PRIMEIRO DIA

Objetivo do evento é promover debate que culmine em formulação de políticas na UnB. Encontro acontece em dois dias e é aberto à comunidade

 

Mesa de abertura do Seminário Segurança se Faz em Comunidade e com Respeito à Diversidade. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

Reunidos no auditório da ADUnB na manhã desta quarta-feira (29), representantes da administração superior da UnB e do governo de Brasília, profissionais de segurança, professores e estudantes participaram da abertura do Seminário Segurança se Faz em Comunidade e com Respeito à Diversidade. Realizado pelo Decanato de Extensão (DEX), o encontro acontece em dois dias – nesta quarta e quinta-feira – e faz parte da série de atividades comemorativas pelos 55 anos da Universidade. 

 

Segundo membro da comissão organizadora do seminário, professora Mônica Nogueira, o interesse é iniciar as conversações sobre o tema, com contribuição de diversos setores da Universidade. A partir disso, a expectativa é que haja subsídios para uma futura formulação de diretrizes voltadas à política de segurança da instituição.

 

TEMA COLETIVO – A mesa de abertura foi composta pela reitora da Universidade, Márcia Abrahão; pela decana de Extensão (DEX), Olgamir Amancia; pelo decano de Assuntos Comunitários (DAC), André Reis; pelo prefeito do campus (PRC), Valdeci Reis; e pelo subsecretário de Gestão da Informação da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz Social (SSP/DF), Marcelo Durante.

 

Também participaram do evento a decana de Planejamento e Orçamento (DPO), Denise Imbroisi; o diretor da Faculdade de Planaltina (FUP), Marcelo Bezerril; o deputado distrital Israel Batista; Rita Poly, representante da senadora Vanessa Grazziotin, e Marina Reidel, da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça e Cidadania.

 

“O tema é extremamente complexo. Não pode ser entendido apenas do ponto de vista policial. Precisa de pontos de vista diversos e de ser construído com o coletivo”, afirmou Olgamir Amancia (DEX), ao início das atividades. “A ideia é lançar aqui um fórum permanente de discussão de segurança na UnB. Para termos um ambiente de paz, de tolerância e de respeito”, prosseguiu.

 

De acordo com o decano de Assuntos Comunitários, André Reis, é necessário encontrar respostas para a Universidade e para a sociedade. “Este seminário vai fazer parte da história da UnB acerca do tema e, quiçá, dará material para a formulação de políticas públicas no Distrito Federal”, disse. 

Para o prefeito Valdeci Reis, Universidade não pode abrir mão de sua responsabilidade sobre as temáticas de segurança. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

O prefeito Valdeci Reis afirmou que a UnB está em contato com o governo de Brasília para interagir e melhorar questões do campus. “Uma das iniciativas que estamos estudando são os projetos de vitimização, em que se mapeia ilhas de violência na cidade. Como gestores, não podemos nos furtar de nossa responsabilidade. A UnB é o berço da educação. Temos todas as tecnologias aqui dentro. Precisamos colocar em prática essa expertise e aplicar aqui dentro”, opinou.

 

Representante da SSP/DF, Marcelo Durante instigou os presentes a refletir qual seria a solução para a segurança pública. “É possível resolver apenas usando a polícia? Pesquisas ao redor do mundo indicam que não. Mais do que colocar polícia na rua, precisamos juntar esforço da polícia com ações sociais. Desenvolver uma cultura da paz, com respeito, tolerância, voltada para controle do conflito e não para o combate”, disse. O gestor apontou ainda a necessidade de se fazer o diagnóstico correto sobre a atual conjuntura, para então desenhar uma política de segurança.

 

MEDO – Marcelo Durante destacou a necessidade de considerar o impacto da sensação de insegurança no contexto dessas políticas. “Crime e sensação de medo não são sinônimos. Independentemente da situação do crime, o DF tem os índices mais altos de medo. Ao mesmo tempo que precisamos ter política para tratar a violência, precisamos ter políticas para tratar o medo”, explicou.

 

Algumas das ações feitas pela Universidade de Brasília para tentar reduzir os índices de violência e a sensação de insegurança, como a poda de mato alto e a identificação dos pontos de falta de iluminação, foram citadas pela reitoria Márcia Abrahão. “Além disso, aproveitamos um sistema desenvolvido pelos estudantes de Engenharia que funciona como aplicativo para Android ou site, o UnB Alerta”, acrescentou.

 

“A segurança não se encerra com essas ações. Há também ações pedagógicas, de orientação, formação da nossa comunidade e da sociedade. Aqui, lidamos com vários tipos de violência, como as de gênero, de raça, contra orientação sexual, os assédios. São desafios enormes”, avaliou a reitora.

 

SEGURANÇA E GÊNERO – A mesa de diálogo Os Desafios da Segurança Pública e a Violência de Gênero foi o primeiro painel do seminário. Nela, a professora Lourdes Bandeira, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (Nepem/UnB), destacou as grandes desigualdades sociais presentes em ambientes universitários. “Em especial, as estudantes, as jovens mulheres, as jovens mulheres negras e pobres. A violência de gênero trata de fato social, não exclusivo da UnB, mas que se manifesta aqui como trote, assédio, estupro e até assassinato”, disse.

 

“Essas práticas são precedidas por violências verbais, ameaças, humilhações, intimidações, associadas a outras violências físicas. Envolvem, sobretudo, alunas calouras, no rito de entrada. E as que tiveram pouco convívio no espaço acadêmico”, detalhou. Lourdes Bandeira citou dados de pesquisa realizada pelo Instituto Avon, em 2015. O levantamento aponta que 67% das estudantes das universidades de São Paulo relataram ter vivido algum tipo de violência. “Além disso, há normatização do estupro corretivo praticado contra jovens lésbicas."

 

A professora Cristina Zackeski, do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança (Nevis/UnB), frisou que as políticas de contenção à violência contra mulher focam na circulação nos espaços públicos. “A rua é apontada como local do perigo, mas os mapas de vitimização apontavam a casa e o trabalho como locais de violência. Isso evidencia que as políticas estão focadas em problemas antigos de deslocamento, sendo que as violências ocorrem em locais tidos como mais seguros.”

 

Mediador da mesa, o professor Arthur Trindade (Nevis/UnB) voltou ao tema medo e reforçou o impacto negativo deste sentimento na vida em sociedade. “Causa ansiedade, gera limitações à circulação no espaço público”, listou. Para Trindade, faz-se necessário saber quais são, de fato, os principais problemas de segurança da UnB. “Temos fortes intuições, mas não sabemos. Normalmente nossas respostas são muito machistas. Qual é a maior causa do medo? Precisamos saber qual o problema, em diversas dimensões. Precisamos fazer um gerenciamento de riscos. Quais são os principais grupos de riscos? Quais são as maiores situações de risco? Do que a comunidade acadêmica tem mais medo?, instigou. “Arrisco dizer que giram em torno de problemas graves de assédios, estupros, ameaças sexuais, roubos e furtos."

 

Por fim, Lourdes Bandeira lançou uma provocação: “Evitamos falar disso, mas precisamos falar sobre o consumo de drogas e de álcool na UnB”, disse, em convite para a segunda parte do seminário, cuja primeira palestra se propôs a debater o tema Segurança, Saúde Mental, Uso e Abuso de Drogas.

 

O segundo dia do seminário, nesta quinta-feira (30), terá grupos de trabalho para debater os temas discutidos na tarde de quarta-feira. Ao final, haverá encaminhamentos sobre as proposições. O evento é aberto à comunidade acadêmica. Tendo em vista a proposta de construção de diálogo com diversos setores da população universitária, a participação é incentivada. Confira a programação.

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