AULA MAGNA

Diretora e protagonista do filme Que Horas Ela Volta? conversam com calouros

 

Foto: Beatriz Ferraz / Secom UnB

 

Diversidade, respeito a questões de gênero, superação de divisões sociais e de classe. Essa foi a tônica da aula magna noturna da Universidade de Brasília (UnB), ocorrida nesta segunda-feira, 8 de agosto. Os calouros foram recebidos na instituição com bate-papo entre a diretora do filme Que Horas Ela Volta?, Anna Muylaert, a atriz e egressa da UnB Camila Márdila e a professora de Audiovisual da Faculdade de Comunicação Érika Bauer. O trio debateu a película, lançada em 2015, que trata de estratificação social, superação e inclusão no ensino superior.

 

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Neste semestre, a Universidade recebeu 4.212 calouros. Os novos estudantes foram recepcionados com a campanha UnB Diversa e Plural, que reforça o papel da instituição de abarcar variedade de credos, gêneros, orientação sexual, raças e faixas de renda.

"Outras universidades devem debater o Diversa e Plural", Camila Cerqueira. Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

“Outras universidades deveriam adotar a campanha Diversa e Plural, porque existem atos de preconceito”, declara Camila Cerqueira, 19 anos, caloura do curso de Física. “São importantes ações para reforçar a diversidade, deixar as pessoas livres para serem o que são e o que não são”. Acerca da hegemonia masculina no curso de Física, Camila afirma que tem uma única expectativa: “Só espero que me tratem igual aos outros”.

 

A abertura do evento coube aos estudantes do Projeto Mesclar, programa de extensão desenvolvido na Faculdade de Educação Física que une atividades circenses e musicais. Houve também apresentação do grupo de chorinho C’est La Bohemia

 

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Deram as boas-vindas aos calouros o reitor em exercício, Luís Afonso Bermúdez; o coordenador geral do Diretório dos Estudantes (DCE), Victor Aguiar; o decano de Planejamento e Orçamento (DPO), Cesar Augusto Tibúrcio; e a decana de Assuntos Comunitários (DAC), Thérèse Hofmann. Também estavam presentes a diretora de Capacitação e Formação Continuada (Interfoco), Janaína de Aquino Ferraz, representando o Decanato de Extensão (DEX); o decano de Pesquisa e Pós-graduação (DPP), Jaime Martins de Santana; e o decano de Ensino de Graduação (DEG), Mauro Rabelo.

Reitor em exercício e decanos dão boas-vindas aos calouros. Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

O reitor em exercício recepcionou os presentes afirmando que eles encontrarão diversidade de pessoas e saberes na UnB. “Serão os melhores anos da vida de vocês. Queremos que saiam daqui com toda diversidade e pluralidade de pensamento e repassem isso para a comunidade. Este é o esforço desta instituição pública e gratuita de ensino”, afirmou Bermúdez.


A decana Thérèse Hofmann, do DAC, afirmou que a diversidade está prevista na Constituição Federal. “Nosso desafio é tirar do discurso e colocar em prática. Precisamos saber conviver e respeitar. Não aceitem violência, não aceitem desrespeito. Não ao trote violento”.


DIVERSIDADE – O decano de Ensino de Graduação, Mauro Rabelo, reforçou que a UnB é a nona melhor instituição de ensino superior da América Latina e a quarta do Brasil. “Queremos ser a número um do país e precisamos de vocês para isso”, falou aos alunos. “Aqui vocês vão fazer amizades, aprender com o outro, com a diferença e, acima de tudo, vão se conhecer”. 

 

“É super importante aceitar as pessoas como elas são. Não tenho condição de julgar ninguém com base nos meus parâmetros, porque eles são muito limitados”, aponta Ana Cristina Pimentel, 28 anos, caloura de Pedagogia. Convertida ao islamismo há três anos, a estudante tem planos de provocar mudanças no sistema educacional. “É muito difícil a inserção de uma mulher muçulmana no mercado de trabalho brasileiro. Quero fazer parte dessa transformação para uma nova geração”, declara.

Caloura Ana Cristina Pimentel: "Acho que a UnB lida bem com a diversidade". Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

Ana Cristina relata que amigas muçulmanas já foram vítimas de preconceito religioso em Brasília. “Tenho medo de andar sozinha na cidade. Precisamos debater a ignorância e a intolerância. Uso o véu porque é uma demonstração de fé e não de opressão como as pessoas acreditam”, ressalta. “O lugar em que me sinto menos deslocada em Brasília é na UnB”, destaca.

 

ENSINO SUPERIOR – A conversa entre Muylaert, Márdila e Bauer foi pontuada por trechos do filme Que Horas Ela Volta?. Na primeira cena, Jéssica, a personagem de Márdila, conta aos patrões da mãe, a empregada doméstica Val (Regina Casé), que pretende prestar vestibular para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU – USP). E enfrenta o ceticismo deles acerca de sua ambição e capacidade para alcançar o plano, afinal “é a universidade mais difícil do país”, como fala o personagem Fabinho (Michel Joelsas), filho dos patrões.

 

“Jéssica reúne uma ideia de inteligência e sabedoria que eu defendia muito durante a UnB. Inteligência não vem só de cuspe e giz, vem da vivência”, comenta Camila Márdila. "Tenho relação afetiva muito forte com a Universidade. A questão da convivência, das amizades que foram feitas, dos pensamentos que foram trocados, das ideias que foram construídas. A UnB significa lugar de encontro. O conhecimento vem disso", continua.


Anna Muylaert conta que demorou 19 anos para produzir o roteiro do filme. Começou a escrever logo depois de o filho nascer. “Naquela época, passei a ver a questão da maternidade, da empregada doméstica, do separativismo social”, descreve. As personagens Val e Jéssica evoluíram ao longo dos anos.


“No início, Val e Jéssica se fundiam em um único personagem. Eram duas forças: a que seguia a maldição social de ser empregada doméstica e a que buscava a subversão. Seu processo de evolução se daria pelo realismo fantástico. Naquela época, eu precisava desse mecanismo para pensar a ascensão da personagem”, descreve.

João Batista crê que o debate sobre diversidade é importante para a sociedade. Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

Depois de vislumbrar outras possibilidades, Muylaert, finalmente, concluiu que Jéssica venceria a “maldição” de repetir o ciclo de submissão e, via ingresso no Ensino Superior, deixaria de ser “cidadã de segunda classe”. “Depois do filme, conheci as Jéssicas que existem e vi que não era utopia. Era uma realidade”, afirma. 

 

“Sempre tive sonho de entrar em uma universidade de qualidade e gratuita, em que não teria a preocupação de pagar uma mensalidade pelo meu ensino”, diz João Batista, 19 anos, calouro de Farmácia. Ele escolheu o curso pelas possibilidades profissionais. “Li que são mais de 70 áreas de ocupação para essa graduação”, conta. 

 

MATERNIDADE – Outra cena do filme apresentada mostra conversa entre Val e Jéssica sobre Jorge, neto que Val desconhecia ter. “Acho que faz referência ao fato de como é contraditório o espaço de maternidade. Acho que as universidades não estão preparadas para isto e precisam se adaptar. Ainda é um choque que uma estudante leve o filho para a sala de aula, ou que uma funcionária leve uma criança para o trabalho. Só prossegue os estudos quem consegue pagar uma babá. É preciso criar espaços, porque, senão, a maternidade vira uma maldição”, declara Camila Márdila.