Pensada, construída e povoada por migrantes, Brasília recebe, ainda hoje, pessoas dos mais diversos lugares. Em 2018, Juan Carlos Gomez, do México, e Sérgio Miguel Vélez, do Equador, vieram somar à diversidade da capital. Os dois são estudantes de pós-graduação admitidos na UnB por meio de acordo com o Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras (GCUB), que oferece bolsas a estrangeiros para aprimoramento de estudos e compartilhamento de experiências.
Na UnB desde março, os intercambistas são os primeiros a chegar como resultado de adesão recente ao Programa de Alianças para a Educação e a Capacitação (Paec/OEA/GCUB). Neste ano, apenas os dois serão recebidos via convênio. Já em 2019, a Universidade planeja oferecer 36 bolsas pelo Grupo Coimbra, sendo 23 de mestrado e 13 de doutorado. Um dos objetivos com a iniciativa é atingir o nível de 15% de estudantes estrangeiros, comum em instituições de ensino superior de nível internacional.
Para a decana de Pós-Graduação, Helena Shimizu, a chegada desses alunos é significativa para proporcionar um ambiente de internacionalização. “Acolher esses estudantes tem sido uma grande satisfação e promete mostrar-se uma experiência enriquecedora. Poderemos transmitir nossa expertise para eles e, ao mesmo tempo, aprender com as realidades e habilidades trazidas. Será uma troca de culturas vantajosa para todos”, considera.
Para se tornarem cada vez mais ativos nesta transferência de saberes, Gomez e Vélez vêm se adaptando à dinâmica da instituição e da cidade. Em comum, possuem pouca coisa além do idioma natal e a escolha da Universidade de Brasília como campo para estenderem seus estudos. As áreas de pesquisa são distintas – Mecatrônica e Biologia –, mas a confiança no potencial científico da UnB é a mesma.
MÉXICO – Professor na Universidad Autónoma de Campeche (UAC), na capital do estado homônimo, o doutorando Juan Carlos Gomez ficou sabendo das bolsas através de uma lista de e-mail de pesquisadores da Organização dos Estados Americanos (OEA). A proposta o atraiu pois, como intercambista, ele pode se dedicar integralmente aos estudos da engenharia mecatrônica.
“Essa oportunidade é inovadora, pois permite ao bolsista interagir com países e qualidades acadêmicas diferentes, como a encontrada aqui. Isso nos faz crescer. Para mim, em especial, contar com essa bolsa é fundamental para dar continuidade em minha pós-graduação”, afirma.
No olhar do estrangeiro, Brasília é uma cidade muy hermosa. Gomez chegou ao país sem saber falar uma só palavra em português, arriscando-se no bom e velho portunhol. Mesmo assim ele acredita que a adaptação ao novo idioma será rápida e não o prejudicará no desenvolvimento das aulas.
“Quando o professor fala muito rápido durante a aula, ou quando perco alguma coisa, procuro nas apresentações para resgatar o conteúdo. O idioma não é difícil, mas é preciso dedicação. No decorrer do doutorado, vou aprender. Pretendo defender a tese em português”, projeta.
EQUADOR – A dificuldade com o idioma não é tema para Sérgio Miguel Vélez. Agora doutorando em Fitopatologia, ele já estudou na UnB. Em 2016, concluiu o mestrado pela instituição. Assim que colegas do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Ciências Biológicas (IB) lhe informaram sobre a oportunidade do Grupo Coimbra, ele decidiu se inscrever e voltar à Universidade.
“O programa acadêmico daqui mistura experiência e inovação, tanto nas pesquisas quanto na área profissional, principalmente se comparado ao estudo da biologia no restante da América Latina. Voltei ao Brasil por saber desta qualidade de ensino”, destaca Vélez, que aponta a falta de escolas de pós-graduação no Equador como outro motivo influenciador de sua decisão.
O bolsista destaca os benefícios e assistências disponibilizados na UnB, dos quais já desfrutou anteriormente, como o Restaurante Universitário (RU) e a Casa do Estudante Universitário (CEU). Ele compara com a Escuela Superior Politécnica Agropecuária de Manabí (Espam), onde leciona, e diz que esses auxílios a estudantes não existem por lá.
Vélez se denomina um "equatoriano da roça”, ligado às raízes do seu povo. Seus objetos de estudo são amostras vegetais coletadas no país natal. Além dos conhecimentos que pretende acumular, o pesquisador tem interesse em levar as experiências vivenciadas no Brasil aos alunos que deixou por um tempo no Equador.
“Aqui há muitos professores bons, em muitas especialidades. Sem dúvida isso vai me possibilitar ter uma bagagem muito rica. Além disso, percebo que a exigência e a carga de leitura da UnB seguem um modelo estadunidense. São mais intensivas que as do Equador. Isso é bom, pois o estudante se esforça para ser cada vez melhor”, compara.
SOBRE – O Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 2008. Atualmente integrado por 77 instituições brasileiras de educação superior, o grupo tem sede administrativa na Universidade de Brasília. Além das cooperações internacionais, a iniciativa é apoiada pelo Ministério da Educação, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação e pelo Ministério das Relações Exteriores.
*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB.