A Universidade de Brasília deu um passo decisivo para aproximar ainda mais a ciência de ponta das necessidades da sociedade com o lançamento da Fábrica de Spin-Offs. O programa foi oficialmente apresentado no dia 26 de maio, em evento realizado no edifício-sede do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT), no campus Darcy Ribeiro. Com financiamento proveniente de emenda parlamentar, a primeira edição da fábrica contemplou dez empreendimentos acadêmicos com apoio de R$ 840 mil.
O vice-reitor Márcio Muniz destacou a importância simbólica e estratégica da iniciativa. Segundo ele, o lançamento da Fábrica de Spin-Offs representa um marco para a inovação, o empreendedorismo e o desenvolvimento científico e tecnológico, não apenas no Distrito Federal, mas em todo o país. “As spin-offs acadêmicas são empresas nascidas a partir de pesquisas realizadas na UnB. Elas traduzem a ciência de ponta em produtos, processos e serviços inovadores”, afirmou.
Muniz parabenizou a gestão da reitora Rozana Naves e os responsáveis pela reformulação do ambiente de inovação da Universidade. “Esta fábrica de spin-offs não é apenas um programa institucional. É um símbolo de uma nova etapa em que a UnB assume, de forma estratégica, o compromisso de transformar conhecimento em desenvolvimento”, avaliou.
Diferente de startups tradicionais, spin-offs são iniciativas empreendedoras que nascem diretamente da trajetória de pesquisa científica, geralmente em ambiente universitário. Elas envolvem tecnologias de alto impacto e aplicabilidade, muitas vezes em setores, como saúde, agricultura e inteligência artificial.
Nesse sentido, a fábrica representa uma resposta concreta à lacuna histórica brasileira: embora o país produza ciência em volume significativo, grande parte do conhecimento gerado permanece subutilizado ou acaba sendo explorado por empresas estrangeiras.
A decana de Pesquisa e Inovação, Renata Aquino, reforçou que o objetivo da fábrica é aproximar as tecnologias desenvolvidas nos laboratórios da Universidade das possibilidades reais de transformação e licenciamento para a sociedade, por meio de startups acadêmicas – muitas delas de base científica profunda, ou deep techs. Aquino celebrou a alta adesão ao edital, que recebeu mais de 70 propostas, e reforçou a diversidade das áreas representadas entre as selecionadas, como educação, saúde, biotecnologia, agricultura, aeronáutica e tecnologias assistivas. “Temos um potencial enorme. Dê uma chance, e a gente responde com trabalho e inovação”, afirmou.
A iniciativa é coordenada pelo CDT, responsável por proteger e negociar as tecnologias desenvolvidas na instituição. O edital da fábrica teve 73 projetos submetidos. Desses, dez foram selecionados por uma banca avaliadora formada por representantes de universidades, embaixadas e multinacionais. As propostas escolhidas abrangem áreas como dermocosméticos, nanotecnologia, bioestimulantes, inteligência artificial e medicina veterinária.
Ao celebrar os projetos selecionados, a deputada federal Erika Kokay destacou a diversidade das áreas envolvidas e o protagonismo feminino nas iniciativas apoiadas: “É uma alegria saber que 75% da composição societária das experiências selecionadas é representada por mulheres. Mulheres inovadoras, que constroem, que ressignificam realidades e avançam no desenvolvimento humano. Que estas experiências não fiquem restritas a este ano, mas sigam acontecendo ano após ano. Viva a Universidade de Brasília, viva as startups e viva esta experiência que vivemos hoje!”
A iniciativa também se conecta a um histórico de protagonismo da UnB em inovação. O CDT foi responsável pela criação da primeira incubadora de empresas do Distrito Federal, ainda nos anos 1990, quando o conceito era pouco conhecido no Brasil. Agora, com um ecossistema mais maduro, a Universidade volta a se posicionar na vanguarda ao chamar atenção para a importância da valorização do conhecimento científico como vetor de desenvolvimento sustentável e estratégico.
O secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg, pontuou o papel essencial da UnB nesse cenário de inovação atual. “Transformar conhecimento em produtos e negócios que melhorem a qualidade de vida da nossa população é um dos papéis mais importantes que a universidade pode cumprir no mundo de hoje”, disse.
A experiência da Krilltech – spin-off de nanotecnologia agrícola que se tornou referência nacional e internacional – inspirou o modelo da fábrica. A trajetória da empresa, que quase teve sua tecnologia apropriada por empresas estrangeiras antes de receber apoio institucional para se consolidar, serve como exemplo dos riscos que o Brasil corre ao não proteger adequadamente suas inovações.
O professor do Instituto de Química da UnB Marcelo Rodrigues, sócio-fundador da Krilltech, lembrou que o modelo da empresa passou a ser reconhecido como uma referência de transformação da pesquisa em produto. “Esse não é um processo trivial. Requer muita dedicação, foco, e muitas vezes abrir mão da carreira acadêmica tradicional”, ponderou.
Para ele, o projeto da fábrica representa o início de uma nova fase para o DF. “Estamos discutindo com parceiros do setor público a expansão desse modelo para todo o Distrito Federal. Acreditamos que, ao fortalecer startups baseadas em conhecimento, é possível transformar realidades inteiras”, completou.
As spin-offs selecionadas
As dez spin-offs contempladas representam soluções inovadoras com potencial de transformar áreas estratégicas. São elas:
● AMA – Desenvolve colágeno de uso tópico com efeito similar ao de produtos injetáveis, promovendo procedimentos estéticos menos invasivos.
● People & Science (Nanoguava) – Utiliza compostos bioativos da goiaba para criar produtos com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antitumorais.
● Glia Innovation – Integra nanotecnologia e design de peptídeos biomiméticos em ingredientes ativos para dermocosméticos.
● Biointech – Produz medicamento inovador para controle de epilepsia em cães e gatos, com moléculas bioinspiradas.
● Dontec – Desenvolve tecnologia que potencializa a ação de antimicrobianos em procedimentos odontológicos com o uso de corrente elétrica de baixa intensidade.
● P-Last – Cria processo biotecnológico baseado em bactérias que decompõem resíduos plásticos e produzem bioplástico 100% biodegradável.
● Einstein Jr – Promove educação científica infantil com cursos, kits experimentais e materiais didáticos voltados à formação de professores.
● BioEny Medical Solutions – Desenvolve plataforma microfluídica para estudo da angiogênese, fundamental na regeneração de tecidos.
● Sintatica – Cria plataforma baseada em inteligência artificial para automação da produção de textos em tempo real.
● Otimizai – Oferece soluções de IA para otimização de processos e tomada de decisão com base em análise de dados.
