DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Pesquisadoras da UnB integram seleto grupo da Academia Mundial de Ciências. Despontar dessas mulheres é tema especial neste 8 de março

 

Mulheres de destaque: Jaqueline Mesquita, Mercedes Bustamante e Keti Tenenblat representam a UnB na Academia Mundial de Ciências. Fotos: Júlio Minasi e Audrey Luiza/Secom UnB

 

Três mulheres, três momentos de vida, três trajetórias diferenciadas. Todas elas têm em comum o fato de pertencerem ao seleto grupo de pesquisadores que integram a Academia Mundial de Ciências (TWAS), organização de renome global que congrega cientistas de diversas áreas.

Figurar entre 1.267 pesquisadores filiados em todo o mundo certamente impressiona. Ainda mais integrar os 13% deste grupo, percentual que corresponde às mulheres. Este é o feito das professoras Keti Tenenblat (MAT), Mercedes Bustamante (IB) e Jaqueline Mesquita (MAT), reconhecidas por seu trabalho acadêmico.

Especialista em geometria diferencial, Keti Tenenblat é membro titular da academia desde 2006. Mercedes, como membro titular, e Jaqueline, como jovem membro afiliada, passaram a integrar o quadro em 2018, ano em que foram eleitos representantes de mais de 100 países, número inédito em 35 anos de história da TWAS.

“É uma grande honra estar entre pesquisadores reconhecidos mundialmente. Isso contribui para aumentar a percepção internacional do alto nível da pesquisa em Matemática realizada no Brasil”, destaca Keti Tenenblat.

Com forte atuação em assuntos de meio ambiente, a professora Mercedes Bustamante acredita que a própria UnB é valorizada por essa presença. “É o reconhecimento de um esforço coletivo, que envolve vários colegas docentes e, sobretudo, discentes, da pós-graduação. É significativo também considerando a participação de universidades de países em desenvolvimento.”

Escolhida entre cinco representantes de toda a América Latina e Caribe, Jaqueline Mesquita recebeu com surpresa a notícia de que fora selecionada para integrar a rede mundial. “A possibilidade de contato com pesquisadores de diversas áreas traz uma grande motivação para continuar o trabalho que vem sendo feito”, diz.

Para Mercedes Bustamante, a ciência precisa ter legitimidade e credibilidade para gerar respostas claras à sociedade. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

Ela comemora o fato de o público feminino estar cada vez mais inserido no meio científico. “A ciência também é um espaço para as mulheres e cada vez mais precisa delas”, enfatiza.

DEDICAÇÃO À CIÊNCIA – Dar aulas, orientar alunos, publicar, participar de eventos científicos e estudar são algumas das práticas comuns aos professores universitários. A dedicação exclusiva, muitas vezes exigência do cargo, requer uma rotina dinâmica e de muito trabalho. No entanto, outra característica em comum entre essas mulheres está na satisfação e prazer em realizar tais atividades.

A atuação de Mercedes, por exemplo, vai além da universidade, uma vez que ela tem se dedicado a divulgar o conhecimento científico para a sociedade. “Uma angústia na minha área é que, apesar de toda informação gerada, ainda é difícil mudar determinados processos que poderiam resultar em melhores condições de meio ambiente”, admite.

Em meio ao cenário de perda da biodiversidade, desmatamento e mudanças climáticas, a preocupação da bióloga atualmente tem se voltado para o diálogo com tomadores de decisão e público em geral. “É preciso explicar e traduzir os resultados das produções científicas para secretários de governo, gestores de organizações, associações, pequenos produtores, quilombolas. Mostrar como o problema afeta a vida deles e as consequências para as futuras gerações”, enumera.

Como ciência de base, a matemática é fundamental para várias demandas do cotidiano de qualquer indivíduo, seja nas contas do lar ou por trás de múltiplos sistemas tecnológicos. “A matemática é uma linguagem concisa, rigorosa e universal. O nosso cotidiano é impregnado de matemática e estatística”, lembra Keti.

Keti Tenenblat acredita que a desigualdade entre gêneros irá diminuir com o tempo, até alcançar um maior equilíbrio. Na imagem, ela posa com duas edições de seu livro Introdução à Geometia Diferencial. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

A professora emérita da UnB afirma que sua área de pesquisa se aplica a diversos outros campos do conhecimento. “A interação entre geometria diferencial e equações diferenciais tem sido estudada desde o século XIX, especialmente a correspondência entre certas propriedades geométricas e equações diferenciais associadas.”

Com foco em equações diferenciais, mas de um prisma mais puro e teórico, Jaqueline também atua no Departamento de Matemática e considera a docência uma das atividades mais prazerosas da carreira. “Busco sempre trazer algum estímulo para os estudantes continuarem a se interessar, mostrando oportunidades e iniciativas oferecidas pela Universidade”, comenta.

MULHERES NA PESQUISA – Com vasta experiência no fazer científico, Keti Tenenblat lembra-se bem de um tempo em que as mulheres não eram aceitas no meio. Ela reconhece que a participação feminina vem aumentando nos últimos anos, mas recorda que as mulheres só tiveram autorização do governo brasileiro para estudar em instituições de ensino superior na segunda metade do século XIX.

“A própria sociedade criticava aquelas que optavam por uma carreira. Portanto, as mulheres no Brasil e na grande maioria dos outros países passaram a contribuir para o desenvolvimento das diversas áreas do conhecimento apenas nos últimos 150 anos”, observa.

“Tento conciliar as diferentes demandas e acompanhar meus orientandos na iniciação científica, no mestrado ou doutorado”, menciona Jaqueline Mesquita, que acaba de embarcar para pós-doutorado na Alemanha. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

Jaqueline Mesquita considera a Universidade de Brasília pioneira na inclusão e acolhimento de demandas de gênero. “Sempre há iniciativas no mês de março, como o primeiro seminário Mulheres na Ciência, promovido em 2018. Identificamos muitas pesquisas sobre a temática com abordagens bem interessantes”, relata.

Apesar dos avanços, a professora Mercedes Bustamante percebe que a presença feminina se reduz quanto mais elevados os níveis da carreira, especialmente nas funções de representação. “A gente se depara ainda com a chamada exclusão participativa. A mulher até participa, mas tem as opiniões menos valorizadas”, diagnostica. Como forma de combate ao modelo cultural vigente, a bióloga aposta na presença crescente das mulheres em espaços de poder.

 

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