BALANÇO

Ao completarem três anos de gestão, reitor e vice-reitora da UnB destacam resultados obtidos a partir de proposta de reorganização administrativa

Foto: Julio minasi/UnB Agência

 

A sensação é de dever parcialmente cumprido. Preparados para iniciar o quarto ano de mandato, a atual gestão da Universidade de Brasília enumera conquistas com a consciência de que ainda há muito por fazer. Em entrevista à Secretaria de Comunicação, o reitor Ivan Camargo e a vice-reitora Sônia Báo demonstram satisfação com avanços nas áreas acadêmicas e administrativas e apontam desafios para 2016.

 

O desempenho em indicadores acadêmicos, os investimentos em infraestrutura e a regularização da força de trabalho da Universidade foram alguns dos aspectos ressaltados pelos gestores. “Tenho a sensação de que estamos cumprindo o que propomos e obtendo sucesso na missão de colocar ordem na casa”, avalia Ivan Camargo. “A melhora de índices acadêmicos está diretamente relacionada à valorização do processo de coleta e disponibilização dos dados institucionais”, afirma Sônia Báo.

 

Entre as dificuldades elencadas estão o desequilíbrio entre receitas e despesas e a necessidade de expandir as instalações. “Os campi precisam de mais espaço para os seus laboratórios, suas pesquisas, seus estudantes”, reconhece o reitor.

 

A atual gestão completa três anos de mandato nesta sexta-feira (20).

 

Que ações os senhores destacam nesses três anos à frente da UnB?

 

Ivan Camargo: Tenho a sensação de que estamos cumprindo o que propomos e obtendo sucesso na missão de colocar ordem na casa. Não na velocidade que gostaríamos, mas sempre de forma sistemática. Resolver a questão orçamentária, que estava completamente desequilibrada, era fundamental. Foi feito um processo para revisar todos os contratos, não fazer contratos emergenciais e respeitar cada centavo do dinheiro público. As economias que conseguimos fazer nas contas de energia e de telefone, quase desprezíveis em relação ao tamanho do orçamento da Universidade, mas que fazem a diferença, apontam para a direção correta. É o caminho do cuidar com zelo, trilhado com cada departamento, com cada decanato e que vai mudar a cara da Universidade em médio prazo. Diferente das outras instituições federais de ensino, a UnB tem receita e patrimônio próprios, além da verba repassada pelo Ministério da Educação (MEC). Esse patrimônio não pode ser gasto com as despesas do dia a dia. É preciso transformá-lo em investimentos, aplicá-los para melhorar a infraestrutura da Universidade. Isso vai fazer a diferença. Mas é um projeto a ser desenvolvido em médio e longo prazo e que a gente espera ter continuidade.

 

Sônia Báo: Organizar as questões que envolvem infraestrutura não é área fácil no nosso país, especialmente no serviço público e nas instituições federais de ensino. As demandas são diárias e isso requer muito planejamento e organização para atendê-las na velocidade que surgem. A UnB dependia dos serviços de pessoas que não eram da Universidade e não havia organização sistematizada. A substituição desses trabalhadores e a montagem de uma instituição formada por servidores públicos, propriamente dita, foi uma etapa que tivemos que vencer. O trabalho de organizar a casa foi um começar novamente, estabelecer novo planejamento para que, posteriormente, possa se dar maior velocidade para a execução das demandas.

Sônia Báo: organização contribui para melhorar avaliações externas. Foto: Julio minasi/UnB Agência

 

A elevação de indicadores acadêmicos e a regularização da força de trabalho são os principais pontos a se destacar no terceiro ano da gestão?

 

Ivan Camargo: Sem dúvida nenhuma. E esse era o marco, o objetivo de base da candidatura. A Administração se responsabiliza pela arrumação da casa e isso oferece tempo e tranquilidade para o professor se dedicar à pesquisa, à extensão, à qualificação. Ainda temos longo caminho pela frente, mas a organização deu mais liberdade aos alunos, aos professores e isso começa a se refletir nos rankings de avaliação. Mesmo melhorando em alguns índices, confesso que a UnB estar entre as 500 melhores universidades do mundo não é um fato a se comemorar. É um objetivo muito pequeno para uma universidade na capital do Brasil. Temos que estar entre as cem. E em dez ou 15 anos estaremos lá. É só continuarmos nessa direção, privilegiando o mérito, a academia, elevando a autoestima dos grandes nomes que temos aqui, dando condições de trabalho aos nossos professores, valorizando e formando nossos alunos com qualidade.

 

Sônia Báo: A melhoria de índices acadêmicos está diretamente relacionada à valorização do processo de coleta e disponibilização dos dados institucionais. Toda a equipe trabalhou nessa tarefa, que envolveu professores e técnico-administrativos. Sempre que houve demandas por dados institucionais, essas informações foram fornecidas, reconhecendo a extrema importância dos sistemas de avaliação, parte integrante do ensino. Só melhoramos, conseguimos traçar novos rumos e novas metas quando o sistema de avaliação interna casa-se com o sistema de avaliação externa. Isso também faz parte da valorização do mérito, do acadêmico.

 

Qual a importância do envolvimento da comunidade acadêmica nos processos de avaliação da Universidade?

 

Ivan Camargo: Esse ponto me parece essencial, a gente levar a sério a avaliação. Ser responsável pelos dados, conferir as informações. É fundamental passar o dado certo, com precisão, com fidelidade. Outro ponto importantíssimo, nas vésperas do Enade, é preciso ter clareza que a maioria dos estudantes do Ensino Superior no Brasil está em instituições privadas. Temos a obrigação de ser referência. Temos que dar o nosso máximo, o melhor possível, para que todas as universidades pensem: é isso que queremos alcançar, essa é uma universidade modelo.

 

Sônia Báo: Temos organizado esses dados de forma sistemática, com o auxílio do Decanato de Ensino de Graduação no âmbito da graduação e com o Decanato de Pesquisa e Pós-graduação em relação aos programas de mestrado e doutorado. Isso envolve  mudança de cultura de toda a comunidade da UnB. O sucesso que a gente tem conseguido nesses processos de avaliação está ligado ao trabalho com os coordenadores, com os estudantes, com os professores. Agora, quem nos avalia, de fato, é a própria sociedade, muito mais que um formulário, um padrão, uma prova. O que fica ao longo do tempo é como a sociedade enxerga a Universidade, sua importância, a valorização do profissional que sai daqui e consegue mudar as pequenas coisas do dia a dia.

 

A infraestrutura vem sendo um dos gargalos enfrentados pela gestão. Nos últimos 12 meses, o que mudou nesse cenário e o que ainda é desafio?

 

Ivan Camargo: Reforço que a maior mudança foi na organização. Agora, temos estruturas sem servidores precarizados. A conformidade legal é essencial para a continuidade do funcionamento da Universidade. Essa é a grande mudança. Embora, em 2015, o andamento das demandas tenha sido prejudicado pela greve, avançamos em termos de organização. Mas não podemos nos contentar com a estrutura atual. A Universidade de Brasília tem que se expandir. Os campi precisam de mais espaço para os seus laboratórios, suas pesquisas, seus estudantes. Não faz sentido, por exemplo, a UnB triplicar de tamanho e manter o mesmo Restaurante Universitário no campus Darcy Ribeiro. São questões que não estão na pauta de curto prazo, mas precisamos pensar. O que posso dizer, hoje, é que a situação melhorou muito, principalmente, em termos organizacionais.

 

Sônia Báo: A organização foi a nossa aposta. Neste segundo semestre, inauguramos uma série de obras que estavam em curso há um bom período. Não se faz reforma em prazo curto. O processo é complexo, são recursos que vem de diferentes fontes, com diferentes ritos de aplicação, formas de licitação e de prestação de contas. Para tudo isso, temos que nos organizar. Em 2015, entregamos pelo menos dez obras  à comunidade, o possível dentro da realidade da Universidade. Vamos continuar no ritmo dessa organização e esperamos que, no próximo ano, outras obras se concretizem.

Reitor e vice enxergam comunidade comprometida e mais harmonia no campus. Foto: Julio minasi/UnB Agência

 

Qual é o caminho para ampliar os espaços físicos, a infraestrutura?

 

Ivan Camargo: É justamente arrumar a casa e ter austeridade no uso do dinheiro público em custeio. Arrumar a casa não só aqui, na Reitoria. É o contato com cada um dos diretores para que alcancemos o objetivo de não gastar todo o dinheiro da Universidade com as despesas de pessoal, de materiais. O ideal é destinar o que nos é mandado pelo MEC para o custeio e não usar os nossos recursos próprios para esse fim. Assim, irá sobrar dinheiro para investir em infraestrutura. Com estrutura física mais ampla e adequada, conseguimos cumprir o objetivo da Universidade: formar melhor nossos alunos, dar condições para nossos professores, que já são muito capacitados, desenvolverem mais projetos. Assim, a UnB será, em pouco tempo, a melhor universidade do Brasil. Esse tem que ser o objetivo coletivo e acadêmico da Universidade.

 

Quais são as perspectivas para a chegada de mais técnico-administrativos em 2016? O número de vagas disponibilizadas pelo governo federal ao longo desse processo de regularização da mão de obra irá atender às demandas da Universidade?

 

Ivan Camargo:  O MEC e o Ministério do Planejamento cumpriram integralmente o que foi acordado. Nós também cumprimos a nossa parte. Evidentemente, áreas específicas vão precisar de mais servidores, mas vamos trabalhar com remanejamento interno para readequar as situações. O processo de regularização da mão de obra foi grande e não ficou restrito aos departamentos internos da UnB. Tivemos avanços importantes com a criação de uma OS (Cebraspe) para administrar o Cespe e com a Ebserh, que assumiu a gestão do nosso Hospital Universitário. Com as vagas de concurso, estamos voltando a ter um padrão de servidores por aluno parecido com a média nacional, porque antes o quantitativo era muito menor. Teremos que nos adaptar a essa nova realidade, e o período de transição será difícil, mas acho que tudo irá se encaminhar.

 

Sônia Báo: Entrar na Universidade de Brasília é uma grande conquista e um grande privilégio. Você vai fazer parte do corpo, da força de trabalho de uma instituição nacional, na capital do país. E os novos concursados estão sendo bem recebidos, bem ambientados e contamos com os que já estão aqui para a inserção desses novos servidores na rotina de trabalho. Não posso deixar de considerar que, no contexto do serviço público, existe uma diferença salarial entre outros setores e as universidades. Por isso, temos uma renovação constante do nosso quadro. Esse processo é algo que continuará acontecendo e temos que lidar com isso. Mas os servidores que aqui se inserem são capacitados, com enorme potencial e muitos se apaixonam pela UnB e aqui permanecem.

 

Em que medida o contexto econômico do país afetou a Universidade?

 

Ivan Camargo: Afetou duplamente. Estávamos desequilibrados, gastando mais do que recebíamos, com saldo negativo. Com cortes nos repasses, a situação ficou mais difícil ainda. Felizmente, as negociações com o MEC têm sido positivas, temos mostrado os resultados e o Ministério da Educação tem visto a mudança de postura da UnB. Já fechamos 2015 em termos orçamentários, falta o fechamento financeiro, ou seja, pagar as contas. Não foi um ano fácil. Costumávamos pedir dinheiro para o MEC em agosto; em 2015, começamos em janeiro. E tudo leva a crer que 2016 continuará com muita restrição. E manter uma universidade tem alto custo. Fazer pesquisa é muito caro, laboratórios são caros e, por isso, a gente precisa de regularidade, de um financiamento da Universidade.

 

Nos últimos anos, a Universidades recebeu a visita de vencedores do Prêmio Nobel, sediou congressos, encontros e fóruns internacionais e firmou parcerias com instituições estrangeiras. Como os senhores avaliam o atual momento de internacionalização da UnB?

 

Ivan Camargo: Tivemos o prazer de receber várias autoridades, do mundo inteiro. Estar em Brasília é um privilégio, reitores de diversos países vêm às suas embaixadas e, consequentemente, visitam a UnB. Recebemos representantes da Austrália, Nepal, China, Estônia, Japão, Rússia, além de pesquisadores de Harvard, Berlim, Paris... Espero que os nossos estudantes percebam isso. Não é fácil trazer uma grande autoridade para o Brasil e isso está acontecendo. A internacionalização passa também pelo intercâmbio de alunos, de professores, de conhecimento. Precisamos colocar os professores da UnB em contato com docentes de instituições internacionais, para que desenvolvam trabalhos conjuntos. Nosso número de internacionalização ainda é pequeno, o Brasil está longe da comunidade europeia, da comunidade norte-americana, tem a barreira da língua, mas podemos avançar. Já contamos com uma inserção muito grande de alunos dos países da América Latina nos nossos programas de pós-graduação, e temos que continuar avançando. Não sei quando isso irá se refletir nos índices, mas acho que nesses três anos trilhamos alguns caminhos.

 

Sônia Báo: Conseguimos desmitificar essa questão e fazer muitas interações. A Universidade tem que ter a internacionalização como meta. Por estar na capital do país, perto das embaixadas, isso é quase obrigação para a UnB. Acredito que o desempenho não satisfatório da Universidade nesse quesito está relacionado à disponibilização dos dados. Precisamos melhorar nesse ponto. Cada fonte tem uma maneira de captar as informações, algumas são disponibilizadas de forma clara, outras não, e isso acaba não trazendo o resultado que gostaríamos. De toda forma, nos últimos anos, esse processo de internacionalização se ampliou e espero que isso valorize os nossos dados.

 

Que metas que os senhores almejam alcançar no quarto ano desta gestão?

 

Ivan Camargo: Em termos acadêmicos, temos que continuar confiando na base, nos professores, nos coordenadores, nos grupos de pesquisa, pois estão avançando muito bem. Em termos de infraestrutura, acho que vamos consolidar a organização que fizemos neste ano com obras no ano que vem. Outro ponto importante é transformar o nosso patrimônio em receita, pois esse processo vai acelerar a reorganização da Universidade. Isso precisa ser feito, claro, depois de muita discussão e de forma bastante transparente.

 

Sônia Báo: Tem muito a ser feito. Conseguimos dar norte para uma série de coisas, precisamos garantir que esse caminho tenha continuidade. Teremos mais cursos avaliados, continuando esse processo com a seriedade que ele foi conduzido ao longo desse tempo. No próximo ano, inicia-se nova avaliação para os programas de pós-graduação, temos que dar atenção ao processo. Em termos acadêmicos, a gente está concluindo no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) a aprovação dos projetos político-pedagógicos dos cursos mais novos, criados pelo programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Novos projetos foram discutidos e construídos dentro das unidades, em relação aos cursos mais antigos. Isso é o que mantém a Universidade viva. Em termos administrativos, espero fechar os regimentos das unidades acadêmicas, os que chegaram ao Conselho Universitário (Consuni) e os que estão nas comissões de trabalho, que ainda iremos pautar. Na infraestrutura, encaminharemos os processos assim que tivermos orçamentos.

 

Os senhores estão satisfeitos com os resultados obtidos até agora? O desafio está sendo mais difícil que o esperado?

 

Ivan Camargo: O desafio, sem dúvida nenhuma, é maior que eu imaginava, mas estou muito satisfeito. Temos uma equipe trabalhando coordenada, desempenhando suas funções e dando o máximo que podem. Contamos com a confiança da comunidade acadêmica e isso dá, de certa forma, o que é mais importante: clima de paz, de harmonia, que a gente precisa preservar. No momento em que o país está todo em tensão, é importante distensionar. Pensar diferente é muito bom, a liberdade de pensamento é essencial, mas é preciso construir um ambiente agradável para discordar, para pensar diferente, para falar sobre o que se pensa. Esse foi um avanço enorme que conseguimos.

 

Sônia Báo: Eu estou sentindo harmonia no campus, que há paz, que o relacionamento entre as pessoas está mais cordial. Não sei muito como medir ou expressar isso, é um sentimento. E estou bem, gosto de vir para a UnB para estudar, trabalhar. Paz e harmonia são as coisas que talvez mais me deem satisfação nesse processo, que não é simples. É um desafio e tanto. Você trabalha muito e as conquistas são pequenininhas. Só que eu também acredito que o todo se faz de coisas pequenas. A missão é mais complexa que eu imaginava pelas dificuldades do dia a dia. Mas seguimos.

 

Qual recado vocês deixam para a comunidade acadêmica ao final deste período da gestão?

 

Ivan Camargo: Vamos continuar porque nossa batalha vale demais a pena. Temos a missão de formar e transformar o Brasil.

 

Sônia Báo: E essa transformação depende de toda a comunidade da UnB, de todos perseguindo a mesma coisa: qualidade do trabalho, aceitar o diferente, o diverso e mirar os cidadãos, porque tudo o que a gente faz aqui é voltado para o benefício da sociedade.

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