ACOLHIMENTO

Indígenas e aprovados para licenciatura em Educação do Campo realizam registro acadêmico. Etapa ocorre até sexta-feira (2) para ambos os grupos

 

O indígena Natanael Bezerra veio de Baía da Traição, na Paraíba, para confirmar vaga no curso de Medicina da Universidade de Brasília. Foto: Amália Gonçalves/Secom UnB

 

Já de longe é possível notar o sorriso estampado no rosto de quem conquistou uma vaga no curso dos sonhos. Apesar da timidez, Natanael Bezerra, de apenas 20 anos, percorria os corredores da Faculdade de Ciências da Saúde (FS), no campus Darcy Ribeiro, sem disfarçar o orgulho por poder representar sua comunidade indígena no curso de Medicina da UnB. “Nunca imaginei que conseguiria passar. Me sinto muito feliz. Estar na UnB vai ser um universo totalmente diferente”, celebra.

 

Oriundo do povo potiguara e habitante do pequeno município de Baía da Traição, na Paraíba, o jovem abriu mão dos estudos em Odontologia, na federal daquele estado, para se aventurar em um dos cursos mais concorridos do país. Para ele, a realização representa não apenas uma mudança de trajetória, mas uma oportunidade de levar o aprendizado adquirido de volta ao seu povo. “Vou poder dar um retorno à comunidade quando eu regressar, algo que eu já fazia durante o curso anterior”, revela.

 

O estudante é um dos aprovados pelo vestibular indígena, processo seletivo retomado pela UnB em 2017. Além de Natanael, outros 32 convocados em primeira chamada para ingresso no 1º/2018 devem transitar pelo campus entre quinta (1º) e sexta-feira (2), para realizar o registro acadêmico. No mesmo período, participam da etapa os aprovados no vestibular para ingresso no curso de Licenciatura em Educação do Campo. Para este, o atendimento é na Faculdade UnB de Planaltina (FUP).

 

ACOLHIDA Estruturado exclusivamente para a entrega dos documentos pelos indígenas, o posto avançado da Secretaria de Administração Acadêmica (SAA) da sala AT 99/31, na FS, iniciou a manhã desta quinta movimentado pelos ingressantes. Para muitos, esse é o momento de dar os primeiros passos longe de suas comunidades de origem.

 

Por isso, a acolhida calorosa torna-se uma estratégia essencial para minimizar o choque diante das diferenças culturais e da distância da família. A graduanda no curso de Medicina Sandra Pankaru, cujas origens carrega em seu sobrenome, foi uma das tutoras designadas para receber esses novos estudantes e auxiliá-los a se familiarizarem com o “novo lar”.

 

Pankaru vê como fundamental o apoio nessa fase de transição, para que os calouros se sintam parte da Universidade. “Quando eu cheguei também fiquei feliz de ter alguém para me acolher. Agora é uma felicidade poder ajudá-los, porque a partir do registro a UnB passa a ser a nossa segunda casa.”

 

Representantes da Diretoria de Acompanhamento e Integração Acadêmica (Daia/DEG) também estavam a postos para oferecer orientações sobre os procedimentos para o registro e realizar a entrega do kit calouro.

 

Enquanto isso, no Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas – a Maloca –  a recepção aos estudantes registrados continuava. No espaço, dúvidas sobre matrícula em disciplinas, moradia, solicitação de assistência estudantil e informações gerais sobre serviços da Universidade eram respondidas por tutores e por membros da Coordenação da Questão Indígena na UnB (Coquei/DIV/DAC). O ponto de encontro fomentou ainda a integração entre a diversidade desses povos tradicionais. 

Tatiana Francisco pretende aproveitar a passagem pela Licenciatura em Educação no Campo e adquirir novos conhecimentos. Foto: Isadora Soares/FUP

 

Muita gente também circulou pelo campus da Faculdade de Planaltina (FUP), onde está sendo realizado o registro acadêmico do curso de Licenciatura em Educação do Campo. Entre elas, a líder kalunga Tatiana Francisco, da comunidade do Vão do Moleque, em Cavalcante, Goiás. Primeira de sua família a ingressar no ensino superior, ela nem esperava pela aprovação. “Fiz o vestibular sem a pretensão de passar e passei. Agora quero aprender bastante. Gosto de conhecer coisas novas”, diz, projetando o futuro na UnB.

 

ALTERNATIVA – Os estudantes que não puderam comparecer aos locais de registro tiveram a opção de realizá-lo por procuração. Foi o caso de Ary Pereira Bastos Filho, de Carnaubeira da Penha, em Pernambuco. Aprovado no curso de Medicina pelo vestibular indígena, ele não pôde vir à Brasília para efetuar o processo, mas contou com o apoio do pai para a entrega da sua documentação.

 

Emocionado com o resultado alcançado pelo filho, o patriarca Ary Pereira, também cacique do povo pankará, enxerga o potencial da presença indígena em uma universidade federal. “Ver hoje meu filho entrando na UnB é me sentir com dever cumprido. Nós estamos sendo contemplados por essa luta que não é só nossa, mas das grandes minorias”, afirma.

 

Vale lembrar que o registro acadêmico dos aprovados no vestibular indígena e na Licenciatura em Educação do Campo ocorre até esta sexta-feira (2), nos respectivos postos de atendimento da SAA. 

Estudantes Sandra Pankararu e Loislene Couto: veterana e recém-chegada reforçam presença indígena na UnB. Foto: Amália Gonçalves/Secom UnB

 

SUPORTE – O Decanato de Ensino de Graduação (DEG) e a Coquei estão preparando uma série de atividades para dar as boas-vindas aos estudantes indígenas. A primeira delas, encabeçada pelo DEG, será um encontro, programado para o dia 14 de fevereiro, às 10h, na entrada da sede do decanato. "A intenção é conhecer os estudantes, ouvir suas expectativas e dificuldades e apresentar as oportunidades que o DEG oferece em assistência estudantil", explica a psicóloga escolar da Daia, Juliana Corrêa. Outras ações ocorrerão durante o início do semestre letivo.

 

Para incentivar a integração social, cultural e com o ambiente acadêmico, favorecer condições para a permanência na instituição e tornar a Universidade um local mais acolhedor e humano, o DEG lançou mais uma edição do Projeto Raízes, edital de tutoria especial. A iniciativa contempla estudantes indígenas, estrangeiros e refugiados com bolsas para atuação em atividades, como acolhimento aos ingressantes, assistência acadêmica e auxílio no estabelecimento de vínculos com a Universidade.

 

Outras estratégias têm sido estudadas pela gestão para dar suporte a esse grupo com mais eficácia. A exemplo, os povos indígenas que vierem à Universidade para realizar o registro acadêmico já terão assegurado o acesso gratuito ao Restaurante Universitário. O estudo socioeconômico, que viabiliza a concessão de bolsas de assistência estudantil, também foi antecipado. O objetivo é dar mais agilidade ao processo, para que novos estudantes indígenas possam receber os benefícios.

 

edital da avaliação já está disponível. Com a abertura do processo, serão inaugurados o novo Sistema de Assistência Estudantil (SAEWeb), plataforma utilizada na obtenção de informações para análise do perfil dos estudantes e o novo procedimento para entrega da documentação, que passará a ser realizado por meio da plataforma.

 

O edital para os demais discentes será divulgado no mês de março. A partir da análise da equipe da DDS, é possível concorrer às iniciativas de assistência estudantil oferecidas pela UnB e pelo governo federal.

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