MEIO AMBIENTE

Estudantes e docentes participam de atividades do fóruns Mundial e Alternativo Mundial da Água, que ocorrem em Brasília entre os dias 18 e 23 de março

 

Vista do Lago Paranoá: águas que representam Brasília. Neste ano, cidade sedia dois importantes eventos mundiais para discutir a situação dos recursos hídricos. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Lavar as mãos, tomar banho, se hidratar, limpar a casa, irrigar plantações, produzir alimentos e bens de consumo, gerar energia. Essas são apenas algumas das inúmeras atividades cotidianas que dependem de um dos recursos mais estimados no planeta: a água. Apesar de essencial para manutenção da vida, a situação dos recursos hídricos tem se mostrado cada vez mais preocupante em todo o mundo.

 

Atualmente, o Brasil é um dos países com maior disponibilidade de água doce no planeta, mas enfrenta desafios para administrar os atuais impactos sobre o recurso. O aumento da demanda, a distribuição desigual das bacias hidrográficas pelo território, o uso em atividades econômicas variadas, a qualidade comprometida dos serviços de saneamento e da própria água que chega aos consumidores, as alterações nas dinâmicas de precipitação, além da falta de planejamento na gestão hídrica são apenas alguns dos fatores que têm acenado para um cenário de crise no país.

 

No Distrito Federal, a redução drástica do volume dos principais reservatórios de abastecimento desde 2016 marcou o pior quadro de escassez de água na história. Embora haja esforços para aumentar a capacidade de produção do recurso e reduzir o consumo, a situação ainda não foi contornada. Uma das hipóteses para a concretização do cenário é a alteração no regime de chuvas na região, problema que se estende a outras áreas de Cerrado. As precipitações no bioma tiveram redução de 8,4% em 33 anos (1977-2010), segundo pesquisa de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais (PGEFL) da UnB.

 

É em meio a esse cenário que, a partir deste fim de semana, a capital federal centralizará as discussões mais importantes do planeta sobre a água, ao sediar o 8º Fórum Mundial da Água (FMA) e o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA). Os eventos, que ocorrem em datas paralelas, contarão com a participação de docentes e estudantes da UnB para discutir o presente e o futuro do recurso fundamental, a partir de abordagens distintas. 

Compartilhando água é o tema do 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília. Arte: Divulgação

 

FMA – É a primeira vez que um país do hemisfério sul recebe uma edição do Fórum Mundial da Água, um dos maiores e principais eventos em nível internacional para diálogo e estabelecimento de compromissos políticos relacionados à água. Organizado pelo Conselho Mundial da Água junto aos governos federal e distrital, o evento é norteado pelo tema Compartilhando água. A programação vai de 18 a 23 de março, com atividades no Centro de Convenções Ulysses Guimarães e no Estádio Nacional de Brasília, o Mané Garrincha.

 

Professores da Universidade têm presença confirmada em espaços temáticos do fórum, e estão envolvidos na organização dessas e de outras atividades relacionadas, definindo temas, tópicos e sessões, além de participarem como palestrantes. Membro da comissão responsável pela preparação do programa temático, o professor Dirceu Reis, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (ENC) da UnB, destaca a importância da inserção da comunidade acadêmica no evento. “É como se estivéssemos colocando a voz da UnB dentro das discussões de como o fórum tem que ser organizado e o que deve ser discutido sobre este tema tão fundamental”, afirma.

 

Além disso, o docente considera este um espaço de interlocução com profissionais atuantes na área. “Os professores que estão participando da organização estão tendo uma comunicação mais ativa e efetiva com pessoas que lidam com a gestão da água no mundo todo."

 

Outra intervenção da UnB no espaço ocorrerá no Mercado de Soluções, ambiente de acesso gratuito que será montado no estádio Mané Garrincha, como parte da Vila Cidadã. No local, serão apresentadas propostas de soluções para a questão da água, amparadas por tecnologias socioambientais. Docentes da Universidade estarão com dois estandes no local para a exposição de seus projetos. Estudantes de graduação e pós-graduação também terão espaço em atividades do FMA, participando como relatores e, posteriormente, replicando a experiência em sala de aula.

 

O projeto Conecta Doze, desenvolvido pelo Parque de Inovação e Sustentabilidade do Ambiente Construído (Pisac) da UnB, em parceria com o Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade (Cirat), também selecionou doze estudantes de graduação da Universidade e de outras instituições do DF para participarem de ação durante o fórum. Programada para o dia 19 de março, das 14h às 17h, na Vila Cidadã, a atividade visa a integração de alunos da região com os de outros países, em torno do debate sobre a participação na gestão da água. A iniciativa será realizada simultaneamente em outras cidades do mundo, com transmissão por videoconferência.

 

“Teremos a oportunidade de demonstrar como acontece a gestão da água em diferentes locais, quais são os gargalos e pontos de alavancagem", explica a professora Vitória Ferrari, vice-coordenadora do Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade (Lacis), envolvido na ação. Os relatos e as soluções apontadas contribuirão para aprimorar o conhecimento dos alunos sobre o assunto "Queremos trocar informações para enriquecer as experiências de ambos os lados, em um processo colaborativo e cooperativo para melhorar a capacidade de gestão hídrica e a formação de todos os participantes sobre esse recurso, que é finito", detalha. 

Água é direito, não mercadoria é o tema do Fórum Alternativo Mundial da Água 2018, em Brasília. Arte: Divulgação

 

FAMA – Representantes da comunidade acadêmica também estão envolvidos na organização do Fórum Alternativo Mundial da Água, que será realizado no mesmo período que o 8º FMA. Com o mote Água é direito, não mercadoria, as atividades acontecerão nos dias 17, 18 e 19 de março no campus Darcy Ribeiro da UnB, e de 20 a 22 de março no Parque da Cidade.

 

Nesta edição, serão discutidos problemas relacionados à água e ao saneamento como direito fundamental, em busca de soluções que representem sustentabilidade e segurança hídrica. Também serão debatidos temas como A água como direito, Estratégias do capital sobre a água e Projeto dos povos para a água.

 

O professor Perci Coelho, do Departamento de Serviço Social (SER) da UnB, coordena o projeto de extensão O grito social das águas urbanas de Planaltina, Paranoá e Itapoã, que articula movimentos sociais e ambiente acadêmico na luta por direitos socioambientais. Para ele, o Fórum Alternativo é uma oportunidade de diálogo entre diferentes áreas de conhecimento em que a UnB é referência e sujeitos diretamente atingidos por tragédias e pela crise hídrica. “A Universidade de Brasília é uma instituição pública sensível à água, ou seja, que se engaja na luta pela defesa deste recurso como direito, e não como mercadoria”, destaca.

 

Perci é um dos representantes da UnB na organização do FAMA. Para ele, "o mercado é incapaz de solucionar o problema do acesso à água potável”, por isso, o potencial do evento em apresentar alternativas ligadas a tecnologias alternativas de pequeno porte, por exemplo, é um grande diferencial. “As discussões que realizaremos e as soluções que vamos propor não serão necessariamente técnicas, mas estarão relacionadas a um manifesto de contraposição política ao modelo de desenvolvimento econômico que coloca a vida e a água em segundo plano”, define.

 

A professora Cristina Célia Brandão, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (ENC), também está envolvida na preparação da UnB para o FAMA. De acordo com ela, as demandas levadas ao fórum são questões que estão presentes no dia a dia das populações mais carentes e menos favorecidas com o acesso à água. "As discussões no Fórum Alternativo são trazidas pelos próprios movimentos sociais e organizações não governamentais que trabalham com o cotidiano das pessoas que já sofrem, hoje, com a escassez desse recurso”, completa.

 

Antes de Brasília, em 2018, edições de fóruns mundiais alternativos já foram realizados na Cidade do México, em 2006, em Istambul, em 2009, e em Marselha, em 2012. O FAMA conta com a participação de organizações como Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e Central Única dos Trabalhadores (CUT).

 

É possível acessar a programação geral pelo site do evento ou pelo aplicativo para celular do FAMA, disponível para Android. Para as mais de 150 atividades autogestionadas, as inscrições podem ser feitas por meio do Sistema de Extensão (Siex) da UnB.

 

PROJEÇÃO – A fim de aproximar a comunidade acadêmica das pautas levadas tanto ao FMA quanto ao FAMA e repercuti-las em sala de aula, um projeto de extensão tem desenvolvido atividades integradas aos fóruns. A iniciativa está sendo executada com recursos da Agência Nacional de Águas (ANA).

 

Além de prever apoio em infraestrutura para a execução das atividades do FAMA na UnB, o projeto envolve a realização de debates e eventos técnicos e científicos, ao longo do ano, sobre o legado deixado por ambos os eventos. Diferentes olhares sobre tema da água serão abordados ainda em uma mostra de trabalhos a ser organizada nos próximos meses na Biblioteca Central (BCE).

 

A Universidade também apoiará a produção de vídeo sobre os preparativos para a 5ª Conferência Nacional Infantojuvenil de Meio Ambiente, que será realizada em junho e terá a água como tema central.

 

Leia mais:

>> O negócio das águas do rio São Francisco, por Carlos Potiara e Rafaela Alves

>> O que esperar do 8º Fórum Mundial da Água?, por Henrique Marinho Leite Chaves

 

 

 

*com colaboração de Guilherme Alves/DEX.

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.