Professores da Educação Básica ganharam mais um aliado para aprimorar as metodologias de ensino e inclusão para estudantes com deficiência intelectual, como a Síndrome de Down, nas escolas. Uma das novidades desenvolvidas pela equipe do Projeto Participar, iniciativa nascida no Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília, o software Organizar oferece auxílio para o aprendizado de tarefas simples realizadas no dia a dia, como o gerenciamento do tempo e noções básicas sobre clima e estações do ano.
“O software não é meramente conteudista, mas mantém como principal vertente a aplicabilidade social dos conteúdos aprendidos, principalmente no cotidiano fora das escolas, com a finalidade de fomentar a interação e a inclusão social desses estudantes. São conteúdos de vida”, explica o coordenador do projeto e professor do Departamento de Ciência da Computação, Wilson Henrique Veneziano.
Entre as principais funcionalidades, uma agenda eletrônica possibilita aos estudantes com deficiência intelectual controlarem seus compromissos rotineiros como os horários de transporte escolar, das refeições, de tomar seus medicamentos, entre outros. Umas das lições também oferece informações sobre as quatro estações do ano, relacionando com as condições climáticas de cada uma e as roupas adequadas para uso. Os usuários podem aprender ainda questões básicas a respeito do calendário, como dia da semana, dia do mês, número e nome do mês e do ano.
Além de se aproximar da realidade cotidiana de pessoas com déficit de aprendizado, também são diferenciais da ferramenta o fato de favorecer a identificação dos usuários com as experiências e ambientes reais retratados e de estimular a cognição com interatividade, por meio de recursos audiovisuais como vídeos explicativos e motivacionais.
O software, disponível para tablets com sistema Android, levou cerca de um ano e meio para ser desenvolvido. Junto ao professor Veneziano, uma equipe de voluntários – composta por designers gráficos, pedagogos, produtores de vídeo, estudantes do curso de Licenciatura em Computação da UnB e atores com Síndrome de Down – foi responsável por conceber os vídeos, fazer a programação visual das telas e desenvolver as funcionalidades e conteúdos pedagógicos.
Para adaptar os recursos às necessidades de aprendizado desses estudantes, especialistas pesquisaram os requisitos educacionais previstos no currículo funcional do Ministério da Educação. Dois atores com Síndrome de Down foram convidados para gravar os vídeos explicativos, estratégia que contribui para maior aceitação dos conteúdos pelos usuários. “Isso favorece o estabelecimento de um laço afetivo com os estudantes com deficiência intelectual, visto que a afetividade é um ponto importante no processo educacional desse público”, alega Veneziano.
A estudante com Síndrome de Down Bruna Saraiva Camargo participou da gravação dos vídeos do Organizar e conta como foi a experiência: “Foi muito legal. Eu decorei tudo. Foi o máximo. É bom ajudar as pessoas”.
PROJETO – Criado em 2011, o projeto Participar surgiu com o intuito de criar softwares educacionais oferecidos gratuitamente para atender pessoas com deficiência intelectual e autismo e possibilitar a inclusão no ambiente escolar. Além do Organizar, outros cinco softwares já foram desenvolvidos pela equipe e disponibilizados para download gratuito no site do projeto.
Um deles, o Somar se propõe a capacitar os estudantes no domínio de habilidades relacionadas à matemática que possam ser aplicadas em situações rotineiras. As lições contemplam aspectos como o uso da calculadora como tecnologia assistiva para realização de tarefas básicas como compras em supermercados e uso das células monetárias.
Os softwares do projeto são inéditos no Brasil. Instituições de ensino público e organizações não governamentais não só brasileiras, mas de outros países, como Portugal e Angola, já estão usando as tecnologias em sala de aula. Todas foram testadas em escolas do Distrito Federal que atendem a esse público, com o acompanhamento de professores especializados que aprovaram os produtos. Para Veneziano, os e-mails que recebeu nos últimos meses com relatos positivos de quem inclui o instrumento de aprendizado em sala de aula comprovam o progresso educacional que podem proporcionar aos estudantes.
Adriana Lúcia Pereira Góes é uma das professoras que puderam testar a plataforma Organizar na escola pública onde leciona. A professora da Secretaria de Educação do DF avalia que, além de atrair a atenção dos estudantes, houve uma interação dinâmica dos usuários com o produto. “Essa interação consegue manter a concentração e permite que, por meio das imagens e visualização, a aprendizagem aconteça de forma mais rápida”, avalia.
Os softwares Organizar e Somar serão lançados oficialmente na terça-feira (18), às 14h30, em evento no auditório do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da UnB. Também há previsão de lançamento de dois softwares voltados para estudantes autistas em dezembro e outros dois no primeiro semestre de 2017.
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