“Temos deixado de ser objeto de pesquisa para ser protagonistas na produção do conhecimento.” A avaliação é da líder indígena e socióloga Célia Xakriabá, convidada para a palestra Mulheres indígenas: resistência e protagonismo, segunda atividade a integrar o ciclo de conferências Diálogos Contemporâneos – iniciativa do Ministério da Cultura apoiada pelo Conselho de Direitos Humanos da UnB (CDHUnB).
Durante o evento, realizado no anfiteatro 9 do ICC, a convidada também afirmou que mulheres estão progressivamente ocupando lugares estratégicos, mesmo dentro do contexto patriarcal de algumas sociedades indígenas. "É válido ressaltar que essa transformação não significa desrespeito à tradição", reforça.
A luta pela manutenção das tradições de seu povo é mesmo um objetivo de Célia, que carrega consigo o nome de seu povo e a conquista de ter integrado, em 2007, a primeira turma de formandos de ensino médio indígena no Brasil. Dos 140 concluintes, cem eram mulheres. Apesar disso, ela não gosta de ser questionada sobre "o sentimento de ser a primeira indígena formada de seu povo".
"O importante não é ser a primeira, e sim não aceitar ser a única”, afirma a líder dos xakriabá, povo que reside em São João das Missões, Minas Gerais. O estado também abriga representantes de povos pataxó, aranã, maxakali e tuxá.
Aluna do mestrado em Desenvolvimento Sustentável na UnB, Célia entende que a universidade precisa acolher melhor os estudantes indígenas, para além de políticas afirmativas, reconhecendo a importância dos saberes tradicionais desses povos. “Oralidade produz conhecimento, não podemos deixar morrer nossa identidade.”
DIFERENTES VOZES – De acordo com a diretora do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da UnB, Maria Lúcia Pinto Leal, envolvida na organização do evento, o espaço aberto pelo Diálogos Contemporâneos destina-se a aprofundar esses laços de respeito. "Dialogar com saberes de povos originários mostra que o Conselho de Direitos Humanos e a UnB estão interessados nestas vozes e querem a inclusão e democratização desse debate na pauta universitária", afirma.
Como coordenadora na Educação Escolar Indígena da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, Célia Xakriabá luta pela preservação dessas vozes, inclusive em idiomas nativos. A socióloga está engajada em evitar o esquecimento das cerca de 170 línguas indígenas que, segundo dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), estão ameaçadas no Brasil.
“As pessoas acham bonito falar inglês, mas ninguém que aprender a falar nossas línguas”, critica, apontando para a necessidade de um país que valorize sua própria história como ferramenta para se desenvolver.
PRÓXIMO ENCONTRO – A próxima palestra do ciclo Diálogos Contemporâneos na UnB acontece na terça-feira, 10 de abril. A convidada é Djamila Ribeiro, feminista e pesquisadora da área de Filosofia, que abordará o tema Diversidade Cultural e de Gênero no Brasil: a construção de uma sociedade democrática e fraterna e o respeito às diferenças. A entrada é gratuita em todas as conferências, inclusive as realizadas no Museu da República e em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Confira a programação completa e participe.