TRAJETÓRIA MARCANTE

Formação de professores com uma visão decolonial é um dos objetivos do Gecal, criado no Instituto de Letras da UnB

Colóquio virtual Translinguagem e Educação Linguística Crítica no Sul Global. Da esquerda para a direita: Zhongfeng Tian, Rafi Saleh, Kleber Silva e Neuda Lago. Imagem: Reprodução

 

Com o apoio de agências de fomento como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico de Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) e a Spencer Foundation, o Grupo de Estudos Críticos e Avançados em Linguagens (Gecal/IL/UnB) acaba de completar dez anos. 

 

"Ao completar uma década de atuação, o Gecal se consolida como um espaço crucial para a pesquisa e reflexão no campo das linguagens", destaca o doutorando em Linguística na UnB Lauro Sérgio Machado, professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) e um dos fundadores do Gecal. "Nesse período, o grupo de pesquisa tem promovido debates interdisciplinares, contribuindo para o avanço do pensamento crítico em Linguística e Linguística Aplicada", diz.

 

Além de contribuir com a formação de pesquisadores, o Gecal incentiva a produção acadêmica e o diálogo entre diferentes vertentes teóricas, e também fomenta a inovação e o questionamento sobre os desafios contemporâneos das linguagens. "Sua trajetória evidencia não só a relevância dentro da UnB, mas também seu impacto no cenário acadêmico brasileiro", diz Lauro.

 

Coordenado pelos professores Kleber Silva (IL) e Paula Cobucci (FE), o grupo de 45 pesquisadores realiza leituras e estudos críticos sobre linguagens e culturas com o objetivo de formar professores de línguas, diversidade e direitos humanos a partir de uma nova perspectiva, a da descolonização, primeiro no campo da linguagem e das relações internacionais, para então reconstruir outras áreas do saber.

 

A ideia é romper com o colonialismo europeu ainda presente entre os povos colonizados do chamado Sul Global. Colonialismo este que impede seu desenvolvimento.

 

Em busca desse objetivo, congressos internacionais e colóquios virtuais são algumas das atividades realizadas. Coleções de livros na área de Linguística Aplicada Crítica, Educação Crítica e Relações Internacionais foram lançadas por diferentes editoras, como Mercado de Letras, Vozes e Contexto, além de publicações pelas editoras Routledge, Multilingual Matters e Palgrave.

 

"As línguas abarcam questões culturais e permitem que os educadores construam outras práticas capazes de refletir uma nova forma de pensar, ser, saber, sentir e agir no mundo", diz Kleber ao destacar o papel das artes, comunicação, relações internacionais e de outras linguagens no alcance da equidade e da justiça social.

Lançamento do livro Por perspectivas críticas e decoloniais: narrativas de esperança, em 2023, no auditório do Instituto de Letras (IL/UnB). Foto: Arquivo Pessoal

 

Para o professor, o colonialismo foi muito mais do que um capítulo macabro na história da humanidade, ao longo do qual um grupo de nações europeias se auto outorgaram o direito de se lançar numa aventura predatória rumo a distantes povos da África, Ásia e América Latina, submetendo-os a inomináveis iniquidades e humilhações, sugando impiedosamente suas riquezas e deixando-os na penúria e total desamparo.

 

"O colonialismo tomou conta da mente dos povos e, adiciono também, da mente de muitos linguistas e educadores dentro do regime de escravatura, ainda que muitas vezes disfarçado com outros nomes e eufemismos engenhosos", diz.

 

Para os próximos anos, o grupo busca difundir essa outra forma de fazer ciência em que comunidades que se mantêm à margem pela ausência de políticas públicas e políticas educacionais, como a indígena, a negra, a de imigrantes em crise, a comunidade surda, entre outras, possam ser não só ouvidas mas ter participação ativa na construção do conhecimento.

 

“Ainda hoje há pesquisadores que têm como objetivo principal apresentar, discutir e problematizar questões de língua e relações internacionais a partir de epistemologias e ontologias que muitas pessoas não compreendem e que refletem, a meu ver, um fazer, pensar e agir do Norte Global", acrescenta Kleber. 

 

O doutorando em Linguística na UnB e professor do IFNMG Lauro Sérgio Machado reforça a abordagem decolonial do grupo de pesquisadores. "Isso significa que, ao mesmo tempo em que a pesquisa científica reconhece o capitalismo como um elemento integrante do sistema-mundo contemporâneo, ela questiona pressuposições prevalecentes e imagina possibilidades alternativas."

 

Um exemplo prático dessa abordagem, elencado por Lauro Sérgio, ocorre quando o Gecal escolhe aplicar em suas pesquisas um quadro teórico sustentado principalmente por estudiosos posicionados epistemologicamente no Sul Global, tensionando o status quo do conhecimento produzido no Norte Global.

 

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