Fotógrafo e publicitário, o técnico administrativo da Universidade de Brasília Rodolfo Ward prepara exposição Wawekrurê: distintos olhares, que será exibida em Paris, nos dias 5 a 9 de dezembro. Ward lançou livro homônimo, em 2015, durante a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. A obra retrata a passagem do sociólogo e antropólogo Edgar Morin pelo Brasil, em 2009, quando o pensador visitou a tribo Xerente e a comunidade quilombola Mimosinho, ambas em Tocantins.
A segunda edição do livro será lançada em Paris, durante a exposição multimeios, que ocorrerá ao longo do Congresso Mundial da Complexidade, realizado pela Unesco em parceria com o Centro Edgar Morin da l’Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales.
A exposição terá 15 banners de 2m x 1,5m; projeções interativas e sete textos retirados do livro. “Estas fotografias são praticamente únicas. Não há registro em imagem de Morin visitando comunidades indígenas no Brasil”, comenta Ward.
OBRA - Em 2009, Edgar Morin esteve no Brasil para participar do Seminário Internacional sobre Crise Civilizacional: Distintos Olhares – Transição de Paradigma de Desenvolvimento nos Países do Sul, realizado na Universidade Federal do Tocantins (UFT). À época, Ward trabalhava como fotógrafo da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) e realizou a cobertura do evento.
O que surgiu como a ideia de um catálogo, logo, tornou-se livro. De posse das fotos, Ward, em conversa com Alfredo Pena-Vega, diretor do Centro Edgar Morin, viu o projeto crescer. “Alfredo me falou: vou te enviar um texto e o manifesto de Tocantins (produzido ao final do Seminário de 2009)”, lembra o fotógrafo. Em adição, surgiu uma poesia, de Chico Perna. A partir daí, Ward começou a contatar outros palestrantes do Seminário. O educador e senador Cristovam Buarque também enviou um texto. “Então Pena-Vega disse: vou mandar um texto do Morin”. O livro foi produzido em versão trilíngue: português, inglês e francês.
A segunda edição terá texto do líder indígena Marcos Terena intitulado A força dos conhecimentos tradicionais nos jogos mundiais dos povos indígenas. “Faltava uma voz indígena na obra. O texto de Terena sanou essa deficiência. Agora, para a terceira edição, quero um texto de um quilombola”, afirma Ward. Haverá também textos de Cristovam Buarque, que ficou de fora da primeira edição, e do antropólogo italiano Massimo Canevacci.
TRANSDISCIPLINARIDADE – “A obra extrapola uma classificação. Quis fazer um trabalho referenciado na transdisciplinaridade. O livro retrata o Brasil transdisciplinar e contemporâneo. Nasceu com o foco da internacionalização do conteúdo, por isso é trilíngue. Tem textos de múltiplos saberes, desde o artigo de Morin a poesia. Quis também valorizar o lugar da fotografia entre os saberes acadêmicos e científicos”, descreve Ward.
O livro é divido em três partes. A primeira retrata a visita de Morin à comunidade quilombola Mimosinho. A segunda apresenta a cobertura fotográfica do Seminário. Já a terceira dedica-se à visita de Morin à tribo Xerente.
PATROCÍNIO - Rodolfo Ward iniciou campanha virtual para angariar fundos para realizar a exposição e continuar o projeto em mostras no Brasil. A ideia é divulgar o papel da fotografia na investigação acadêmica. "Quero provocar olhar acerca da fotografia e das artes. E também incitar um pensamento transdisciplinar sobre diferentes formas de viver. Mostrar que culturas tradicionais não são inferiores. Pelo contrário, têm muito a ensinar", encerra.