Alunos e professores assistiram à palestra Desafios da democracia brasileira com o sociólogo e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jessé Souza. O evento, realizado no dia 6 de outubro, marcou a recepção aos calouros do Instituto de Ciência Política (IPol).
"Com mais de vinte livros publicados, Jessé é um dos mais importantes sociólogos contemporâneos", disse a professora Marilde Loiola.
"Passei vinte anos da minha vida aqui. Por isso, estar na UnB é algo afetivo pra mim. Fico contente", agradeceu o convidado, que é ex-aluno da Universidade de Brasília, onde, na década de 1980, fez a graduação em Direito e o mestrado em Sociologia.
Em duas horas, o palestrante falou sobre o que considera ser o principal problema da democracia brasileira: a desigualdade social e os discursos que a legitimam.
"As classes privilegiadas precisam convencer os destituídos de que o jogo é justo e razoável", afirma.
Crítico das teorias sociais brasileiras do século XX – de Gilberto Freyre a Roberto DaMatta – Jessé responsabiliza os "mitos nacionais" pelo atraso no desenvolvimento do país.
"Até hoje nos vemos da forma definida por Freyre e Buarque de Holanda, ou seja, como corpo e emoção, e, por isso, inferiores ao homem nórdico, considerado razão e espírito", disse.
"É necessário perceber a quem interessa essa narrativa. O mais importante na vida é invisível”, desafia o auditório, após criticar o monopólio do capital econômico e cultural no mundo.
Aos futuros cientistas políticos, o palestrante recomendou trabalho árduo e o cultivo da dúvida, postura fundamental para a ciência.
Ele destacou também a relevância da esfera pública para a democracia moderna. "Tão importante quanto o voto é o debate plural com opiniões contraditórias. Não temos isso no Brasil", criticou.
Professor da Universidade Federal Fluminense, Jessé Souza foi nomeado, neste ano, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A aula magna do IPol contou com a presença do reitor Ivan Camargo, da vice-reitora Sônia Báo e do diretor do IPol, Paulo Calmon.
FRASES DE JESSÉ
O mito é eficiente sem necessariamente ser verdade e influencia comportamentos ao ser institucionalizado.
As classes superiores são as classes do espírito, as classes inferiores são as classes do corpo, os trabalhadores manuais. A nossa narrativa é a do dominado inferiorizado que tem de idealizar outras sociedades.
Dentro dessa narrativa, temos uma classe média que posa de classe crítica e revolucionária, mas tem as mesmas concepções dos endinheirados – que não é uma classe alta, no sentido europeu do termo – e se locupleta do desenvolvimento desigual.
A sociedade brasileira, uma sociedade para 20%, tolera o lixo social, pessoas que foram abandonadas. E como elas são exploradas? Elas são exploradas no corpo, como os animais. Nós animalizamos parte substancial da sociedade brasileira.