Meio século antes de Cristo, em uma região onde hoje fica o Nepal, nasceu o príncipe hindu Sidarta Gautama. O jovem vivia isolado em palácios, com acesso a todas as fontes de bem-estar: amor dos pais e da esposa, estima dos súditos, futuro garantido, conforto e prazeres do mundo. No entanto, ele não estava satisfeito.
Um belo dia, ao sair de sua redoma, o príncipe se deparou com três cenas que mudaram sua vida. Sidarta viu um velho andando com dificuldades, um doente com dores muito fortes e um cortejo fúnebre, com pessoas chorando a partida de alguém querido. As três visões o fizeram ter consciência sobre a velhice, a enfermidade e a morte.
Depois disso, Sidarta saiu pelo mundo, atrás dos peregrinos que se desprendiam de bens materiais e viviam o caminho da espiritualidade. Após seis anos de andanças, sentado debaixo de uma figueira, encontrou o que o budismo chama de “caminho do meio” – o equilíbrio.
Um pouco dessa história estará na fala do monge Ademar Kyotoshi Sato, um dos convidados da Semana Universitária da Universidade de Brasília. A roda de conversa e meditação com o monge será na próxima quarta-feira (26), às 9h, na sala BT 552 do ICC Norte. Em entrevista, ele falou um pouco sobre a meditação budista e sobre a oportunidade de ensinar a aprender com os jovens. Confira:
Nos tempos atuais, em que corremos contra prazos e sofremos diversos tipos de pressão, o senhor acredita que os efeitos disso atingem os jovens de forma mais intensificada?
Os tempos atuais são de capitalismo na sua fase financeira e globalizada, não estamos mais na época do Buda, nem de Moisés, Cristo ou Maomé. É um outro ritmo e elenco de dificuldades, perigos e sofrimento. Os jovens sempre sofreram, mas a diferença é que, hoje, sofrem com as possibilidades de libertação e não com as restrições que existiam na época dos reis e faraós escolhidos por Deus ou deuses, sacerdotes sagrados e senhores feudais implacáveis.
De que forma os ensinamentos budistas podem nos ensinar sobre resiliência?
Resiliência é uma palavra moderna, talvez inventada pelo capitalismo para não matar – como eram os escravos –, mas manter os trabalhadores produzindo e consumindo, a fim de extrair mais lucro. No budismo, sempre se falou sobre outras coisas: a sabedoria – a lógica da natureza e da experiência – e a compaixão – o amor universal pelo outro, ser humano ou não.
Quais os benefícios da meditação para o combate a males comuns em nossa sociedade?
A meditação é hoje propagada como mercadoria e vendida a preço de banana. A meditação que Buda Sakyamuni (Sidarta Gautama) nos deixou é o exercício de tomada de consciência sobre a impermanência – nada dura para sempre – e sobre o não eu – o eu não se resume ao ego que deseja, que sente raiva, que cultiva preconceitos. Só a meditação budista nos livra dos complexos, tanto de inferioridade quanto de superioridade, para viver a vida plenamente até a morte e mesmo depois da morte.
O que podemos esperar para a roda de conversa no dia 26?
Estou na melhor idade, com acúmulo de conhecimentos e experiências como nunca tive antes, mas ainda espero aprender com os jovens que vivem essa era plenamente, que eu já não pude viver, com meus preconceitos e usos e costumes arraigados, além da ignorância.
SERVIÇO – A atividade da próxima quarta-feira (26), às 9h, na sala BT 552 do ICC Norte, no campus Darcy Ribeiro, é gratuita e aberta a todos. Lotação sujeita à capacidade do espaço.