JANEIRO ROXO

Estudo coordenado pelo Núcleo de Medicina Tropical da UnB aponta nova forma de tratamento da doença

A hanseníase ainda persiste no Brasil, sendo o diagnóstico precoce um dos principais desafios. Na imagem, teste para detectar a doença. Foto: Claudio Salgado/Sociedade Brasileira de Hansenologia

 

Com o aumento de casos de hanseníase no país, janeiro se tornou o mês da conscientização sobre sintomas, prevenção e tratamento da doença que é causada pela exposição prolongada à bactéria Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen. Quase eliminada no início dos anos 2000, mais de 150 mil brasileiros foram diagnosticados com a doença entre os anos de 2016 e 2020, segundo dados do último boletim epidemiológico sobre o tema publicado em janeiro pelo Ministério da Saúde.

 

Atrás apenas da Índia em registro de novos casos, a hanseníase segue sendo tratada como problema de saúde pública no Brasil. A doença acomete pele e nervos periféricos e pode deixar sequelas e deformidades no corpo quando não tratada. Os sintomas incluem manchas claras ou vermelhas na pele com diminuição da sensibilidade.

Gerson Penna coordenou a resposta brasileira nas epidemias de dengue, sarampo, rubéola e H1N1, sendo o único brasileiro no comitê consultivo estratégico sobre riscos infecciosos com potencial de pandemia e epidemia da OMS. Foto: Arquivo Pessoal

 

“Costumamos dizer coloquialmente que hanseníase é uma doença que não arde, não coça e não dói. Por esse motivo, é absolutamente imperativo que a rede de serviços de saúde esteja permanentemente capacitada a reconhecer os primeiros sinais e sintomas da doença para instituir o tratamento precoce, objetivando a cura do paciente”, destaca o pesquisador Gerson Penna, do Programa de Pós Graduação em Medicina Tropical da UnB (PPGMT) da Universidade de Brasília.

 

Gerson Penna está entre os dez cientistas no mundo que mais contribuíram na última década com estudos para o enfrentamento de doenças tropicais transmissíveis negligenciadas, caso da hanseníase.

 

“O diagnóstico da hanseníase é feito com exame dermatoneurológico em que se avalia, com testes de sensibilidade, as lesões cutâneas e/ou de nervos periféricos. Por esse motivo é importante os profissionais de saúde estarem atentos e treinados”, diz Gerson.

 

O contágio ocorre pelas vias respiratórias e a prevenção passa por medidas básicas de higiene, como lavar as mãos, e pela vacina BCG contra tuberculose nas pessoas que estiveram em contato próximo com o portador da doença. Atualmente, o tratamento é realizado pelo SUS, sem necessidade de internação, com uso de medicamentos combinados durante 6 a 12 meses, e iniciada a medicação, a cadeia de transmissão é quebrada. 

 

COMBATE À DOENÇA – Além de manter ambulatório de referência para atender pacientes de hanseníase e integrar a Rede Universitária de Combate à Hanseníase (Rede Hans), a UnB coordenou ensaio clínico, o maior já realizado até hoje, que mostrou ser possível combater o problema com um único regime de tratamento de curta duração, o U-MDT. Esse esquema terapêutico se baseia num regime único de tratamento para todos os pacientes independentemente da classificação clínica, e é composto por doses mensais e diárias de medicamentos administrados durante seis meses. O estudo envolveu cientistas de vários países e durou 15 anos. Os resultados foram publicados em 17 artigos e renomados periódicos científicos.

Ciro Martins Gomes coordena o ambulatório de dermatologia do HUB, onde pacientes com hanseníase são tratados. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Apesar de a pesquisa demonstrar ser possível reduzir as doses medicamentosas para tratamento da doença, novos estudos ainda são necessários para comprovar a segurança terapêutica, como alerta o médico e professor da UnB Ciro Martins Gomes, coordenador do ambulatório de dermatologia do Hospital Universitário (HUB). Ele atende pacientes em tratamento convencional e reforça que, neste momento, o mesmo não deve ser abandonado em função do surgimento do novo método.

Leia: A importância do respeito à pessoa com hanseníase

"O estudo demonstrou, sim, ser possível a redução da dose do tratamento, uma luta antiga dos pacientes, médicos e cientistas que atuam na hanseníase. No entanto, como toda a pesquisa científica, novos estudos são necessários para comprovar a segurança do tratamento único. A Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam que pacientes com hanseníase tomem, de forma regular, as medicações por seis meses nos casos paucibacilares e por 12 meses nos casos multibacilares. O uso de todas as doses é muito importante para a cura da doença. Os pacientes devem seguir as recomendações médicas", adverte.

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