A Universidade de Brasília colocou os pés em 2019 com um novo norte: seu primeiro Projeto Político-Pedagógico Institucional (PPPI). Aprovado em reunião do Consuni, em 2018, o documento revisa, atualiza e substitui o Plano Orientador, de 1962, elaborado por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. O material é basilar para a instituição, pois apresenta os princípios instituidores normativos e diretrizes da UnB em suas relações com a sociedade.
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Disponível ao público em geral, o PPPI ratifica que os processos pedagógicos da UnB são orientados pela indissociabilidade da tríade ensino, pesquisa e extensão, com foco na ética e respeito à dignidade, à liberdade intelectual e às diferenças. Além disso, prevê que a formatação das práticas de ensino seja pautada pela interdisciplinaridade e transversalidade, com uma dinâmica curricular integrada e flexível.
A acessibilidade, com intuito de promover atuação e inclusão, também é um dos princípios fundamentais da instituição expressos no documento, que também descreve, entre outros pontos, o perfil de egressos que a UnB pretende formar: pessoas aptas a lidar com as questões da sociedade e a propor possibilidades inovadoras para o futuro.
“É uma felicidade ter assinado o Projeto Político-Pedagógico como reitora da UnB”, manifesta Márcia Abrahão, recordando-se de sua atuação na presidência da comissão que elaborou o documento-base do PPPI, em 2010 e 2011. Modernização e simplificação de processos e fortalecimento da internacionalização estão entre os princípios fundamentais expressos no projeto.
PARTICIPAÇÃO – Desenvolvido ao longo de quase uma década, o PPPI é fruto de ampla participação da comunidade universitária. “O projeto é político exatamente por ser resultado de uma ação engendrada por um grupo representativo de pessoas”, esclarece Cristina Madeira Coelho, professora da Faculdade de Educação (FE). Ela, a professora emérita Ilma Passos Veiga (FE) e a docente Claudia Griboski, da Faculdade de Ciências da Saúde (FS), integraram a comissão que formatou a versão final do PPPI.
O texto começou a ser elaborado por professores, técnicos e estudantes em 2009. Desde então, incorporou concepções de ensino e de propósito da Universidade, até chegar ao modelo aprovado no ano passado. Cristina conta que notou grande mudança cultural na UnB durante o desenvolvimento. “As pessoas se interessaram em entender que há uma proposta para orientar os estudantes que entram na Universidade”, avalia.
“A participação coletiva de grupos representativos da Universidade disseminou o debate nos quatro campi da UnB. E, na medida em que esse processo foi discutido, ocorreram mudanças internas que culminaram na maturação das concepções sobre a identidade da UnB”, relata Ilma Passos Veiga, um dos grandes nomes teóricos em desenvolvimento de projetos político-pedagógicos no país.
Com cinco livros publicados sobre o tema, Ilma investiga o assunto desde 1996, quando surgiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que rege o estabelecimento de projeto político-pedagógico nas instituições de ensino. “O PPPI prima pela gestão democrática, pela participação, que é tanto um valor como um desafio, e pelo diálogo; além do compromisso social, já que a UnB está envolvida no contexto local, regional e global”, resume.
HISTÓRIA – Mesmo tendo sido consolidado em 2018, o PPPI mantém ligação com as concepções fundadoras da Universidade de Brasília, na década de 1960. “Historicamente, a UnB teve seu projeto pedagógico, um documento inicial que procurou colocar no papel o que se queria para a instituição”, destaca Cristina Madeira, em referência ao Plano Orientador de 1962. “O texto de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro era um projeto político-pedagógico, apesar de não receber este nome na época”, compara.
Os princípios descritos no novo PPPI são aprofundados nos projetos pedagógicos de cada curso da instituição. “O documento tem fator pedagógico forte. Ele define a política de educação superior da Universidade, com orientações pedagógicas para os cursos de graduação e pós-graduação. Também descreve a incumbência pedagógica, política, filosófica e teórica da instituição: mostra a identidade da UnB na formação de educação superior”, destaca Ilma Veiga.