã de todos”.
A crise, porém, é mais complexa. Uma carta de Trump a Lula revela que o problema é político e econômico. Ele acusa o STF de emitir “centenas de ordens secretas e ilegais de censura” contra plataformas americanas e denuncia a perseguição judicial contra Bolsonaro como uma “caça às bruxas”. A mensagem é clara: o Brasil não é punido por exportar demais, mas por antagonizar os aliados de Trump e a ideia americana de “liberdade de expressão”.
A relação azedou por diversos motivos. No início do mandato, Lula provocou os EUA ao apoiar Kamala Harris, alertar que um segundo governo Trump traria “fascismo e nazismo” e fazer fotos ao lado de regimes antiamericanos. Ele também chamou a política de Trump em Gaza de “genocida” e criticou suas ameaças online, declarando: “não queremos um imperador”. Um boné com os dizeres “O Brasil é dos brasileiros”, parodiando o slogan MAGA, foi outra provocação.
O cenário piorou com a disputa entre o governo e o STF contra Elon Musk, que resultou no bloqueio temporário do X (ex-Twitter) no Brasil. Trump citou os “ataques insidiosos” de Lula às eleições e as “ordens ilegais e secretas de censura” do STF como justificativas para a tarifa. Recentemente, a inclusão de Alexandre de Moraes na Lei Magnitsky dos EUA, que impõe sanções por violação de direitos humanos e liberdade de expressão, evidenciou a tensão.
Os líderes brasileiros ajudaram a provocar a crise. A tarifa era previsível. Trump afirma que o mercado brasileiro é “muito injusto”, devido a barreiras comerciais, e que os 50% são “menos do que o necessário” para equilibrar o jogo.
A ironia é que os brasileiros já pagam uma carga de impostos sobre importações muito alta. Um estudo estima a tarifa média brasileira em 26,4%. Com os 50% de Trump, a carga tributária efetiva sobre produtos brasileiros nos EUA chegaria a 76,4%. O Brasil, que impõe impostos altíssimos sobre produtos estrangeiros, agora se indigna com uma tarifa externa. A contradição é evidente. Se reclamamos de impostos estrangeiros, por que não questionamos os nossos, que são ainda maiores?
É tentador culpar apenas os EUA, mas o Brasil deveria olhar para si mesmo. O discurso inflamado de Lula não protege a indústria. A conta chegou: menos pedidos, lucros menores e empregos ameaçados.
A lição é clara: mercados livres e diplomacia inteligente importam. Nossas fábricas e fazendas são punidas por uma briga que começou em Brasília. Em vez de culpar o outro lado, o Brasil deveria derrubar suas próprias barreiras comerciais. Se o país abrisse seus mercados e reduzisse seus impostos, talvez não houvesse necessidade de guerras tarifárias.
Quem paga a conta é o povo, com preços mais altos e empregos ameaçados. A crise não era inevitável; foi uma escolha política. Ao atacar os EUA, o governo Lula levou o Brasil para dentro da tempestade e, ao defender a indústria com protecionismo, deu munição a Washington. O resultado é uma tarifa de 50% que atinge a economia brasileira. É hora de rever a estratégia com humildade, pragmatismo e menos provocações.
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