OPINIÃO

Pastor Willy Gonzales Taco é engenheiro Civil pela Universidade Nacional de San Agustin de Arequipa UNSA, mestre em Transportes Urbanos pela Universidade de Brasília (UnB) e doutor em Engenharia de Transportes pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. Professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (ENC/UnB), Programa de Pós-Graduação em Transportes da Universidade de Brasília (PPGT/UnB). Foi coordenador do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes (Ceftru).

 

Pastor Willy Gonzales Taco

 

O Dia Mundial Sem Carro é uma celebração anual realizada a cada 22 de setembro. O objetivo do Dia Mundial Sem Carro é realizar ações para conscientizar a população sobre os efeitos negativos do uso generalizado do carro nas cidades, promovendo o uso de modos de transporte mais sustentáveis, como bicicleta, transporte público e caminhada. No decorrer das ações realizadas em várias cidades, ao redor do mundo, foi possivel que as pessoas vivenciassem um ambiente urbano mais tranquilo e menos poluído, demonstrando os potenciais benefícios da redução da dependência do automóvel. Essas ações não apenas destacam alternativas de transporte, mas também ressaltam o impacto positivo que elas têm na redução da poluição do ar e na promoção de um ambiente mais seguro para pedestres, ciclistas e no geral para as pessoas.

 

Embora, os ideais do Dia Mundial Sem Carro sejam muito louváveis, ocorre que a nossa realidade está muito distante de poder comemorar o dia com ao menos uma porcentagem da população deixando seu carro em casa e utilizando outras alternativas de deslocamento. Por um lado, as estatísticas mostram que o nosso dia a dia está fortemente ligado ao uso do automóvel, pois Brasília é uma das cidades com mais veículos por habitante no Brasil. Por outro, as políticas públicas em prol de uma mobilidade urbana mais sustentável são confundidas com a promoção de infraestruturas rodoviárias que fortalecem e priorizam o deslocamento por carro e favorecem o hábito de usar automóvel.

 

Diante disso, como fazer para que possamos atingir esses ideais e de forma livre e espontânea, sem somente um dia para se comemorar e tenhamos a possibilidade de escolher por outras alternativas de deslocamento como bicicleta, transporte público, caminhada, caronas solidárias e outros modos sustentáveis? Bem, entre as soluções que podem ser aplicadas num contexto da cidade, como dos seus polos geradores de viagens como a Universidade de Brasília, destaco dois procedimentos. Em primeiro lugar, devemos conhecer e compreender como se dão os deslocamentos e como é o comportamento de mobilidade da nossa população. Segundo, devemos desenvolver medidas interventivas para promover as práticas sustentáveis e desenvolver estratégias para prevenir e antecipar o uso generalizado do automóvel.

 

Nesse sentido, o Observatório da Mobilidade Segura, Saudável e Sustentável (Mob3S) da UnB, em 2023, realizou diversas pesquisas sobre Transportes e Mobilidade para compreender o comportamento dos padrões de mobilidade dos seus usuários, nos seus deslocamentos em direção ao campus e dentro dele. Os estudos mostraram que, para os deslocamentos em direção ao campus, 69% usam transporte público, 22% automóvel como motorista, 4% automóvel como passageiro (carona), 2,1% bicicleta própria, 0,6% bicicleta compartilhada, 1,2% a pé e 0,6% motocicleta. Quanto ao tempo de deslocamento, grande parte dos usuários de transporte público demoram no trajeto de vinda ao campus 90 minutos e acordam cedo, já os usuários de automóvel demoram 30 minutos. Em relação aos deslocamentos internos, isto é, as origens e os destinos das viagens iniciam e finalizam nos prédios do campus, 84,6% se deslocam a pé, 10,4% de automóvel, 2,7% de ônibus, 1% bicicleta compartilhada, 0,6% utilizando o transporte intracampi (branquinho).

 

Esses resultados dos padrões de comportamento da mobilidade dos usuários do campus serviram de base para elaboração do Plano Diretor do Campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília aprovado no ano de 2024 e válido para os próximos dez anos. Vale ressaltar que o desenvolvimento do Plano contou com a participação de diversos professores, técnicos alunos, especialistas liderados pelo professor Benny Schvarsberg. E, no que tange a ações, diretrizes e princípios, o Plano nos apresenta, com riqueza de detalhe nas escalas respectivas, o que pode ser feito para uma mobilidade sustentável.

 

Destaco aqui o item “6 - Gestão” do Plano Diretor, apenas para reforçar que a conscientização dos efeitos negativos da priorização do carro como modo de transporte, como preconiza o Dia Mundial Sem Carro, depende de uma ação coordenada entre os diversos atores da mobilidade urbana da nossa cidade. A criação de uma comissão permanente responsável na UnB pela interlocução com o Departamento de Trânsito (DETRAN-DF), Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), Secretaria de Transporte e Mobilidade (SEMOB), entre outros, nas ações em prol da gestão da infraestrutura segura, saudável e sustentável de transporte e mobilidade do campus. E, como está registrado no Plano, ações de coordenação com os entes responsáveis pela infraestrutura viária e de circulação de suporte ao sistema de transporte público e mudanças operacionais para um adequado serviço ao campus podem fortalecer a utilização de modos sustentáveis. Ainda, desenvolver parceria com empresas de bicicletas compartilhadas, patinetes elétricos para promover ações de segurança e economicidade dos deslocamentos ativos em direção ao/e no campus podem servir para antecipar o uso generalizado do automóvel em curtas e médias distâncias.

 

Finalmente, no Dia Mundial Sem Carro, data em que refletimos sobre as externalidades negativas da priorização do carro, desejo que o Plano Diretor do Campus Darcy Ribeiro seja utilizado como um instrumento norteador para uma mobilidade segura, saudável, sustentável e acessibilidade universal para todos os usuários da Universidade de Brasília.

 

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