DIREITOS HUMANOS

Encontro reafirma compromisso da UnB com o acolhimento de pessoas em situação de refúgio

Reitora Rozana Naves em encontro com representantes do Acnur, da Cátedra Sérgio Vieira de Mello e estudantes em situação de refúgio. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

A reitora da Universidade de Brasília, Rozana Naves, reuniu-se na tarde de segunda-feira (9) com o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi, e com representantes da Cátedra Sérgio Vieira de Mello. O encontro reafirma o compromisso da UnB com o acolhimento e a inclusão de pessoas refugiadas. O diretor regional da agência da ONU para Refugiados (Acnur) nas Américas José Samaniego e o representante do Acnur no Brasil Davide Torzilli também estiveram presentes. 

 

Grandi agradeceu as ações de apoio à população migrante desenvolvidas no âmbito universitário e ressaltou o papel do Brasil na inclusão de pessoas em deslocamento forçado. “O que vocês fazem é precioso, uma contribuição muito importante”, disse. “O Brasil está na vanguarda da inclusão de refugiados, especialmente nos últimos anos.” Ele destacou a importância da liderança brasileira nesse momento de aumento significativo dos fluxos migratórios e deslocamentos no mundo.

 

“A Universidade de Brasília tem contribuído muito no campo da pesquisa, do ensino e da extensão com a temática das migrações e do refúgio”, disse a reitora que, ao final da reunião, reforçou a importância da educação e das universidades no processo de inclusão social e econômica.

 

A reitora citou grupos de pesquisa e políticas de acolhimento existentes na UnB, como o Observatório das Migrações e a isenção de taxas para revalidação de diplomas. Também destacou parcerias com órgãos governamentais, como Ministério das Relações Exteriores e Defensoria Pública da União. Recentemente, uma das parcerias com o governo do Distrito Federal (DF) resultou na criação de área específica para migrantes no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), apontou Rozana.

 

“Parcerias em rede são importantes para o avanço da pesquisa, extensão e acolhimento”, acrescentou, após saudar professores de outras universidades presentes que atuam em projetos de cooperação com o Acnur. Criada em 2003 pela ONU em parceria com instituições de ensino superior brasileiras para promover atividades de ensino, pesquisa e extensão sobre o tema, a Cátedra Sérgio Vieira de Mello reúne atualmente 104 professores de 45 instituições diferentes. A UnB aderiu à Cátedra em 2017. 

O venezuelano Jesus Alberto León fala sobre sua trajetória como estudante refugiado no Brasil: "A universidade transformou a minha vida e me deixou uma pessoa mais sensível para as questões migratórias". Foto: Raquel Aviani/Secom UnB 

 

BUSCA PELA INTEGRAÇÃO – Coordenadores da Cátedra, professores que atuam com o tema e estudantes universitários em situação de refúgio participaram do encontro que aconteceu no Salão de Atos da Reitoria, campus Darcy Ribeiro, ocasião em que puderam compartilhar algumas de suas experiências.

 

A professora do Instituto de Letras (IL) e atual coordenadora da Cátedra Sérgio Vieira de Mello na UnB Susana Martínez citou alguns projetos realizados. Entre eles, o ensino de português como língua de acolhimento, “que se replicou em muitas universidades graças à rede das cátedras”, a assistência sociolinguística, que conta com um banco de intérpretes para ajudar no acesso a direitos e serviços públicos, inclusive de pessoas indígenas, e a elaboração e implementação de políticas públicas para integração de crianças imigrantes e refugiadas nas escolas brasileiras. “Trabalhamos com muito amor e paixão, de forma voluntária, dedicando algumas horas à Cátedra e mobilizando uma grande quantidade de alunos de graduação e pós-graduação”, disse.

 

Viviane Mozine, professora da Universidade Vila Velha (UVV), descreveu o trabalho da Cátedra Sérgio Vieira de Mello desde a sua criação e destacou novos desafios. “São 20 anos de Cátedra no Brasil”, disse. “Nossos três eixos –  pesquisa, ensino e extensão – estão voltados para os refugiados. O Brasil é líder em inclusão acadêmica de refugiados.” Para mostrar o tamanho do desafio atual, a professora lembra que, em 2004, no Espírito Santo, um refugiado era atendido por ano, hoje são 1.300, “no mínimo”. Atualização de material de referência sobre direito internacional dos refugiados, capacitação de professores, estudantes, agentes públicos e ONGs, parceria com empresas, maior articulação das cátedras, replicação de boas práticas em outros países e intercâmbio de experiências são alguns dos desafios apontados.

 

O professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Gilberto Rodrigues apontou que a Cátedra iniciou com a ideia de ser um instrumento de difusão do Direito Internacional dos Refugiados, mas passou a atuar em várias frentes, tendo se tornado uma “ótima iniciativa com uma maravilhosa experiência acumulada”. É também um caso raro de cooperação Sul-Norte em que é possível contribuir não só com países homólogos da África e da Ásia, mas também com países desenvolvidos nesse campo.

 

ESTUDANTES – Há sete anos no Brasil, a haitiana e estudante de Enfermagem da UnB Kenderloude Simeon relatou parte de sua experiência. “Muitas coisas já melhoraram, mas ainda tem coisas para melhorar sobre a questão da integração de estudantes estrangeiros”, disse. “Passei por muitas dificuldades porque não conseguia acessar os auxílios. Lembro que uma vez num sábado paguei o aluguel e, no domingo, fiquei sem dinheiro para o transporte.” Hoje Kenderloude mantém-se com os auxílios que recebe e ajuda, como intérprete voluntária no projeto Mobilang do Instituto de Letras, a sanar as dificuldades encontradas por outros estudantes estrangeiros que chegam à Universidade. “Vi na prática a diferença que isso faz no acesso aos serviços públicos.”

 

“Em 2017, quando cheguei ao Brasil, não tinha tanto o apoio das universidades”, lembra o venezuelano e estudante de Relações Internacionais Jesus Alberto León. “Passei por vários processos seletivos e, por falta de alguns documentos, não consegui acessar [os cursos].” Aprovado na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), León utilizou o serviço de acompanhamento para estudantes refugiados. “Muito importante para a gente se inserir dentro da universidade”, observa. Sensível a essa causa, o estudante decidiu participar de projetos de pesquisa e extensão que possam ajudar outros na mesma situação. “Fui às escolas entrevistar crianças de diferentes países para a gente construir uma cartilha de boas práticas de acolhimento”, disse, em relação a uma atividade realizada recentemente em Foz do Iguaçu.

 

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