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Da prancheta do arquiteto e de seus delgados riscos em suas habituais folhas brancas, surgiu o traço original que imprimiu à Universidade de Brasília a sua inconfundível identidade. Somado às suas célebres criações na nova capital federal, Oscar Niemeyer também assumiu o desenho original da Universidade idealizada por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira.
Ousado não apenas na forma, o edifício linear e curvo do Instituto Central de Ciências (ICC) – ou o “Minhocão”, como é conhecido – com seus 696 metros de extensão, inovou do ponto de vista construtivo: o pré-moldado em concreto armado, técnica primeiramente usada nos blocos dos Serviços Gerais em 1962, que compreendia os primeiros Institutos da Universidade, o Auditório de Música e o prédio do Ceplan (veja matéria aqui) sob a supervisão e execução de seu outro grande parceiro, o arquiteto João da Gama Filgueiras (Lelé). “Para abrigar, de imediato, as diversas atividades da UnB, os primeiros prédios são marcados pela praticidade e versatilidade”, explica o arquiteto e professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) José Carlos Córdova Coutinho.
ICC – O principal e mais icônico prédio da UnB, que abriga a maioria dos institutos, faculdades, salas de aula, laboratórios e anfiteatros, teve seu início em 1963. De acordo com o professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, José Carlos Coutinho, a espinha dorsal da Universidade, de quase 700 metros de cumprimento, dividido em duas alas, com três andares cada, foi inaugurado em 1971, após oito anos de obras. A partir de estruturas pré-moldadas, foi ocupado em partes, na medida em que as seções ficavam prontas. “Sem dúvida, uma concepção admiravelmente inovadora: praticamente toda a Universidade é alojada ao longo de uma rua.”
Coutinho lembra que, quando chegou à UnB, em 1968, apenas a extremidade sul do Minhocão estava pronta. “Havia um trilho onde é o jardim e uma enorme grua corria sobre ele, enquanto as peças de concreto estavam sendo fundidas do lado de fora. Realmente é uma das grandes obras da arquitetura brasileira em qualquer época”, ressalta.
O projeto de Oscar Niemeyer nasceu da unificação dos cinco Institutos de Ciências previstos por Lucio Costa no primeiro plano urbanístico da Universidade: Matemática, Física, Química, Biologia e Geociências. Iniciado pela extremidade sul, em 1969 apenas 15% da obra havia sido concluída. Ainda nesse período foram feitas algumas modificações no projeto, sendo a principal o aumento da área de ocupação do subsolo, proposto pela construtora Rabello S.A. Somente em 1971, começou a ser ocupado e plenamente utilizado.
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Conforme expõe o professor Andrey Schlee, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, “em cada praça do Instituto Central de Ciências (entradas Norte e Sul), Oscar Niemeyer colocou uma rampa em balanço como que assinando sua obra”. Segundo o especialista dedicado ao mestre modernista, “a força plástica de tais elementos, a curvatura do prédio, o ritmo proposto pelos pórticos estruturais aparentes e a variada vegetação do jardim interno garantem ao prédio uma surpreendente, diversificada e rica leitura. No ICC, ele obteve uma arquitetura imprevista e dinâmica, como a própria ciência”.
SERVIÇOS GERAIS – A conjugação de inovação e praticidade resultou nos primeiros edifícios concebidos e assinados por Niemeyer para a UnB, como o Instituto Central de Artes (SG1), Departamento de Música (SG2), Auditório de Música (SG-8) e o prédio do Ceplan (SG-10). “Não eram edifícios com uma feição definida, uma divisão interna muito caracterizada, justamente para comportar quaisquer usos com flexibilidade”. Para o professor José Carlos Córdova Coutinho, “são obras-primas da arquitetura do período, exatamente por serem despretensiosos, inovadores”.
Os pavilhões de Serviços Gerais compõem um dos mais significativos e emblemáticos conjuntos arquitetônicos da UnB. Expressivos não apenas do ponto de vista funcional mas também do sistema construtivo, a intenção de Niemeyer foi constituir um espaço multifuncional, flexível e econômico. Seguindo essa concepção, as unidades de apenas um pavimento, a partir de estruturas pré-moldadas de concreto armado, assumiam versatilidade ao possibilitarem diversos arranjos internos. Como regra geral, os prédios dispõem de um jardim em cada extremidade e pelo menos mais um na porção central.
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Certamente integrantes do imaginário da Universidade, ao comportarem especialmente anos tão vibrantes na década de 60, antes do golpe militar, as unidades compreenderam, de início, o Instituto Central de Artes, o Departamento do Centro de Planejamento Oscar Niemeyer (Ceplan), o Departamento de Música e o Auditório de Música.
REGISTRO ARQUITETÔNICO - A ser lançado em breve, pela Editora UnB, o Registro Arquitetônico da Universidade de Brasília catalogou as edificações com o propósito de restaurar a história da Universidade. "Nosso objetivo é conferir relevo à qualidade intrínseca das próprias obras e o contexto com o qual elas se relacionam", explica a professora da FAU, Gabriela Tenório, uma das coordenadoras do projeto que soma quase dez anos de levantamentos e estudos.