ATO PÚBLICO

Comunidade acadêmica e sociedade civil se manifestam em ato simbólico pró UnB. Parlamentares apresentaram à reitora iniciativas para contornar limitações orçamentárias das universidades brasileiras

Comunidade se reúne para dar um abraço simbólico na Universidade. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Mãos negras, pardas e brancas se agarraram firmemente e formaram um cordão em torno da Biblioteca Central da UnB, no campus Darcy Ribeiro. O colorido visto de longe tem origens em todos os cantos: são estudantes, professores, técnicos administrativos, mas também representantes da sociedade civil, entidades de classe e parlamentares, unidos por uma causa. O gesto presenciado na tarde desta terça-feira (7) simbolizou um abraço coletivo em defesa da Universidade de Brasília.

“Esse abraço é uma forma de dizer que nossas mãos estão juntas e não se soltarão, que a Universidade de Brasília está fiel à sua história e que nós vamos continuar avançando para preservar os direitos conquistados historicamente com sangue e suor”, declarou o ex-reitor da UnB José Geraldo de Sousa Junior.

Valorizar o que há de melhor nas universidades de todo o país, defender a autonomia universitária e alertar sobre a necessidade de recursos para a continuidade das atividades acadêmicas também foram objetivos do ato, em resposta a recentes cortes do orçamento das universidades.

Na semana passada, as instituições de ensino federais foram surpreendidas com um anúncio do Ministério da Educação (MEC) de bloqueio de 30% em suas dotações orçamentárias anuais. Na UnB, a retenção será ainda maior, cerca de 39%, o que representa perda de R$ 48,5 milhões.

Centenas de pessoas participaram da mobilização em defesa do ensino superior público. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

O Conselho de Administração (CAD) da UnB já havia manifestado, em nota divulgada na semana passada, receio quanto às consequências do bloqueio. Isso porque a decisão impacta diretamente no funcionamento das universidades.

Além de comprometer o pagamento de serviços básicos, como fornecimento de água, luz e telefone, a medida poderá trazer prejuízos à aquisição de itens para a manutenção das atividades de ensino, pesquisa e extensão, principais contribuições dadas pelas instituições à sociedade. 

Durante a mobilização, o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de Brasília (Sintfub) Edmilson Lima expressou sua apreensão com o panorama atual. O servidor lembrou as lutas históricas da UnB e a evolução vivenciada na última década, graças aos investimentos em Educação.

“Criamos inúmeros cursos e renovamos nosso quadro de professores e servidores. Em 2005, tínhamos menos de 80 prédios em toda a Universidade, hoje esse número se ampliou em 30%; houve crescimento significativo de alunos na graduação e pós-graduação, a universidade abriu portas para a juventude mais carente”, compartilhou.

Os cortes orçamentários preocupam não só os segmentos universitários, mas também os membros do Legislativo. Em discurso, o deputado Fábio Félix, presidente da comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara Legislativa do Distrito Federal, lembrou o papel fundamental desempenhado pelas instituições de ensino superior. “A universidade brasileira é um espaço importante de construção do conhecimento crítico, diverso, libertário. É onde a gente abre espaço para todas as vozes, para todas as concepções religiosas e ideológicas”, argumentou.

Parlamentares caminharam de braços dados até o prédio da Reitoria. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Marcelo Freixo, deputado federal, também reconheceu a importância das universidades para mudar a realidade do país. “Sou nascido e criado em periferia e sei o que a universidade representou para a minha vida enquanto possibilidade. A universidade tem que ser isso: um lugar de transformação da vida, de pensamento e reflexão para que a gente mude uma história opressiva e desigual”, salientou.

A estudante de Gestão de Políticas Públicas Ana Paula Santos participou da mobilização. Ela lamenta os impactos que os cortes podem trazer ao cotidiano de jovens acadêmicos. “Esse movimento mostra indignação não só dos alunos, mas da população como um todo. A Universidade vai além das fronteiras acadêmicas, pois transforma a vida de muitas pessoas e transformou muito a minha”, comentou. 

SOLIDARIEDADE
Após o ato, um grupo de parlamentares distritais e federais marchou junto à comunidade acadêmica até o prédio da Reitoria. No Salão de Atos, o grupo encontrou a reitora Márcia Abrahão, manifestou solidariedade à UnB e apresentou encaminhamentos deliberados em reunião da Frente Parlamentar pela Valorização das Universidades, nesta terça-feira (7).

Coordenadora da frente, a deputada federal Margarida Salomão destacou iniciativas para reverter a atual situação orçamentária das instituições brasileiras, entre elas a retomada das discussões na Câmara do Projeto de Lei Complementar (PLP) 8/2019. 

O projeto propõe que os recursos destinados no orçamento da União às instituições de ensino federais não tenham empenho e movimentação financeira limitados. O grupo também está avaliando a legalidade do bloqueio de orçamento das universidades. “Estamos estudando quais são as medidas judiciais a serem tomadas e as irregularidades nesse ato, para que possamos impedi-lo do ponto de vista legal”, informou.

Reitora Márcia Abrahão recebeu apoiadores no Salão de Atos da Reitoria. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

A reitora Márcia Abrahão agradeceu a mobilização de todos os segmentos em favor da instituição. Ela ressaltou que a administração superior tem congregado esforços, junto aos parlamentares, para sensibilizar o MEC quanto a importância das universidades brasileiras para o futuro do país.

“Vamos lutar muito para que não façamos mais nenhum sacrifício. Nós temos a missão constitucional de melhorar a vida da nossa população”, declarou a reitora.

“Precisamos que a nossa comunidade continue unida, entenda o momento difícil que estamos passando e participe das atividades para, juntos, ultrapassarmos esse desafio. A Universidade de Brasília e o povo brasileiro são muito maiores do que qualquer situação momentânea”, concluiu.

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.