ECONOMIA

Colóquio sediado na UnB reúne especialistas para avaliar impactos da economia mundial no campo do trabalho. Programação vai até dia 30

 

Mesa-redonda discutiu jornada de trabalho no cenário atual e a situação da classe trabalhadora na América Latina. Foto: Serena Veloso/Secom UnB

 

O crescimento do desemprego estrutural a nível global, as transformações no mundo do trabalho no contexto contemporâneo, a situação da classe trabalhadora com relação ao quadro econômico. Essas são preocupações que têm rendido discussões entre especialistas das diversas áreas das Ciências Humanas e Sociais. Tais temas também têm estado em foco no XI Colóquio Internacional em Economia Política dos Sistemas-Mundo, sediado pela segunda vez na UnB. Até quarta-feira (30), palestrantes nacionais e internacionais, pesquisadores e estudantes refletem sobre as Metamorfoses no mundo do trabalho e as periferias, tema do evento realizado no auditório dos Institutos de Ciência Política (Ipol) e de Relações Internacionais (Irel).

 

A programação teve início nesta segunda-feira (28), com conferência ministrada pela professora Beverly J. Silver, da John Hopkins University, nos Estados Unidos. Também marcam presença no colóquio o professor Roberto Patrício Korzeniewicz, da University of Maryland, que realizará a atividade de encerramento no dia 30, às 16h.

 

A duração das jornadas de trabalho em contexto mundial e sua intensificação foram assuntos tratados pelo professor Sadi Dal Rosso, do Departamento de Sociologia da UnB, na primeira mesa-redonda do evento. Segundo o pesquisador, houve redução em quase 50% do tempo de serviço dedicado pelos trabalhadores do período da Revolução Industrial – ápice da exploração do trabalhador pelo avanço do capitalismo – até os tempos atuais: passou-se da casa das 3.500 horas anuais, no século XIX, para cerca de 1.800 horas nos anos 2000.

 

Entretanto, Sadi constata que a tendência mundial para os próximos anos, apesar da luta da classe trabalhadora pela flexibilização, é de retomada do crescimento da jornada de trabalho. A exceção fica por conta de países como Japão e Coreia do Sul, que possuem altos padrões de desenvolvimento.

 

Outro fator a ser considerado é que, na prática, o que se dispõe legalmente quanto aos direitos dos trabalhadores no quesito jornada de trabalho não corresponde à situação real. Dados coletados em 123 países, de 2000 a 2005, mostram que 21,8% dos trabalhadores excedem a carga horária de 48 horas semanais, ou seja, estão submetidos a jornadas exaustivas. “Essa informação é extremamente preciosa para fazer uma avaliação da jornada de trabalho em escala mundial e para, de alguma maneira, pensarmos o impacto da questão da automação tecnológica sobre a força de trabalho”, afirma.

Professores Sadi Dal Rosso e Jales Dantas da Costa avaliaram impactos dos avanços do capitalismo para os trabalhadores Foto: Serena Veloso/Secom UnB

 

Jales Dantas da Costa, professor do Departamento de Economia da UnB, também vislumbra um cenário preocupante quanto à situação do trabalhador nos próximos anos. Dialogando com as obras de Engels e Marx, ele abordou os impactos sobre situação da classe trabalhadora na América Latina no início deste século, tendo em vista a relação de dependência com a expansão do capital.

 

Ao analisar dados da Organização Internacional do Trabalho, ele apontou que os anos de 2010 e 2013 foram mais suportáveis para os trabalhadores. "A partir daí a situação muda. Desde 2014, é cada vez menos suportável a situação deles em sua relação de dependência para com o capital. Isso considerando a região como um todo, mas não os trabalhadores em cada nação, em cada setor produtivo, em cada ramo de atividade", disse.

 

O professor ressaltou ainda que a taxa de desocupação, que havia registrado 10,9% em 2000 e caído para 6,5% em 2014, aumentou para 8,1% em fins de 2016, e a expectativa para este ano de 2017 é de uma taxa ainda maior, de 8,4%. “Isso representa mais de 26 milhões de trabalhadores desempregados na América Latina e no Caribe, sendo mais da metade deles no Brasil", constatou Jales.

 

No que diz respeito à miséria e a pobreza na região, o docente afirma que ambas vêm se alastrando desde 2014. Em fins de 2015, as estatísticas oficiais apontavam 75 minhões de indigentes e 175 milhões de pobres – 5 milhões e 9 milhões a mais, respectivamente, do que o registrado em 2013. "É a partir da relação entre os movimentos do capital e os exércitos de trabalhadores da ativa e da reserva que temos de analisar a situação da classe trabalhadora, para, como bem disse Engels, embasar os juízos sobre sua legitimidade", concluiu.

 

*Matéria atualizada em 31/8/17.

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