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Homenagem reconhece espírito dedicado e inquieto do técnico administrativo de 78 anos, que trabalhou por décadas na UnB

 

Vice-diretor da FT, Alexandre Romariz, reitora Márcia Abrahão e diretor da FT, Márcio Muniz, aplaudem Antônio Marrocos. Foto: Heloíse Corrêa/Secom UnB

 

“Nunca consegui chegar antes dele. Quando eu chegava, mesmo que mais cedo, ele já tinha até preparado café.” A afirmação do professor Sadek Alfaro, da Faculdade de Tecnologia (FT), dá o tom da dedicação dispensada pelo servidor da UnB Antônio Marrocos durante os 36 anos em que trabalhou na instituição. Agora detentor do título de mérito universitário, o funcionário exemplar foi homenageado por amigos e familiares em cerimônia no auditório da Reitoria, nesta terça-feira (16).

 

Cearense, Antônio começou a trabalhar aos 13 anos. O primeiro emprego foi como curtidor de sola, ajudando o pai sapateiro. Desde então, nunca mais parou. Saiu do Nordeste, morou no Sul do Brasil, voltou ao Ceará para se casar com uma prima e veio à recém-inaugurada capital do país em 1962. Pai de dois, avô de quatro, acaba de celebrar bodas de ouro com a esposa. “Deus me permita celebrar as de diamante!” planeja, bem-humorado, aos 78 anos.

 

Marrocos entrou na UnB em 1979 e sua história se confunde com a da instituição. “Trata-se de um daqueles servidores de carreira que se engajou na construção da Universidade de Brasília, transformando-se em modelo de referência na instituição e no fazer público”, registrou o professor da FT Antônio César Brasil, à época da aprovação da homenagem no Conselho Universitário. “Ele é muito dedicado. Inspirou minha vida profissional”, elogia a filha Márcia Marrocos. 

Reitora exaltou oportunidade de mostrar como a UnB possui servidores comprometidos. Foto: Heloíse Corrêa/Secom UnB

 

“Esse tipo de serviço demonstra o comprometimento em mostrar para a sociedade o que temos de melhor. É um momento de muito orgulho”, discursou a reitora Márcia Abrahão, ao entregar ao homenageado o diploma de Mérito Universitário, distinção dada a membro da comunidade que tenha se distinguido por relevantes serviços prestados à instituição.

 

Além de chegar cedo ao trabalho, Marrocos acompanhava alunos em viagens, repassava aprendizados aos colegas e ajustava com esmero os corpos de prova do Laboratório de Processos de Fabricação, onde era técnico. 

 

Figura constante nas homenagens de estudantes em tempos de formatura, o servidor admite ter se entristecido nas poucas vezes em que não foi escolhido. “Mas eu sempre estava nos trabalhos de conclusão da graduação e da pós”, orgulha-se.

 

Marrocos estava presente no dia em que o ex-reitor João Cláudio Todorov assinou a criação do curso de Engenharia Mecatrônica. “Subimos a rampa juntos. Hoje, ao percorrer o mesmo caminho, foi impossível não lembrar daquele momento”, revelou Sadek, que apresentou o homenageado aos presentes na solenidade. 

Antônio Marrocos foi recepcionado por uma comitiva de colegas na cerimônia de Mérito Universitário. Foto: Heloíse Corrêa/Secom UnB

 

Histórias para contar ao longo desta trajetória, Marrocos tem várias. A mais curiosa delas foi contada pelo amigo docente, e nem parece verdade de tão inusitada. “Marroquinho, o que você está fazendo?”, dizia rindo o professor, ao ver o técnico pintar de cor berrante um grande equipamento de laboratório, que havia sido adquirido por meio de parceria. A peça foi identificada pelo professor como uma fonte, estimada em uma boa quantia de dólares.

 

Sadek lembrou que, ao ver a cena, um outro docente perguntou se o servidor não teria mais o que fazer. Marrocos justifica a atitude como demonstração de proatividade e zelo pelo coisa pública. “Percebi o surgimento de ferrugem e tomei uma ação.”

 

No fim, apenas uma fonte ficou com a cor curiosa e Marrocos foi tomar conta de seus muitos afazeres. Tempos depois, um caminhão encostou na porta do laboratório e carregou todos os equipamentos. Quando perceberam o tamanho da perda, pensaram que o laboratório estava acabado.

Professor Sadek Alfaro contou com alegria episódios vividos ao lado do camarada Marrocos. Foto: Heloíse Corrêa/Secom UnB

 

Dois ou três dias depois, um entregador de gás contou ter visto em Taguatinga uma máquina da mesma cor com a qual Marrocos havia pintado a fonte tempos atrás. “Ou algum louco pintou da mesma cor que vocês ou o equipamento que vocês perderam está lá”, teria dito o entregador.

 

Marrocos e Sadek foram até o local indicado e o trato era de que o professor entraria. Se fosse o equipamento do laboratório, faria um sinal e o técnico chamaria a polícia. “Não arredamos pé até eles chegarem e assim salvamos nosso trabalho”, contou o professor, hoje divertindo-se com o causo.

 

Antônio Marrocos aposentou-se como servidor da Universidade em 1996, mas seguiu trabalhando por meio de outros contratos até 2015, aos 75 anos, quando decidiu tirar um tempo para se dedicar à família. “Hoje pelo menos busco meus netos na escola e dou uma saída de casa. Mas admito que não sei ficar parado.”

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