DIVERSIDADE

Socióloga Célia Xakriabá participou do segundo encontro realizado na UnB do ciclo de conferências Diálogos Contemporâneos

 

Diretora do Ceam, Maria Lúcia Pinto Leal, decana do DEX, Olgamir Amancia, e decano do DAC, André Reis, receberam o público para a palestra da líder indígena Célia Xakriabá. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

“Temos deixado de ser objeto de pesquisa para ser protagonistas na produção do conhecimento.” A avaliação é da líder indígena e socióloga Célia Xakriabá, convidada para a palestra Mulheres indígenas: resistência e protagonismo, segunda atividade a integrar o ciclo de conferências Diálogos Contemporâneos – iniciativa do Ministério da Cultura apoiada pelo Conselho de Direitos Humanos da UnB (CDHUnB).

 

Durante o evento, realizado no anfiteatro 9 do ICC, a convidada também afirmou que mulheres estão progressivamente ocupando lugares estratégicos, mesmo dentro do contexto patriarcal de algumas sociedades indígenas. "É válido ressaltar que essa transformação não significa desrespeito à tradição", reforça.

 

A luta pela manutenção das tradições de seu povo é mesmo um objetivo de Célia, que carrega consigo o nome de seu povo e a conquista de ter integrado, em 2007, a primeira turma de formandos de ensino médio indígena no Brasil. Dos 140 concluintes, cem eram mulheres. Apesar disso, ela não gosta de ser questionada sobre "o sentimento de ser a primeira indígena formada de seu povo".

 

"O importante não é ser a primeira, e sim não aceitar ser a única”, afirma a líder dos xakriabá, povo que reside em São João das Missões, Minas Gerais. O estado também abriga representantes de povos pataxó, aranã, maxakali e tuxá.

 

Aluna do mestrado em Desenvolvimento Sustentável na UnB, Célia entende que a universidade precisa acolher melhor os estudantes indígenas, para além de políticas afirmativas, reconhecendo a importância dos saberes tradicionais desses povos. “Oralidade produz conhecimento, não podemos deixar morrer nossa identidade.”

 

DIFERENTES VOZES De acordo com a diretora do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da UnB, Maria Lúcia Pinto Leal, envolvida na organização do evento, o espaço aberto pelo Diálogos Contemporâneos destina-se a aprofundar esses laços de respeito. "Dialogar com saberes de povos originários mostra que o Conselho de Direitos Humanos e a UnB estão interessados nestas vozes e querem a inclusão e democratização desse debate na pauta universitária", afirma. 

Célia Xakriabá é representante da luta pela preservação das tradições indígenas no Brasil. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Como coordenadora na Educação Escolar Indígena da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, Célia Xakriabá luta pela preservação dessas vozes, inclusive em idiomas nativos. A socióloga está engajada em evitar o esquecimento das cerca de 170 línguas indígenas que, segundo dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), estão ameaçadas no Brasil.

 

“As pessoas acham bonito falar inglês, mas ninguém que aprender a falar nossas línguas”, critica, apontando para a necessidade de um país que valorize sua própria história como ferramenta para se desenvolver.

 

PRÓXIMO ENCONTRO A próxima palestra do ciclo Diálogos Contemporâneos na UnB acontece na terça-feira, 10 de abril. A convidada é Djamila Ribeiro, feminista e pesquisadora da área de Filosofia, que abordará o tema Diversidade Cultural e de Gênero no Brasil: a construção de uma sociedade democrática e fraterna e o respeito às diferenças. A entrada é gratuita em todas as conferências, inclusive as realizadas no Museu da República e em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Confira a programação completa e participe.

 

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