Para quem já coleciona dezenas de prêmios, medalhas e honrarias, ser condecorado com mais um pode ter significado ordinário. No entanto, não foi com esse sentimento que James Fraser Stoddart recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília na tarde desta terça-feira (9), no auditório da Reitoria.
“Sinto-me muito honrado com esta gratificação que tem, para mim, um caráter especial: é a primeira de todo o hemisfério sul”, afirmou Sir James, admitindo que ficou muito lisonjeado com a recepção que teve na UnB. Durante a manhã, o homenageado ministrou a palestra Máquinas do tempo e apresentou parte de sua pesquisa que possibilitou o desenvolvimento de nanoestruturas e motores moleculares.
A concessão do título ao ganhador do Nobel de Química em 2016 foi aprovada na reunião do Conselho Universitário (Consuni) do dia 26 de março de 2019. A sugestão foi apresentada pelo diretor do Instituto de Química (IQ), Marcos Juliano Prauchner. “A vinda de um pesquisador tão proeminente é uma grande inspiração para nossos estudantes e mesmo para nossos professores”, comentou.
Esse contato, segundo Prauchner, traz reflexões sobre o cenário brasileiro. “Por que até hoje não temos um vencedor de prêmio Nobel? O que nos falta? Onde estamos errando? Ou o que podemos melhorar?”, questionou o docente, que considera esta uma oportunidade ímpar de crescimento e amadurecimento da pesquisa na Universidade.
Além do diretor do IQ, também formaram a comitiva de recepção do agraciado as decanas de Administração, Maria Lucília dos Santos, e de Extensão, Olgamir Amancia Ferreira, bem como o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Nanociência e Nanobiotecnologia (PPGNano), Ricardo Bentes de Azevedo. A cerimônia foi acompanhada por professores, estudantes e autoridades acadêmicas e administrativas da UnB.
TRAJETÓRIA EXTENSA – Ao longo de mais de cinco décadas dedicadas à ciência, o químico acumula números impressionantes: já publicou 1.150 artigos, sendo alguns citados mais de mil vezes, e orientou mais de 400 estudantes de doutorado e pós-doutorado. Entre as homenagens que recebeu até hoje, também se destacam as condecorações concedidas pela rainha Elizabeth II e pelo príncipe Filipe de Edimburgo.
“James Stoddart foi um dos responsáveis pela inauguração de um novo campo na química orgânica, especialmente a partir da síntese das estruturas catenano e rotaxano”, salientou a decana de Pesquisa e Inovação (DPI), Maria Emília Walter, durante a apresentação da carreira do Nobel.
“As ciências básicas permitem descobrir princípios nas mais diversas áreas e proporcionam uma visão inovadora para problemas muito complexos”, expressou a decana. Para ela, a vinda do Nobel só reforça o importante papel que as universidades têm para a sociedade.
Maria Emília aproveitou o encontro para refletir sobre o difícil momento pelo qual passa a Ciência e Tecnologia no país: “O investimento em educação tem que ser prioritário, precisamos ofertar um ensino de qualidade aos jovens, e assegurar a formação de novos cientistas”.
Presidida pelo reitor em exercício Enrique Huelva, a mesa da solenidade contou com a participação da diretora para Ciência e Inovação da Embaixada Britânica em Brasília, Cindy Parker. Durante sua exposição, Huelva mencionou três lições do percurso acadêmico de Stoddart: “o foco no ser humano, o tempo da pesquisa e a importância da ciência básica”.
A própria trajetória do escocês demonstra que entender a temporalidade científica é fundamental. “Para obter resultados realmente significativos e de qualidade, a produção precisa ser a longo prazo. Outra lição é que não há estudo aplicado sem o conhecimento básico”, sintetizou.
INSPIRAÇÃO – Para aproveitar os ensinamentos do ganhador do Nobel de Química em 2016, foi organizado um almoço em que ele esteve com diversos pós-graduandos. O doutorando do Instituto de Física (IF) Clauber Vieira, que também desenvolve estudos na área de nanopartículas, participou desse momento mais informal e pôde fazer várias perguntas ao estudioso.
Na visão de Clauber, a valorização dos orientandos é uma premissa para Stoddart. “Fiquei muito impressionado com o quanto prioriza o aluno, que é para ele quem irá dar continuidade ao seu trabalho”, disse. Além disso, também foram apontadas oportunidades fora do país para os estudantes.
A galeria de doutores Honoris Causa da UnB conta ainda com outros três ganhadores do Nobel: Martin Chalfie (2014), Bruce Alan Beutler (2015) e Aaron Ciechanover (2017).