No dia 20 de novembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o presidente da China, Xi Jinping, no Palácio do Itamaraty, em Brasília. O encontro para estreitar relações diplomáticas entre os países culminou com uma tradicional troca de presentes entre as delegações. Ao todo, 10 objetos combinando ancestralidade e inovação, com elementos da cultura e dos ecossistemas das duas nações, simbolizaram a amizade entre ambos os povos.
Uma das obras de destaque foi batizada de Aralong (2024). Criada por Christus Nóbrega, artista paraibano radicado em Brasília e professor do Departamento de Artes Visuais (IdA/UnB), a fotomontagem tem como base uma imagem da floresta amazônica, representando a exuberância e a complexidade dos ecossistemas tropicais.
Sobre essa base, um livro aberto é fixado, e suas páginas revelam uma imagem de mar, sugerindo um diálogo entre elementos terrestres e aquáticos (reinos da arara e do dragão – que, para a cultura chinesa, habita as águas). De dentro do livro, emergem recortes de silhuetas de plantas em acrílico transparente, fazendo alusão ao espírito da mata e sugerindo que os avanços tecnológicos podem caminhar lado a lado com o compromisso de preservar e respeitar o meio ambiente.
As silhuetas foram criadas a partir de fotos captadas de biomas chineses pelo docente, durante residência artística em 2015, pelo programa de intercâmbio cultural do Itamaraty. Christus Nóbrega foi o primeiro brasileiro a estudar na CAFA (Central Academy of Fine Arts) de Pequim. As silhuetas brasileiras, por sua vez, foram baseadas em registros feitos por Nóbrega em expedição no Acre, compondo assim um diálogo visual entre culturas e ecossistemas.
Adicionalmente, de dentro do livro surgem duas fotografias: uma retrata uma indígena Kayapó, etnia cujas mulheres são reconhecidas como guerreiras, que têm papel fundamental na defesa de seus direitos, terras e cultura. A segunda fotografia é uma imagem antiga de crianças chinesas, evocando a ancestralidade, a esperança e o futuro, conectando gerações e tempos distintos.
No centro da narrativa visual destaca-se a figura de Aralong, personagem mitológica que dá nome à obra. Na concepção de Aralong, o artista imaginou uma quimera que une as figuras de uma arara, símbolo da Amazônia, e um dragão chinês, guardião das águas. A fusão das duas criaturas busca criar um símbolo de irmandade entre Brasil e China, representando a conexão entre as culturas e a potência de seus ecossistemas.
O professor Christus Nóbrega destaca que, "embora Aralong seja uma obra autoral, ela reflete as discussões e estímulos promovidos pelo ambiente acadêmico do Departamento de Artes Visuais".
"A UnB desempenhou um papel essencial nesse processo, fornecendo suporte institucional e intelectual. Por isso, acredito que a Universidade pode se sentir amplamente representada por este presente, que simboliza a capacidade da arte-educação de articular diálogos culturais significativos no cenário internacional", complementa.
A vivência na CAFA em 2015 abriu portas para que o pesquisador aprendesse novas técnicas e processos em arte contemporânea e incorporasse em seu estilo o que viu no ensino das artes na China. A conexão estabelecida entre Brasil e China por meio da arte e o canal aberto com o Itamaraty resultaram no convite para a produção de um dos presentes dados à comitiva de Xi Jinping.
"Estar no Itamaraty para apresentar a obra à comitiva chinesa me permitiu contextualizá-la e destacar como ela reflete a riqueza da cultura brasileira ao mesmo tempo em que dialoga com a tradição chinesa. Foi um momento de celebração da arte como uma ponte entre os povos e um símbolo do compromisso de ambas as nações com um futuro de cooperação e intercâmbio cultural.
>> Veja aqui informações sobre os outros presentes trocados entre Brasil e China
*com informações da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom/PR).