O cenário não poderia ser mais oportuno. Em meio à maior crise hídrica da história do Distrito Federal, pesquisadores, autoridades e representantes de movimentos da sociedade civil se reúnem nos dias 11 e 12 de janeiro para discutir a sustentabilidade e a conservação da água sob a perspectiva de diversos saberes e olhares. Águas pela Paz é o mote do II Seminário Internacional Água e Transdisciplinaridade, que será realizado no Museu Nacional de Brasília. O evento é aberto e gratuito ao público.
A Universidade de Brasília compõe o grupo de realizadores do seminário, em conjunto com Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade (Cirat), Instituto Espinhaço, Movimento Awaken LOVE, Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal (Sema/DF), Unesco Brasil e Universidade da Paz (UniPaz). A confluência dos saberes científico, filosófico, artístico, simbólico e espiritual movimenta o debate de questões relacionadas a ética, direitos humanos, sustentabilidade, educação, inovação e paz no relacionamento com recursos hídricos.
“A iniciativa representa a visão sistêmica da produção de saberes. Eles existem na universidade, nas comunidades tradicionais, nas experiências, nas artes, nas religiões, no dia a dia. É uma rede”, assinala Vera Catalão, professora da Faculdade de Educação (FE) da UnB e uma das palestrantes do painel sobre plataformas internacionais, pesquisa, inovação e sustentabilidade da água.
Também integrante do Comitê Deliberativo do Seminário, a docente enfatiza que a paz só pode ser celebrada quando há comunhão de diferenças. “Os saberes da academia são tão relevantes quanto as experiências das comunidades, que nos ensinam muito sobre o respeito ao elemento água. Já a noção do sagrado é fundamental para o cuidado com a água. A construção de uma cultura de paz precisa dessa visão de profundo respeito ao outro.”
PROGRAMAÇÃO – O evento conta com pesquisadores e ativistas brasileiros e estrangeiros. Além da professora Vera Catalão (UnB), participam Beverly Rubik (PhD em Biofísica pela Universidade da Califórnia), Harry Jabs (Institute for Frontier Science de Oakland, Califórnia), André Lima (Comissão de Sustentabilidade da OAB-DF); Moema Libera Viezzer (consultora especializada em relações de gênero e meio ambiente) e Álvaro Tukano (diretor do Memorial dos Povos Indígenas). A palestra magna será ministrada pelo líder espiritual Sri Prem Baba.
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Estão programadas outras atividades espirituais, musicais, apresentação de trabalhos acadêmicos, práticas corporais e oficinas, duas delas facilitadas por docentes da UnB. Rita Silvana dos Santos, da FE, abordará educação e governança transdisciplinar da água a partir da simulação de expedição pedagógica em uma bacia hidrográfica.
A professora Maria do Socorro Ibañez, do Departamento de Ecologia, trabalhará a água como matriz ecopedagógica. A ideia é promover o intercâmbio entre conhecimento, sentimentos e experiências dos participantes, tendo a água como elemento gerador. A metodologia proposta “se utiliza da arte, da observação da natureza, do uso do símbolo e do movimento do corpo aliados a fatos do cotidiano da vida das pessoas”, comenta a pesquisadora.
Na UnB, Maria do Socorro Ibañez e Vera Catalão coordenam o projeto de extensão Água como Matriz Ecopedagógica, com ações que envolvem diversas áreas do conhecimento científico sobre a água, por meio de órgãos, como a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal – em especial a Escola da Natureza –, organizações não governamentais e outras instituições. A iniciativa existe há 15 anos.
“O nosso raio de ação é a escola. Com o apoio de estudantes e docentes da UnB e de organizações parceiras, a direção, os professores, os estudantes e os funcionários das escolas tornam-se os agentes de mudança de hábitos, de disseminação de novos conhecimentos e de mobilização de atitudes e competências favoráveis à uma consciência cidadã em prol das águas”, explica Ibañez.
DOCUMENTO – Durante todo o seminário, os participantes podem contribuir com a Carta Águas pela Paz, que será remetida ao 8º Fórum Mundial da Água e ao Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA 2018). A professora Vera Catalão explica que o documento apresenta os pleitos e as visões transdisciplinares sobre as questões da água em período de escassez. “Nesse ponto, nos aproximamos muito do FAMA com a bandeira de que água não é mercadoria, mas direito humano", enfatiza.
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