Toda semana, sete ou oito metros cúbicos de resíduos verdes são coletados no campus Darcy Ribeiro da UnB. O material é resultado da poda de árvores e limpeza de canteiros. Até maio de 2017, grande parte desses rejeitos era descartada em aterros sanitários, fato que gerava despesas para a Universidade e ia na contramão de atitudes para a promoção da sustentabilidade.
Para mudar isso, um projeto encabeçado pela Assessoria de Sustentabilidade Ambiental (ASA), em parceria com a Prefeitura do campus (PRC), propôs uma alternativa ecológica para a destinação dos resíduos. Ao invés de desprezados, galhos de árvores, folhagens e restos de grama passaram a ser reaproveitados por meio da compostagem. A técnica consiste no controle do processo natural de decomposição da matéria orgânica para obtenção de produto rico em nutrientes, que pode ser utilizado como adubo natural na jardinagem.
Em curso há mais de um ano, a medida atende a objetivos estabelecidos pela Universidade em seu Plano de Logística Sustentável (PLS). O objetivo principal é aproximar a comunidade das boas práticas ambientais e reduzir impactos provocados pela geração de lixo. O sistema teve seu modelo inspirado em política adotada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e está de acordo com as normas legais para gerenciamento de resíduos sólidos.
“O processo da compostagem de material verde é fundamental para a mudança de comportamento no uso e na destinação final dos nossos resíduos. Estamos cuidando dos nossos rejeitos da melhor maneira possível”, ressalta o coordenador da ASA, Pedro Zuchi, à frente do projeto.
Os resíduos tratados têm sido empregados como adubo orgânico em alguns pontos do campus Darcy Ribeiro, como canteiros do ICC e de rotatórias.
Coordenador de Parques e Jardins na PRC, Matheus Maramaldo enumera algumas vantagens já percebidas a partir da adoção do sistema. “A adubação química foi reduzida, alcançamos melhora nos quesitos físicos dos jardins e diminuímos a necessidade de irrigação. Com a nutrição gradativa, a umidade é mantida”, destaca.
Na avaliação de Pedro Zuchi, além de contribuir para minimizar os danos ambientais provocados pela produção excessiva do lixo, a iniciativa também gera economia para a Universidade.
Uma estimativa realizada por estudantes e técnicos da UnB das áreas de Arquitetura, Economia, Ciências Ambientais e Agronomia, sob a coordenação do docente, calculou os custos evitados e os benefícios trazidos, a partir de dados da fase inicial de implementação do projeto.
O estudo demonstrou que a adoção do sistema pode gerar economia de R$ 36.721 anuais e de R$ 3.060 mensais para a Universidade.
Os cálculos contemplaram despesas com transporte, compra de adubos químicos e aterramento dos rejeitos. Se considerados os benefícios totais, que incluem a produção de adubo natural como insumo para a Universidade, a redução de despesas anuais chega a R$ 48.180 – uma média mensal de R$ 4.015.
Estudante de Economia, Bernardo Maciel é um dos envolvidos na pesquisa. Ele acredita que as projeções podem auxiliar na gestão do processo, além de oferecer informações que permitam seu aperfeiçoamento. “O estudo auxilia no planejamento do projeto, ao prover tanto instruções técnicas para a planta do local, materiais e trabalho necessários, quanto uma previsão dos resultados futuros”, argumenta.
ETAPAS – Em agosto de 2018, o projeto de compostagem passou a integrar oficialmente as estratégias institucionais para promoção da sustentabilidade, após ser acrescido ao contrato de prestação de serviços de jardinagem. Desde então, a execução tem sido monitorada por meio do dimensionamento mensal do quantitativo de resíduos compostado, para consolidação e aprimoramento da iniciativa.
"Os contratos de jardinagem não previam processos e procedimentos de preparação do material para o sistema de compostagem. A partir deste ano, com o novo termo para manutenção de parques e jardins, conseguimos incluir as fases de preparo, manuseio e elaboração final do produto oriundo dessa compostagem", esclarece Zuchi.
Antes de chegar aos jardins, os resíduos passam por uma série de procedimentos, que envolvem desde a coleta até a separação de outros materiais misturados, a trituração das folhas e dos galhos e o empilhamento dos sedimentos. Para acelerar o processo e garantir o bom resultado da decomposição, as pilhas são irrigadas periodicamente e têm calor e umidade controlados. Todas as etapas são realizadas em espaço localizado na Prefeitura do campus.
São necessários de 90 a 180 dias para que a matéria seja decomposta e transforme-se em adubo, pronto para ser utilizado na jardinagem. Há técnicas de aproveitamento de resíduos que possuem um processo de degradação mais célere, mas não com tantos benefícios, como garante Matheus Maramaldo. “A compostagem de resíduos verdes tem cheiro reduzido, não gera grande quantidade de insetos e nem chorume, danoso ao meio ambiente”, enumera.
AMPLIAÇÃO – A Assessoria de Sustentabilidade Ambiental tem planos para aumentar a abrangência do projeto, com a adequação da infraestrutura para recepção dos resíduos, inclusão da oferta do serviço aos demais campi e obtenção de licença ambiental para compostagem de resíduos orgânicos.
Cerca de quatro toneladas de lixo são geradas na UnB diariamente. Desses rejeitos, 60% são encaminhados ao aterro sanitário, volume considerado preocupante. “A partir do ano que vem, teremos que pagar para descartar nossos resíduos orgânicos. Se fizermos o reaproveitamento do material, vamos conseguir atingir metas, como reduzir os custos do contrato para levar o rejeito”, avalia Zuchi.
O coordenador da ASA enfatiza ainda que a estruturação definitiva do projeto potencializará o estabelecimento de um campo de pesquisas para estudantes e docentes de graduação e pós-graduação interessados na área.
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