Um especialista em Física palestra aos clientes de uma cervejaria sobre a presença da água no universo, tudo isso em pleno momento de happy hour. A cena, que pode parecer atípica, aconteceu na noite desta terça-feira (16) – a penúltima do festival Pint of Science Brasília, que levou à discussão temáticas científicas atuais em linguagem leiga para três bares da cidade, cada um voltado a públicos distintos.
O professor universitário Cláudio de Sousa é graduado e pós-graduado em Física na UnB. Ele apresentou a clientes de uma cervejaria artesanal, localizada no Setor de Oficinas Norte, dados que questionam a crise hídrica no Distrito Federal. “Aritméticas simples nos mostram que era possível prever a escassez e implementar soluções antes de chegarmos aonde estamos”, afirmou.
De acordo com as informações trazidas pelo professor, o consumo de água dos brasilienses facilmente ultrapassa a capacidade de vazão dos reservatórios. "Isso atribuindo um consumo médio de 50 a 150 litros por pessoa, o que corresponde a, no mínimo, 100 litros a menos que o consumo de um europeu."
ÁGUA EXTRATERRESTRE – Ao mostrar uma simulação de como era Vênus há três bilhões de anos, Cláudio de Sousa explicou que o planeta tinha uma composição similar à da Terra, com grande área coberta por água. “Ao compararmos o antes e o depois de Vênus vem a pergunta: ‘mas aonde foi parar essa água toda?’. Ela desapareceu por conta do efeito estufa, similar ao que acontece aqui”, defendeu.
A busca de água em outros planetas, uma das hipóteses expostas pelo professor, provocou reações animadas da plateia, que pôde fazer perguntas após a apresentação.
“Isso considera outras formas de vida não similares às da Terra?”, questionou o biólogo Stefano Aires, que estava acompanhado de mais quatro amigos. Apesar da ressalva do palestrante, sobre essa não ser sua área de especialidade, ele se arriscou a responder: “Provavelmente sim, os elementos do universo são os mesmos e nada impede que a formação de outros tipos de vida se dê com as mesmas necessidades.”
O PÚBLICO – A plateia, composta por leigos e profissionais da área, aprovou o evento. “Sou curioso e acho que isso é o essencial. Achei a linguagem muito acessível e gostaria que tivesse mais vezes”, afirmou o servidor público Rafael Alves. “Meus alunos de ensino médio teriam entendido com tranquilidade”, opinou Thiago da Costa, professor de Física para a educação básica.
“Acho que começou bem restrito, com mais pessoas que são do meio, mas para um primeiro evento foi bem legal”, ponderou a bibliotecária Viviane Veras.
Estudante de Ciências Naturais da Faculdade UnB Planaltina (FUP), Rayanne Pinheiro achou o tema muito interessante e por isso decidiu participar da conversa. “Gostei de aprender que em Vênus tinha tanta água e me surpreendi com a imagem de três bilhões de anos. Eu confundiria com a Terra”, disse.
ORGANIZAÇÃO – Em Brasília, o festival Pint of Science foi organizado por docentes da UnB e da Universidade Católica de Brasília (UCB). “Já conhecia a iniciativa. Quando soube que a ideia era trazê-la para Brasília, liguei para o professor Eduardo Bessa (da UnB) e falei que queria ser parte”, conta o Físico da UCB Diego Nolasco. Ele considera que é necessário trazer a ciência para perto do público e não só dos cientistas. “Essa é a grande sacada.”
Para o docente, a primeira edição do evento em Brasília foi positiva. “Teve família que participou e, quando o cientista começou a falar, os filhos pararam de brincar para ouvir a palestra”, relatou, deixando no ar o convite para a próxima edição: “Quem quiser ser parte, pode vir. Estamos de portas abertas.”