A Universidade de Brasília tem somado esforços para promover o bem-estar e estabelecer relações saudáveis, de cuidado e de solidariedade no ambiente acadêmico. Esses são princípios que norteiam a atuação da UnB como parte da Rede Brasileira de Universidades Promotoras de Saúde (Rebraups).
Tranquilizar a mente e as emoções diante de situações de estresse, cansaço, insegurança, ansiedade e sofrimento psíquico vivenciadas dentro e fora do cotidiano acadêmico pode ser, para alguns, um desafio. No entanto, ter recursos para lidar com essas questões é ponto de partida para a superação.
Seguindo essa ideia, a articulação de estratégias no âmbito universitário tem sido um dos focos da política institucional conduzida pelo Decanato de Assuntos Comunitários (DAC) e converge em ações de acolhimento e apoio em situações de vulnerabilidade psicossocial. Decano do DAC e pesquisador da temática há 35 anos, Ileno Izídio acredita que a instituição tem avançado cada vez mais no debate sobre saúde mental. “A questão da saúde é uma obrigação do Estado. No entanto, isso não quer dizer que não possamos desenvolver ações de saúde e qualidade de vida dentro das relações da Universidade”, defende.
Estudantes, docentes e técnicos podem contar com iniciativas, serviços e boas práticas em saúde mental como suporte para enfrentar o adoecimento psíquico e os desafios da vida universitária.
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Um dos pontos de apoio é o Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep), vinculado ao Instituto de Psicologia (IP). O espaço presta atendimento psicológico à comunidade, além de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão na área. O Caep conta hoje com psicólogos do quadro, profissionais voluntários e estagiários do curso de Psicologia, que encontram ali um campo prático de formação acadêmica e profissional. As atividades são supervisionadas por professores do IP.
Atualmente coordenado pelo professor Mauro Dias, o centro tem sede no campus Darcy Ribeiro, em frente à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os agendamentos são feitos pelo telefone 3107-1680 às segundas-feiras, a partir das 8h30, enquanto houver vagas. A oferta também é aberta à comunidade externa de baixa renda. Após a marcação, o interessado é encaminhado para um primeiro acolhimento, feito às sextas-feiras. Já os atendimentos regulares acontecem de segunda à sexta-feira, das 8h às 20h. Em 2020, novas vagas serão abertas a partir de março.
Em âmbito institucional, a criação da Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (DASU/DAC), em abril de 2019, visou consolidar estratégias e políticas institucionais voltadas à qualidade de vida na UnB. Trata-se da continuidade dos trabalhos da comissão instituída pela Reitoria em novembro de 2017 para pensar a atuação da Universidade na temática.
“A DASU foi criada para implementar a política das universidades promotoras da saúde, com três coordenações que olham para esses eixos”, conta a diretora Larissa Polejack. A DASU é responsável pelo fomento às boas práticas em saúde, com a realização de ações de prevenção, promoção e atenção psicossocial, além da articulação de redes de apoio no ambiente acadêmico.
EXPERIÊNCIAS POSITIVAS – Integrar experiências positivas na área é atribuição da Coordenação de Atenção Psicossocial (CoAP) da DASU. A unidade tem firmado parcerias com estruturas internas e externas à UnB para ampliar o acesso da comunidade acadêmica aos cuidados em saúde mental.
Entre os resultados, está a oferta de práticas integrativas em saúde, com apoio da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. A roda de Terapia Comunitária Integrativa (TCI) é uma dessas experiências e proporciona aos estudantes, docentes e técnicos administrativos espaço de escuta, compartilhamento de suas vivências e acolhimento para apoio no enfrentamento de dificuldades no dia a dia da Universidade.
Conduzidos por profissionais de saúde, os encontros são realizados semanalmente em três campi. No campus Darcy Ribeiro, as rodas acontecem sempre às segundas-feiras, das 12h30 às 14h, e às quartas-feiras, das 18h às 20h, na sala da CoAP – AT 149/19, no ICC Sul. Na Faculdade de Ceilândia (FCE), as atividades são às quintas-feiras, das 12h30 às 13h30, na sala A1 42/40, do prédio UAC.
A prática também é realizada no campus de Planaltina (FUP) às segundas-feiras, das 12h30 às 13h30, na praça Rebendoleng. Como, para a Universidade, é importante que a atenção à saúde seja constante, rodas de TCI também serão ofertadas no período especial de verão, a partir do dia 27 de janeiro.
Em articulação com o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental da Secretaria de Saúde são promovidas as atividades do grupo terapêutico Escuta Universitária. “É um grupo para discutir a vivência na Universidade, o que é ser universitário hoje, como a gente desenvolve recursos para lidar com a ansiedade e o estresse”, explica Larissa Polejack. A iniciativa é coordenada pelos residentes e é aberta à participação exclusiva de estudantes. O grupo reúne-se às quartas-feiras, das 14h às 17h, na sala da CoAP.
Para incentivar práticas focadas na qualidade de vida dos técnicos administrativos, docentes e terceirizados, a CoAP promove ainda rodas sobre saúde do trabalhador sempre às terças-feiras, das 14h às 17h, também na sala do ICC Sul. Em 2020, a atividade será retomada a partir de fevereiro.
A coordenação dispõe de psicóloga e nutricionista para orientação da comunidade acadêmica e direcionamento aos serviços de referência em saúde mental internos e externos à Universidade. No campus Darcy Ribeiro, o diálogo com as profissionais é realizado na sala da CoAP. Há acolhimento de demandas de saúde mental na Faculdade do Gama (FGA), às quartas-feiras, das 14h às 17h, na sala do antigo Serviço de Orientação ao Universitário (SOU), e na FUP, às quintas-feiras, das 14h às 19h, no Núcleo de Atenção à Saúde. No campus Gama, o serviço volta a funcionar em fevereiro.
Outras parcerias têm fortalecido a política de atenção à saúde da comunidade acadêmica. Além de realizar encaminhamentos para o Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep), a CoAP tem o apoio de outras clínicas-escola do Distrito Federal para absorção da demanda por atendimento psicológico da Universidade.
Uma das colaborações mais recentes foi firmada com a Associação Brasiliense de Psicodrama e Sociodrama (ABP). A entidade já realiza atendimento em psicodrama público direcionado à UnB. Para 2020, deve ser incluído o atendimento social para a comunidade acadêmica na especialidade.
Há ainda a intenção de se ampliar a parceria com o Hospital Universitário de Brasília (HUB), por meio de um projeto de extensão, para vincular as ações de saúde mental da Universidade à unidade de saúde. A expectativa é que o HUB se torne porta de entrada para os casos no âmbito. O hospital já tem oferecido aporte de profissionais na área da psiquiatria para atendimento da comunidade em situações pontuais.
DE OLHO NA SAÚDE – A promoção e prevenção à saúde somam-se às perspectivas de atuação da CoAP. Nesse sentido, os Núcleos de Atenção à Saúde da UnB foram incorporados à coordenação, que também se dedica ao desenvolvimento de atividades itinerantes voltadas ao bem-viver. Incluem-se campanhas de prevenção à hipertensão, oficinas de Hiperdia (hipertensão e diabetes) e orientação nutricional, além de outras ações de atenção à saúde.
Vinculado à CoAP, o Polo de Prevenção de IST & Aids oferece testagem de infecções sexualmente transmissíveis, como HIV, sífilis e hepatites B e C, além de promover aconselhamento da comunidade acadêmica sobre o tema. Essa e outras ações de prevenção à saúde, em abordagens como violência, suicídio e abuso de álcool e outras drogas, serão ampliadas em 2020.
A Coordenação de Prevenção (CoPREV) também compõe a DASU e atua no acolhimento, avaliação das demandas de saúde mental, realização dos primeiros atendimentos para intervenção em crise além de equipe e orientação para busca dos serviços especializados de apoio psicológico.
A estrutura absorveu as atribuições da antiga Coordenadoria de Atenção à Saúde de Qualidade de Vida (CASQV) e passou a incluir, além dos servidores, os demais segmentos universitários a seu público-alvo. “A coordenação faz o acompanhamento de pessoas em situação de crise até que elas apresentem melhoras e as encaminha para a rede de atenção e acolhimento”, descreve a diretora da DASU. Os atendimentos são realizados com agendamento prévio, de segunda à sexta, das 8h às 18h, no ambulatório II do HUB, na mesma sala onde funcionava a CASQV.
Além de dispor de profissionais para suporte emocional em casos sensíveis, a CoPREV agrega experiências positivas de acolhimento. É o caso do FalarTe, iniciativa que estimula o diálogo entre estudantes e servidores, a partir da expressão artística como processo terapêutico. Os encontros do projeto acontecem às terças-feiras, de 12h às 14h, na sala da CoAP, no ICC Sul.
INTEGRAÇÃO – Aproximar a instituição da realidade de seus estudantes, técnicos e docentes e perceber suas especificidades em questões relacionadas à saúde mental são preocupações da DASU para aprimorar suas estratégias de atuação. Por isso, também integrada à diretoria, a Coordenação de Promoção da Saúde e de Qualidade de Vida (ProVIDA) tem oferecido suporte às unidades acadêmicas para o desenvolvimento de ações de acolhimento e de construção do sentido de pertencimento à Universidade.
A ProVIDA substituiu o antigo Serviço de Orientação ao Universitário (SOU), que era vinculado ao Decanato de Ensino de Graduação (DEG). Com a mudança, a estrutura ampliou suas atribuições, contribuindo com a construção coletiva de práticas educativas criativas que potencializem as vivências dos segmentos universitários em consonância com a função social da Universidade.
Para reforçar as ações de bem-viver junto à comunidade, a diretora da DASU, Larissa Polejack, explica que a coordenação tem acolhido a comunidade interna e assessorado as unidades acadêmicas na elaboração de ações de acolhimento. Segundo ela, a intenção é que as iniciativas sejam planejadas de forma integrada e aconteçam continuamente, não só durante a recepção de novos alunos. “Um dos princípios da promoção à saúde é o fortalecimento da comunidade e da perspectiva de resolver coletivamente as coisas que a afetam."
O decano Ileno Izídio reforça que a DASU também tem oferecido suporte às unidades acadêmicas para a criação de grupos de trabalho, compostos por docentes e técnicos sensíveis à temática da saúde mental. O objetivo é que o coletivo monitore as situações de adoecimento psíquico nesses ambientes para que sejam discutidas, junto ao DAC, medidas de apoio.
Até o momento, 15 unidades acadêmicas foram visitadas para dar início ao trabalho. Para 2020, a ideia é intensificar a ação em outras unidades e debater caminhos para incentivar a construção de ambientes mais acolhedores. “Se conseguirmos espalhar pela Universidade a ideia de promoção à saúde e do cuidado em saúde mental com uma escuta diferenciada, sem preconceito, também teremos uma comunidade cuidando de si própria no que pode”, argumenta o decano.
Complementar ao trabalho, o grupo Entrelinhas, atrelado ao Caep, presta assessoria em ações de prevenção e posvenção ao suicídio específicas à realidade de cada curso.
MAIS SERVIÇOS – Outras unidades administrativas e acadêmicas oferecem acolhimento voltado a públicos específicos. Há iniciativas na Diretoria da Diversidade (DIV/DAC), na Diretoria de Esporte e Atividades Comunitárias (DEAC/DAC) e na Coordenação de Apoio às Pessoas com Deficiência (PPNE/DAC). Quando identificadas demandas em saúde mental, as unidades direcionam os indivíduos para os serviços de atendimento da Universidade ou do Distrito Federal.
Além de acolher, a Diretoria de Desenvolvimento Social (DDS/DAC) possui serviço de acompanhamento psicológico. “O acolhimento é uma porta de entrada. Recebemos o estudante, vemos a demanda e encaminhamos para a rede interna e externa à UnB. Enquanto ele não receber atendimento, vamos acompanhando e vendo as possibilidades”, explica a psicóloga da DDS, Inara Maracci.
Ajuda também pode ser buscada no Grupo de Intervenção Precoce nas Primeiras Crises do Tipo Psicótica (Gipsi), Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Bem-Estar do Estudante de Medicina (NAPEM/UnB) e Núcleo de Mútua Ajuda às Pessoas com Transtorno Afetivo (APTA), além de rede de apoio no Distrito Federal.
As boas práticas e espaços de acolhimento e promoção à saúde mental existentes na Universidade estão sendo mapeadas pela DASU, com o apoio de bolsistas da assistência estudantil. A ideia é que as informações sejam compartilhadas para que a comunidade acadêmica tenha acesso às iniciativas. “Com o resultado do mapeamento, queremos fazer um encontro de boas práticas na Universidade para dar-lhes visibilidade”, afirma Larissa Polejack.
Ileno Izídio acredita que também é necessário fazer um levantamento sobre a situação de saúde mental da Universidade para melhor compreensão dos principais agravos sofridos pelos indivíduos e debate em fóruns da instituição.
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