Rodrigo Gurgel Gonçalves e André Elias Cavalcanti Bezerra Guedes
Em 2024 presenciamos a maior epidemia de dengue da história do Brasil. Foram registrados mais de 6,5 milhões de casos prováveis e 6 mil óbitos, valores muito superiores aos de 2023 (1,6 milhões de casos prováveis, 1179 óbitos). No Distrito Federal (DF) a situação foi crítica. Em 2024, o DF registrou aproximadamente 275 mil casos prováveis, representando um aumento expressivo em relação a 2023 (525%). A taxa de incidência da dengue no DF (9971,9 casos/100 mil habitantes, na faixa etária de 20 a 29 anos) foi a maior do Brasil. Além disso, o DF dividiu o pódio com Minas Gerais e Goiás como campeões de taxa de mortalidade. Como o DF chegou nessa situação em 2024?
As epidemias de dengue podem ser explicadas por fatores climáticos (aumento da temperatura/chuvas), biológicos (resistência dos mosquitos aos inseticidas, entrada de um novo sorotipo do vírus) e estruturais (saneamento básico inadequado, agentes de saúde insuficientes). A organização de governo impacta na eficácia das ações de controle de Aedes aegypti. Em meio à gravidade da epidemia de 2024, várias ações foram realizadas em nível federal e local. O Ministério da Saúde (MS) promoveu políticas para gerenciar epidemias de dengue, incluindo a criação de um Centro de Operações de Emergência e investimentos em inovação para prevenção da dengue. Várias tecnologias foram desenvolvidas para controlar Ae. aegypti. O Brasil foi o primeiro país a incorporar a vacina Takeda (TAK-003) ao sistema público de saúde, e a vacina Butantan está em fase de aprovação. Aumentar a cobertura vacinal e ampliar a implementação de novas tecnologias de controle de Ae. aegypti é o caminho para reduzir o número de casos de dengue no Brasil nos próximos anos.
Nos alegramos na esperança, pois novas tecnologias de controle de Ae. aegypti vêm sendo implementadas desde o segundo semestre de 2024 no DF. Para além disso, a contratação de 500 novos agentes de vigilância ambiental em saúde reforçou a cobertura de imóveis de acordo com as diretrizes do MS. Houve uma ampliação do monitoramento entomológico, das ações de educação, vacinação (TAK-003) e controle, incluindo a implantação de estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs), a execução de Borrifação Residual Intradomiciliar (BRI-Aedes) em ambientes de alta concentração de pessoas e a adoção do Método Wolbachia, com a instalação de biofábricas de mosquitos modificados (Wolbitos, “mosquitos amigos”) os quais estão sendo gradativamente soltos na capital com intuito de controlar a dengue. O resultado das ações foi evidenciado pela drástica redução no número de casos prováveis de dengue no DF em comparação ao mesmo período de 2024, passando de 275 mil para 10 mil casos prováveis.
Na Universidade de Brasília (UnB) também realizamos atividades de controle de mosquitos usando a tecnologia de EDLs entre agosto de 2024 e julho de 2025. Com apoio da Secretaria de Meio Ambiente (SeMA) e de um grupo de estudantes de pós-graduação, iniciação científica e extensão, realizamos um projeto de vigilância e controle com o objetivo de avaliar e comparar a eficácia de EDLs contendo diferentes produtos larvicidas sobre a densidade de mosquitos adultos nos quatro campus da UnB. Ao todo, foram instaladas 600 EDLs, que passaram por manutenções quinzenais. Paralelamente, as equipes realizaram coletas de mosquitos nas áreas de estudo, e o projeto foi divulgado à comunidade universitária por meio do perfil de Instagram @aedes_unb. Para além do fato de terem sido removidos milhares de mosquitos que circulavam nos espaços universitários, nossos resultados preliminares indicam que o larvicida alternativo que testamos foi eficaz ao reduzir a densidade de mosquitos na UnB, principalmente Ae. aegypti. Também percebemos uma boa aceitação da comunidade universitária em relação ao projeto.
Seja no nível federal (Brasil), distrital (DF) ou local (UnB), as estratégias coordenadas de controle foram fundamentais para a melhoria da situação epidemiológica em 2025. O sucesso obtido em 2025 e a previsão de uma incidência semanal abaixo do limite superior para 2025/2026 ilustram que devemos nos alegrar na esperança nesse Dia Mundial de Combate à Dengue e ainda perseverar com uma vigilância ativa, tecnológica e contínua, para que a UnB, o DF e o Brasil consigam reduzir o risco de epidemias nos próximos anos.
Saiba mais sobre a maior epidemia de dengue da história do Brasil.
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