#INSPIRAUnB

Missionária budista é a convidada para abrir o semestre a estudantes de cursos diurnos de graduação. Aula inaugural será no dia 14 de agosto, às 9h30

Monja Coen reflete sobre transformação interior e gratidão. Arte: Igor Outeiral/Secom UnB

 

A partir do dia 12 de agosto, a Universidade de Brasília dá início às aulas do segundo semestre da graduação. A primeira semana é marcada pelos eventos de Boas-Vindas, como o #InspiraUnB, no qual dois convidados ministram a aula inaugural para os novos graduandos da UnB, dos cursos diurnos e noturnos.

 

No dia 14 de agosto, às 9h30, no Centro Comunitário Athos Bulcão, a monja Coen Roshi expõe a importância de reconhecer o direito à educação e de ser grato pela oportunidade de ingressar numa universidade pública. “Todos têm o direito de escolher suas carreiras e desenvolver o intelecto. Educar é libertar”, afirma.

 

Para a autora de diversos livros sobre espiritualidade e consciência, a universidade pública deve, por direito e dever, contribuir para uma sociedade mais justa, igualitária, respeitosa e saudável.

 

Missionária oficial da tradição Soto Shu do zen budismo e primaz fundadora da Comunidade Zen Budista Zendo Brasil, ela foi ordenada monja em 1983 e viveu 12 anos no Japão antes de retornar ao Brasil em 1995. Confira a entrevista com a monja Coen, que tem se dedicado a promover o princípio da não violência ativa e da cultura de paz:

 

Que mensagem principal gostaria de deixar aos estudantes?

As universidades, desde sua formação histórica, têm sido centros de educação e pesquisa. Se muitas surgiram dentro de mosteiros, onde uma elite aristocrática e intelectual se dedicava aos estudos, hoje ela se abre a toda a população do planeta. Ter acesso a estudos mais profundos e poder participar de pesquisas é um privilégio conquistado e que deve ser mantido e desenvolvido. Sempre me lembro de um grande amigo nos Estados Unidos que me disse: “Quando bem jovem fui estudar na Universidade de Harvard e tudo mudou em minha vida; uma expansão de consciência que continua até hoje”. Walter Ferdinand Sheetz tinha, na época desta reflexão, 86 anos de idade e uma gratidão profunda aos educadores de Harvard que o fizeram pensar, questionar e continuar pensando até o final de sua vida. Será que somos gratas e gratos aos nossos orientadores? Mesmo aqueles e aquelas com quem temos dificuldades de relacionamento ou pontos de vista opostos? Cada ser que encontramos é um ser iluminado a nos mostrar o caminho. Que cada ser humano privilegiado por estar estudando em uma universidade saiba apreciar o aprendizado, desenvolver pesquisas, agradecer seus predecessores e se comprometer a levar adiante os ensinamentos e as pesquisas, sempre para benefício de todos os seres.

 

Seus ensinamentos chegam a milhares de pessoas, independentemente de religião, sexo ou condição econômica. Como é falar para o público jovem?

Os ensinamentos que transmito chegam a todas as pessoas. Falo de ser humano a ser humano. Não defendo teorias ou pontos de vista, mas falo a partir das minhas experiências, baseadas em ensinamentos sagrados e uma procura existencial. Fui jovem; questionei; fiz vestibular; estudei e me formei como jornalista profissional, atuando como foca e depois registrada oficialmente no Jornal da Tarde, vespertino do jornal O Estado de São Paulo. Participei de um momento histórico onde houve censura nos jornais, na TV, na arte em geral, na música, no cinema. Colegas de redação foram presos, alguns morreram, outros sobreviveram. Usei drogas à procura de uma alternativa, à procura do sentido da existência ou dos sentidos que podemos dar. A questão da minha juventude continua sendo a questão de todas as juventudes. É preciso questionar, duvidar. Uma frase que admiro muito é “a procura é o encontro e o encontro é a procura”. É um processo sem fim; a juventude é preciosa; é o momento de definições e indefinições. Questionar-se, mas sempre privilegiar a vida e nunca a morte. Morremos para sonhos e ideias. Perdemos amigos e causas, mas nunca perdemos a capacidade de nos levantar e tentar outra vez. Cair sete vezes significa levantar-se oito. Amo a juventude e a procura, o desatino e a sabedoria, o ímpeto de ser a mudança que queremos no mundo, o não medo, o atrever-se. Mas é preciso lembrar que a sabedoria maior não é a de lutar e guerrear, mas a de amar e transformar através de ações, palavras e pensamentos que produzam harmonia e respeito entre todos.

 

Por que é tão importante compreender a mente humana, da perspectiva do próprio ser?

Compreender a mente humana é e sempre será a grande transformação social, econômica e política. Conhecer em profundidade a si mesmo para não ser manipulado nem manipular ninguém. Conhecer emoções, sentimentos, conexões neurais. Perceber a vida da Terra, a conexão entre todas as formas de vida, o cuidado que surge com toda a vida que nos mantêm vivos. Esse olhar profundo e abrangente, que sai do “eu” menor, do egoísmo, das vantagens pessoais ou de pequenos grupos para privilegiar a vida em sua plenitude e o bem de todos os seres. Essa será a grande transformação: sair do egoísmo para o contato direto e ameno com o bem de todas as formas de vida.

 

Sobre os problemas de saúde mental que a população tem enfrentado, especialmente os mais jovens, como acredita que é possível reverter essa situação?

Embora eu não acompanhe as estatísticas, nós precisamos cuidar uns dos outros para valorizarmos a vida. Depressão é doença e precisa de tratamento sério. Há vários níveis de tristeza e sintomas. Pedir ajuda não é feio. Confiar e se tratar é a solução. Meditar pode ajudar a diagnosticar e procurar apoio. Todos precisamos de todos. Uns precisamos dos outros, não para querer morrer, mas para viver e transformar. Precisamos ser a transformação que queremos.

 

Por fim, como viver de modo zen? A prática da meditação é um caminho para ser mais feliz?

Viver zen é viver em harmonia consigo mesmo. É apreciar a vida em sua diversidade de formas. É respeitar o seu corpo e a sua mente por conhecê-lo em profundidade. É meditar e ter uma expansão de consciência. Sentir-se religado e religada a tudo e a todos, cuidar com ternura e respeito. Manifestar-se sem ódio e rancores. Compreender as razões até mesmo do bem e nunca aceitar o que seja mal ou perverso. Podemos compreender e ao mesmo tempo evitar que os seres sofram e se desesperem. É praticar o bem, sem um “eu” separado. É ser quem você é, sabendo que todos somos moléculas, partículas em movimento e transformação. É escolher o caminho da sabedoria e da compaixão.

 

 

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