CONSTERNAÇÃO

Docente aposentado do Instituto de Artes, uruguaio é figura marcante da cultura brasiliense e estava atuando nos preparativos para as comemorações pelos 60 anos da UnB

Dramaturgo. Diretor. Coreógrafo. Professor. Muitas são as palavras para se referir a Hugo Rodas, mas nem um apanhado das mais adequadas expressões consegue chegar próximo de definir esta figura singular. Foto: Murilo Abreu/Secom UnB

 

A Universidade de Brasília e a comunidade brasiliense perderam, na tarde desta quarta-feira (13), Hugo Renato Rodas Giusto. Primeiro professor emérito da UnB vindo do Instituto de Artes, Hugo Rodas foi vítima de um acidente vascular cerebral e de metástase de um câncer contra o qual lutava há três anos. O velório acontece no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, às 14h. A celebração da vida é a lembrança que fica para os que o conheceram.

 

"Há cerca de um mês fui à casa do Hugo. Ele me olhou nos olhos e falou: 'fui muito feliz, tive uma vida sem sofrimento. Tudo veio para mim, eu nunca quis nada. As coisas sempre me buscaram. Sempre estive onde fui chamado e agora estou sofrendo neste final, mas isso é muito pouco diante de uma vida de tanta alegria e realização'", conta o professor do Instituto de Artes (IdA) e amigo Marcus Mota.

 

Aos 82 anos, Hugo, apesar da luta contra o câncer, seguia tenaz: era coordenador da Subcomissão de Memória e Audiovisual, dentro do planejamento dos trabalhos para comemorar os 60 anos da UnB. "Ele estava empenhadíssimo. Estava concebendo esteticamente a criação desse momento. Apesar de ter o corpo cada vez mais debilitado nas reuniões, o espírito se encontrava em um ponto contrário, de entusiasmo e de alegria que ele tinha em participar dessa homenagem aos 60 anos da Universidade de Brasília, onde teríamos a oportunidade de ter uma ação pública coletiva na rua", lembra Rafael Villas Bôas, diretor da UnBTV e membro da comissão UnB 60 anos.

 

"Essa homenagem dos 60 anos vai levar a marca do seu entusiasmo e criatividade. Ele deixou essa força, essa vontade em nós", complementa.

 

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A jornalista Marina Simon, uma das autoras do documentário Palco dos Sonhos, na Companhia de Hugo Rodas (2006), acredita que "ninguém sai imune ao fenômeno Hugo Rodas". Ao lado de Isabel Fleck, ela registrou a homenagem audiovisual ao emérito e afirma, como um dos personagens do filme, que "Hugo era como um vulcão, um fenômeno da natureza". Marina lembra que "além do enorme talento, ele tinha um coração enorme, que transbordava".

 

Gilberto Lacerda, professor da Faculdade de Educação, conheceu Hugo em 1987, quando o artista dirigia o espetáculo Ubu Rei, do Grupo de Dança Experimental da UnB. "Desde então, sempre o tive por perto. Ultimamente, quando ele já vivenciava o câncer, eu o recebia em casa, onde interagia com minha família e alguns amigos. Era um criador de futuros! Planejar novas investidas artísticas o mantinha vivo", testemunha. Lacerda guardará do amigo uma lembrança bucólica: ao almoçar ou lanchar, Rodas sentava-se no jardim ou tocava piano. "Observava araras e tucanos, rindo, absurdamente feliz."

 

CONQUISTAS E HOMENAGENS – Cidadão honorário de Brasília pela Câmara Legislativa do Distrito Federal em 2000, Hugo Rodas recebeu outras homenagens locais outorgadas pelo Governo do Distrito Federal, de Comendador (1991) e Oficial (1992) da Ordem do Mérito Cultural de Brasília. Além disso, foi laureado com o Prêmio do Serviço Nacional do Teatro de melhor espetáculo infantil para o antológico Os Saltimbancos (1977) e com o Prêmio Shell pela direção do espetáculo Dorotéia (1997), ao lado de Adriano e Fernando Guimarães. Recebeu ainda os títulos de Notório Saber em Artes Cênicas (1998) e de Professor Emérito (2014) pela UnB.

 

A cerimônia de outorga do título de professor emérito foi muito singular, assim como Hugo. Uma celebração visual e sonora que quebrou protocolos. "Uma homenagem nunca vista antes e que nunca mais veremos", disse em 2014 Ivan Camargo, então reitor. Atores cantaram, declamaram, dançaram e encheram o auditório do prédio da Reitoria, transbordando vida.

 

O momento sintetizou a interação do docente com Brasília e com a Universidade. "Ele era da UnB, era da cidade. Trazia a cidade e levava para a UnB, que levava de volta para a cidade", lembra Marcus Mota. Ele conta que conheceu Hugo em 1989, quando ainda era aluno, e achava impressionante a energia do mestre. Anos depois teve a chance de ser colega e trabalhar diretamente com ele. "Uma coisa que sempre chamou a atenção era a intensidade que ele tinha com todos em volta. Uma imaginação frenética e um incansável senso de mudança", recorda.

 

Rafael Villas Bôas, que também é professor de teatro, recorda-se da importância dessa personalidade toda para a cultura na cidade. "Ao se estabelecer em Brasília, ele também fez sua residência artística e encontrou uma morada como docente. Enquanto professor, propagou seus conhecimentos, sua vocação, sua pulsação artística."

 

"Para mim é necessário estar com os jovens da UnB. Eu poderia ganhar muito dinheiro dando aulas particulares, mas prefiro dar para a comunidade e para a Universidade. Me sinto útil. Preciso desse contato para sentir-me vivo"

 

Hugo Rodas, em entrevista ao programa
Diálogos, da UnBTV, em agosto de 2018.

 

Hugo Rodas, pulsante, vivo, eterno, segue gravado na mente dos tantos que o conheceram, dos inúmeros que ensinou e dos sem-número que ainda serão afetados pela revolução que conduziu.

 

As homenagens que Hugo Rodas recebe em sua partida apenas se somam a todas as muitas e justas que colecionou em vida. Foto: Murilo Abreu/Secom UnB

 

 

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