A aula inaugural do primeiro semestre da Universidade de Brasília teve pelo menos três marcas: a da saudade, a do reconhecimento e a da provocação. Em mensagem permeada de lembranças da vida acadêmica, o governador do Distrito Federal e ex-estudante da UnB, Rodrigo Rollemberg, destacou a importância da academia no enfrentamento dos principais problemas do país. Aos estudantes, que lotaram o Centro Comunitário na manhã desta segunda-feira (9), pediu participação na vida pública. “Façam política, não necessariamente a partidária ou a estudantil”, disse.
A fala em tom de convocação foi precedida por uma análise do atual momento brasileiro. “O Brasil vive uma crise política, ética e econômica”, avaliou Rollemberg. O governador criticou o modelo de desenvolvimento nacional e disse que a sociedade sofre com a falta de planejamento. Para mudar esse quadro, classificou como indispensável o envolvimento da comunidade universitária e disse que a “UnB precisa se debruçar” na busca por soluções.
Para o governador, a instituição deve aumentar o diálogo com a sociedade e criar o ambiente necessário para formar “profissionais com novo padrão ético”, com mais interesses coletivos que individuais. O discurso destacou o valor da extensão, atividade que, ao lado de ensino e pesquisa, compõe o tripé da academia. “Precisamos de uma extensão libertadora, interativa, que permita a troca de conhecimento”, afirmou.
No encerramento da apresentação, após receber placa da Asssociação de Ex-alunos, recomendou que os estudantes aproveitem ao máximo os anos na instituição. “Essa será a fase mais rica da vida de vocês”, disse. Pouco depois, em entrevista à imprensa, classificou o sentimento de voltar à UnB como “maravilhoso” e afirmou que a administração pública precisa do “apoio cada vez maior da universidade”.
Rollemberg destacou ainda professores e ex-alunos da UnB que ocupam cargos importantes na atual gestão. Ele fez referência a Arthur Trindade, da pasta de Segurança Pública e Paz Social; a Leany Lemos, de Planejamento, Orçamento e Gestão; e a Paulo Salles, de Ciência, Tecnologia e Inovação.
VIDA DE ESTUDANTE – Graduado em História, Rodrigo Rollemberg disse ter vivido alguns de seus grandes momentos de vida na universidade da capital. Lembrou-se de passagens pelo movimento estudantil e confidenciou ter moldado suas convicções socialistas sob influência de professores como Adalgisa Vieira do Rosário, a quem fez menção especial e abraçou ao final da aula magna. Também foi na universidade que o governador conheceu a esposa, Márcia Rollemberg, mãe de seus três filhos.
O vínculo com a UnB começou antes da aprovação para o vestibular, em 1978. Ainda como estudante secundarista, na década de 1970, Rollemberg apoiou greves e movimentos de resistência ao regime militar. Além disso, estudou em escolas parque, criadas com a concepção de educadores como Anísio Teixeira, um dos pioneiros da universidade.
O apreço pela instituição, segundo o governador, esteve presente ao longo de sua trajetória política. “Sempre tive, tenho e terei em consideração o papel fundamental da UnB”, disse. Rollemberg foi deputado distrital, federal, senador e é governador do DF desde janeiro, pelo Partido Socialista Brasileiro.
Antes da aula magna, um grupo de estudantes protestou contra o corte no repasse de verbas do MEC e o processo de desocupação e transferência de comerciantes do Instituto Central de Ciências. Com placas e cartazes, os manifestantes gritaram palavras de ordem com críticas à administração e ao Diretório Central de Estudantes. O reitor Ivan Camargo ouviu a intervenção e pediu o encerramento do ato para que o governador pudesse anunciar a mensagem de boas-vindas.
Saiba mais sobre a cerimônia de boas-vindas no Centro Comunitário