SAÚDE MENTAL

Prática propõe a articulação de um espaço para fala e escuta coletiva sobre os desafios da vida acadêmica. Atividade é promovida semanalmente, com apoio de profissionais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal

Roda de Terapia Comunitária Integrativa.
Roda terapêutica é aberta à participação de estudantes, servidores e docentes da Universidade. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Se, por um lado, o cotidiano na Universidade proporciona momentos de prazer, alegria e realização, por outro, alguns desafios experimentados podem, a depender de determinados fatores, potencializar desfechos negativos à saúde dos indivíduos. Diante desses agravos, contar com espaços de acolhimento, escuta e compartilhamento de experiências é uma alternativa para a superação de questões emocionais corriqueiras no ambiente acadêmico.

 

Nesse sentido, a Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu) do Decanato de Assuntos Comunitários (DAC) promove, a partir deste semestre, rodas de Terapia Comunitária Integrativa (TCI) gratuitas e abertas a estudantes, professores e técnicos administrativos da Universidade. A primeira roda foi realizada nesta segunda-feira (19), no piso mezanino da entrada do ICC Sul, no campus Darcy Ribeiro, conduzida por profissionais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. O órgão é parceiro na atividade.

 

A iniciativa integra as ações de promoção à saúde no âmbito da Rede Brasileira de Universidades Promotoras da Saúde (Rebraups), da qual a UnB faz parte desde abril de 2018. Além de criar ambientes e relações promotoras de saúde, a prática busca oferecer suporte emocional em questões que perpassam as experiências da comunidade acadêmica e fortalecer redes de solidariedade.

 

A diretora da Dasu, Larissa Polejack, acredita que esse tipo de estratégia também colabora no fomento ao senso de pertencimento e no enfrentamento de problemáticas em grupo. “Como parte da mesma comunidade, muitas das soluções que podemos criar vem de rodas como essa, onde compartilhamos, ouvimos, aprendemos com a experiência do outro e, juntos, identificamos questões que são coletivas”, ressalta a gestora.

 

O estudante de Psicologia Matheus Wisniewski teve conhecimento da roda por uma amiga e viu no espaço a possibilidade de dividir seus sentimentos sobre os desafios da vida acadêmica. Um deles é a dificuldade de conciliar a diversão com as demandas acadêmicas.

 

“Procrastino as minhas obrigações para buscar um prazer imediato, seja vendo um filme, jogando, conversando ou saindo. Isso me gera culpa por priorizar essas coisas e também raiva, porque, no final das contas, sempre consigo cumprir com as minhas obrigações”, conta.

 

O estudante Matheus Wisniewski encontrou na roda um espaço para desabafar seus incômodos sobre a forma como lida com as obrigações acadêmicas.  Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

Ao longo da conversa em grupo, ele percebeu que esta era uma situação comum a outros colegas. O relato de Matheus norteou as demais reflexões coletivas e se tornou assunto central da roda. Para o estudante, esse momento de trocas pode auxiliar na compreensão de caminhos para lidar com a questão. “Escutar outras soluções e tentar colocar isso na sua vida é bem legal, porque você enxerga outras perspectivas para conseguir solucionar o que está te causando sofrimento”, afirma.

 

COMO FUNCIONA – Idealizada pelo brasileiro Adalberto Barreto, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) consiste em uma atividade em grupo voltada à promoção do cuidado holístico, da solidariedade, do acolhimento e da educação emocional. São empregadas dinâmicas de escuta compartilhada, troca de experiências e olhares, expressão dos sentimentos e momentos lúdicos.

 

Durante as rodas, os participantes escolhem um tema comum a todos a ser trabalhado e compartilham suas reflexões acerca dele, além de estratégias individuais de superação. Para participar da atividade, é preciso respeitar algumas regras: manter-se em silêncio enquanto alguém estiver falando; não julgar a experiência do outro; sempre falar em primeira pessoa, posicionando-se diante do fato exposto; intervir na fala do colega apenas quando quiser compartilhar uma música, poesia, provérbio ou outras formas de manifestação similares e não dar conselhos.

 

A TCI é uma das 17 metodologias que integram a Política Distrital de Práticas Integrativas em Saúde. Atualmente, é difundida em 24 países, além do Brasil. Segundo a psicóloga Doralice Oliveira Gomes, referência técnica distrital em TCI e uma das condutoras das rodas na UnB, a prática pode ser utilizada tanto na promoção da saúde mental quanto em intervenções em situação de crise, e estimula, por meio da partilha, o relaxamento e maior compreensão dos desafios vivenciados.

 

“Várias pesquisas mostram que, quando a pessoa tem uma rede comunitária para compartilhar com os outros suas fragilidades e vitórias, ela tem a saúde muito mais estabelecida”, destaca a psicóloga.

 

No campus Darcy Ribeiro, a atividade será oferecida sempre às segundas-feiras, das 12h30 às 13h30, e às quartas-feiras, de 17h30 às 18h30, no piso mezanino da entrada do ICC Sul. Já na Faculdade de Ceilândia (FCE), a prática ocorre às quintas-feiras, das 12h30 às 13h30. Há também previsão de oferta futura para os campi de Planaltina e do Gama. As rodas são conduzidas por dois profissionais de saúde especializados na metodologia. A atividade é gratuita e não é necessário se inscrever para participar.

 

Além da TCI, a Técnica para Redução de Estresse (TRE) – conjunto de práticas corporais para relaxamento profundo e regulação emocional – será incluída em breve entre as práticas integrativas oferecidas pela Universidade. A instituição dispõe ainda de outras iniciativas de apoio à saúde mental para a comunidade acadêmica.

 

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