TECNOLOGIA

Atividade integra preparativos para lançamento do dispositivo nos Estados Unidos. Expectativa é que aparelho filme, a partir da estratosfera, o eclipse solar total que ocorrerá em agosto. Grupo busca apoio financeiro para a missão

 

Equipamento foi construído pela equipe do projeto LAICAnSat, sob os padrões de um nanossatélite. Foto: CAsB/Divulgação

 

Um experimento realizado pela equipe do projeto LAICAnSat, da Universidade de Brasília, levou pela terceira vez uma plataforma de baixo custo à estratosfera. O equipamento, que tem estrutura similar a um satélite, foi projetado para coleta de dados atmosféricos e registro de imagens da superfície terrestre. O lançamento mais recente aconteceu em 22 de abril, na cidade goiana de Padre Bernardo, a mais de 100 km de Brasília. A atividade foi conduzida com apoio da Força Aérea Brasileira.

 

A etapa fez parte da preparação do grupo para realizar um outro lançamento, desta vez nos Estados Unidos. O dispositivo será enviado para filmar, em grande altitude, o eclipse solar total previsto para ocorrer no dia 21 de agosto. O fenômeno será visível apenas no hemisfério norte.

 

>> Veja o vídeo em time lapse dos preparativos para o lançamento ocorrido em abril

 

Enviado por meio de um balão estratosférico, o LAICAnSat-3 – nome dado ao equipamento – atingiu, durante o teste, aproximadamente 18 km de altitude, em voo de 1h30. O objeto com cerca de 3 kg aterrissou a uma distância de 31,9 km do ponto de partida, amparado por um paraquedas para reduzir a velocidade de queda e garantir a preservação da estrutura durante o pouso. 

Plataforma foi lançada de um balão estratosférico que atingiu 18 km de altitude Foto: CAsB/Divulgação

 

Entre os dados coletados estão temperatura, pressão atmosférica e umidade, além de 20 minutos de imagens em 360º da área sobrevoada, gravadas por meio de uma câmera acoplada. O balão resistiu à temperatura mínima de 34 graus negativos e à pressão de 70,5 mbar.

 

“O projeto encontra-se na fase de consolidação da plataforma, para que possamos avaliar, numa próxima etapa, especificamente a partir da capacidade, que tipo de serviço pode ser oferecido e quais experimentos científicos poderemos embarcar na estrutura”, avalia Renato Borges, coordenador do projeto e professor do curso de Engenharia Elétrica.

 

O docente relata que o equipamento foi aprimorado desde os lançamentos anteriores. Além de ganhar nova estrutura, desenvolvida no padrão CubeSat – utilizado pela NASA para a elaboração de nanossatélites –, os componentes eletrônicos foram aperfeiçoados com a incorporação de nova placa e software, concebidos por estudantes que integram o projeto. O artefato é fabricado com material plástico denominado PLA, a partir da impressão em 3D, mesclado a estruturas metálicas.

 

“Essa é uma oportunidade de os alunos realmente verem a engenharia sendo aplicada”, relata Lorena Tameirão, voluntária no projeto e mestranda em Sistemas Mecatrônicos. Como próximo passo, está previsto o acréscimo de um controle autônomo de pouso para facilitar o procedimento de resgate da plataforma. Atualmente, os experimentos contam com o apoio de radioamadores do Grupo Mutum para realizar o rastreamento.

 

Confira o vídeo gravado em 360º do lançamento do LAICAnSat-3:

 

MISSÃO ECLIPSE – Outros dois testes devem ocorrer antes da ação para registro do eclipse solar. O próximo está previsto para o dia 10 de junho. Os experimentos contemplam o Projeto Kuaray, criado em parceria com o Clube de Astronomia de Brasília (CAsB) e o Grupo Mutum de Rádio Expedição. Com foco na participação da atividade nos Estados Unidos dentro do Eclipse Ballooning Project  – patrocinado pela NASA –, o Kuaray realizará a captação de imagens do fenômeno junto com uma das equipes de universidades americanas integrantes da ação. “Essa será nossa primeira grande missão. É um desafio muito interessante do ponto de vista científico”, comenta o professor Renato Borges.

 

Segundo ele, a intenção é observar o fenômeno da estratosfera, em uma altitude maior que a de aviões comerciais – o equipamento pode chegar a 30 km de distância da superfície da Terra. A partir das gravações em 360º com tecnologia 3D, será possível ainda reconstruir o voo em realidade virtual. Os integrantes do Kuaray estão em busca de apoio financeiro para deslocamento da equipe para a missão. Os interessados em contribuir podem entrar em contato com a coordenação do projeto pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Renato Borges, coordenador do projeto, com módulo onde foram acondicionados os componentes eletrônicos da plataforma. Foto: Projeto Kuaray/Divulgação

 

SOBRE O PROJETO – Criado em 2013, o LAICAnSat é fruto das diversas pesquisas do Laboratório de Aplicação e Inovação em Ciências Aeroespaciais (LAICA) aplicadas às áreas de meteorologia, sensoriamento remoto, estudos atmosféricos e sistemas de controle, navegação e recuperação de carga. Integram a iniciativa professores e estudantes dos cursos de Engenharias Aeroespacial, Elétrica e Eletrônica e da Pós-Graduação em Sistemas Mecatrônicos da UnB.

 

“O projeto tem como objetivo ter uma plataforma de baixo custo para acessar essa região próxima ao espaço para experimentos científicos e, eventualmente, para algumas aplicações voltadas à sociedade”, explica o coordenador Renato Borges. As pesquisas com o dispositivo poderão subsidiar no futuro estudos mais complexos a nível orbital.

 

Os primeiros lançamentos foram realizados em 2014 para a testagem do equipamento, compreensão do desempenho durante a experiência de voo e obtenção de informações climáticas e sobre pressão da região onde ocorreram as atividades. Além de envolver os estudantes na aplicação dos conhecimentos acadêmicos, a ideia é contribuir na formação de recursos humanos na área. “Quando o aluno integra essa equipe e passa por essa experiência ele sai capacitado a trabalhar no desenvolvimento da estrutura de um nanossatélite”, afirma o docente. 

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