ÁGUA

Grupo mapeou o subsolo para desenvolver Sistema de Informações Geográficas e subsidiar gestão dos recursos hídricos na UnB

 

Irrigação de jardins do ICC foi feita com 20 mil litros de reservatório recuperado. Foto: Isa Lima/Secom UnB

 

A iniciativa de um grupo formado por professores, alunos e técnico da UnB reuniu em uma base de dados, inédita na UnB, informações que irão ajudar a instituição a dar o exemplo no uso racional da água. O documento final do trabalho, batizado de Composição do Sistema de Informação Geográfica de Recursos Hídricos do Campus Darcy Ribeiro traz a rede de distribuição de água com a localização dos hidrômetros, o sistema pluvial da Terracap e a localização das caixas d’água, além de ser capaz de demonstrar o consumo médio por metro cúbico dos principais prédios. Como já era esperado, o ICC é o que mais consome (ver Gráfico).

 

O objetivo do grupo – que reúne pelo menos cinco áreas diferentes do conhecimento – era construir um Sistema de Informação Geográfica de Recursos Hídricos (SIG-RH) a partir do SIG WEB, que está sendo desenvolvido pelo técnico e aluno do Programa de Pós Graduação em Geociências Aplicadas e Geodinâmica, Rogério de Sousa. “Os dados inseridos na plataforma podem ser comparados com outros como um sistema em camadas; as informações podem ser visualizadas como gráficos ou apenas como mapas”, explica Rogério. É possível também fazer comparações entre consumo e entraves no abastecimento, por exemplo.

 

Com a comparação dos dados de consumo, é possível identificar anomalias que podem ser possíveis vazamentos. Arte: Alessandra Oliveira/Secom UnB

 

INFORMAÇÕES ESPARSAS “Os dados que coletamos estavam dispersos, muitos deles sequer digitalizados”, diz o professor da Faculdade de Tecnologia (FT) Sérgio Kóide. O docente trabalha desde a década de 1980 com a gestão de recursos hídricos na UnB. Ele faz parte do comitê gestor criado pela administração superior, que trabalhou para analisar alternativas a fim de permitir um melhor aproveitamento dos recursos hídricos.

 

O professor explica que os dados da UnB precisaram ser garimpados. “Grande parte dos projetos e dos dados oficiais da UnB estavam em formatos inadequados para o nosso trabalho”, conta. Para construir a base de dados, o grupo precisou recorrer não apenas à Prefeitura do Campus, mas à Caesb, Adasa e Terracap, além de sistemas especialistas como a plataforma de Currículos Lattes, do CNPq, e o Research Gate – rede voltada a cientistas e pesquisadores –, que permitiram identificar potenciais parceiros no desenvolvimento do estudo.

 

“Essa mobilização já nos ajudou a planejar a irrigação dos jardins com a água do castelo, reservatório que continha 20 mil litros de água, ocioso há mais de 20 anos, e nos subsidiará para propor novas políticas de gestão dos recursos hídricos no futuro”, relata o prefeito do Campus, Valdeci Reis.

 

“Esse esforço possibilita não apenas imaginar novas alternativas para o uso racional da água, mas para outras questões, como a segurança”, explica Rejane Cicerelli. Ela e o professor Henrique Roig, ambos do Instituto de Geociências (IG), orientaram, ao longo do ano, estudantes de graduação que colaboraram na medição de vias do campus e marcação de terrenos e ajudaram no georreferenciamento do campus Darcy Ribeiro.

 

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Rede de drenagem que atravessa a Asa Norte, passa pela UnB e chega ao lago Paranoá. Arte: Alessandra Oliveira/Secom UnB

 

HISTÓRICO Como consequência do aumento da população e do decréscimo das precipitações pluviais, o Distrito Federal passa, desde 16 de janeiro de 2017, por um racionamento que interrompe o fornecimento de água a cada seis dias e reduz o recurso por até outros dois. A medida, que já havia sido autorizada desde 10 de novembro de 2016, não tem previsão para acabar e faz com que a sociedade pense ainda mais sobre o uso racional dos recursos hídricos.

 

Tendo em vista este cenário, a administração da Universidade de Brasília criou, em 2017, um comitê gestor com o objetivo de definir estratégias eficientes para a gestão e o planejamento do sistema de distribuição de água e redução do consumo de recursos hídricos.

 

Uma das ações do comitê gestor foi solicitar ao Instituto de Geociências que indicasse uma comissão capaz de mapear o uso da água na Universidade. Foi daí que surgiu a ideia de fazer a prospecção e sugerir um Sistema de Informação Geográfica (SIG) que organizasse os dados de consumo do campus Darcy Ribeiro, permitindo georreferenciá-los, ou seja, situá-los no espaço.

 

“Com essa proposta, pudemos observar o padrão de consumo da comunidade universitária, para identificar alguma anomalia. Foi assim que sinalizamos um consumo desproporcional na Faculdade de Educação Física, que se revelou um vazamento”, conta o diretor do IG, José Elói. Ele foi responsável por constituir a comissão formada pelos professores Henrique Roig, Tati de Almeida e Rejane Cicerelli, que, juntamente com Rogério, alunos de graduação e até duas recém-formadas, trabalhou os dados que serão disponibilizados para o público em breve.

 

O professor Pedro Zuchi, do Departamento de Economia, também parte do comitê gestor, comemora: “Foi um trabalho realmente coletivo, em que ninguém recebeu nada a mais por fazê-lo. Fico muito feliz e gosto de frisar que foi tudo em prol do bem comum”, ressalta. Os dados que alimentaram o sistema foram coletados pelos professores da comissão e alunos de graduação. Além deles, houve participação de professores de outros departamentos.

 

“Estávamos bem no começo do racionamento quando eu me interessei pelo projeto. Achei muito relevante”, frisa Camila Ribeiro, que, juntamente com Thaís de Paiva, também egressa do curso de Engenharia Ambiental, ajudou a mapear o consumo de água da Universidade de Brasília.

 

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O mapeamento foi realizado como parte do trabalho de conclusão de curso das alunas. Mesmo após formadas, elas fizeram o monitoramento que permitiu identificar o vazamento da FEF. “Nós nos revezávamos para fazer a medição do hidrômetro da faculdade durante as madrugadas, período em que teoricamente deveria haver consumo zero de água”, aponta Camila.

 

Professora Rejane Cicarelli e seus alunos propõem novas soluções para problemas da universidade a partir do georreferenciamento. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

DESDOBRAMENTOS A partir da coleta de dados feita pelos alunos da graduação, os professores viram que a experiência era positiva. “Os alunos passaram a aliar teoria e prática com o adicional de devolver algo para a universidade em que estudam. Aproveitamos essa ideia em nossas disciplinas e os alunos responderam muito bem à ideia de georreferenciamento, para conhecer melhor o ambiente em que passamos boa parte de nossas vidas”, afirma Roig.

 

Como trabalho final da disciplina, os estudantes coletaram dados para propor novas soluções em áreas como mapeamento da vegetação de cerrado, coleta seletiva, segurança, e acessibilidade dentro da Universidade. Aluna de Roig no primeiro semestre, Beatriz Costa foi monitora da disciplina de Rejane Cicarelli (IG) no segundo semestre. Os dados levantados em seu trabalho ajudaram Murilo Marques, estudante de Engenharia Ambiental.

 

Beatriz mapeou, no primeiro semestre de 2017, pontos do campus Darcy Ribeiro para propor melhorias na acessibilidade. “Minha mãe desenvolveu artrite reumatoide e, por conta disso, precisa usar com frequência cadeiras de rodas, por isso a acessibilidade me chamou a atenção”, revela. Ela marcou e mediu passagens oficiais e informais, calçadas e vias arteriais para classificar a facilidade em transitar com cadeira de rodas. Além de sugerir melhorias, pretende apresentar um artigo com esses resultados.

 

Já o trabalho de Murilo Marques foi desenvolvido em grupo e utilizou os mapeamentos de Beatriz Costa para calcular quais seriam as rotas mais eficientes para a coleta seletiva. A partir de janeiro, os grandes produtores de lixo, entre eles a UnB, serão responsáveis por sua própria coleta; os dados levantados por Murilo podem ajudar a economizar recursos para a Universidade.

 

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