Entre os dias 10 e 12 de setembro, a Universidade de Brasília realiza seu 2º Fórum e Feira de Internacionalização. Gratuito e aberto ao público, o evento reúne especialistas do Brasil e do exterior em diálogo sobre Internacionalização da ciência e desenvolvimento socioeconômico local: modelos, estratégias e mensuração.
Pesquisador do Instituto Fraunhofer de Sistemas e Inovação ISI, da Alemanha, o doutor Torben Schubert ministra a conferência de abertura Universidades e Organizações Públicas de Pesquisa como Drivers do Desenvolvimento Econômico. O encontro é no dia 10, às 9h, no anfiteatro 10 do campus Darcy Ribeiro.
Professor associado na Universidade de Lund, na Suécia, Schubert é especialista em gestão estratégica de processos de inovação em empresas, economia de inovação e medição de desempenho na ciência. Ele defende que a ciência esteja presente de forma clara em todos os lugares da sociedade. "Nem todo mundo precisa se tornar um cientista. No entanto, todos devem entender o que os cientistas fazem", opina.
Sua experiência inclui consultoria científica em temas relacionados à inovação e à ciência para os formuladores de políticas em toda a Europa. Para ele, a pesquisa científica é de grande valor para as nações, embora frequentemente os investimentos em ciência estejam entre os primeiros a serem reduzidos em momentos de crise, "porque as consequências negativas só se tornam aparentes após décadas".
Schubert está empolgado para participar do 2º Fórum e Feira de Internacionalização da UnB e acredita que sua visita "oferecerá ideias inspiradoras sobre o funcionamento do sistema científico brasileiro". Saiba um pouco mais sobre o perfil do palestrante na entrevista a seguir:
Como você define a economia da ciência e por que é um tópico relevante de pesquisa?
A economia da ciência é a disciplina que analisa as ações dos cientistas e como elas afetam o desempenho do sistema científico. É, por assim dizer, uma ciência sobre ciência. É importante porque reconhece se determinado sistema científico funciona com eficiência ou não, de acordo com os incentivos de desempenho que os pesquisadores recebem individualmente. Uma das principais questões é: os incentivos são organizados de forma a induzir os pesquisadores a fornecer resultados de pesquisa de alta qualidade enquanto usam recursos escassos de maneira eficiente?
Um dos projetos nos quais você está envolvido estuda os impactos do financiamento público de ciência e pesquisa em Baden-Württemberg, na Alemanha, para o desenvolvimento econômico do estado. Como a ligação entre o financiamento público e o desenvolvimento do estado pode ser evidenciada?
Para explicar nossa abordagem, é bom dar uma olhada no que já foi feito. A maioria dos estudos anteriores utilizou uma abordagem baseada nos insumos, usando o valor deles (por exemplo, despesas com salários, investimentos ou consumíveis) para inferir o valor dos produtos, ou seja, novas ideias, inovações técnicas ou capital humano. Isso pode ser muito enganador. Para ilustrar: usando esta abordagem, o valor econômico da teoria da relatividade de Einstein seria igual ao valor monetário presumivelmente baixo dos insumos usados para produzi-la (a exemplo de despesas com lápis ou folhas de papel). Em nossos estudos, procuramos uma maneira de medir o valor dos produtos mais diretamente. Combinamos dados econômicos regionais, a exemplo do PIB ou de impostos, com as atividades das universidades regionais. Utilizando modernas abordagens econométricas, identificamos padrões sistemáticos entre atividades universitárias regionais e atividades econômicas regionais. Usamos esse conhecimento para estimar o valor econômico das atividades da universidade.
Em geral, os benefícios do investimento em ciência e pesquisa são um meio de desenvolvimento econômico reconhecido pelos governos?
Naturalmente isto é diferente entre países. Minha impressão diz que a maioria dos formuladores de políticas alemãs assume uma posição positiva em relação aos investimentos em ciência. Um dos motivos certamente é por a Alemanha ser um país de alta renda, atualmente com recursos naturais limitados. Portanto, é consenso que a riqueza econômica da nação depende de sua capacidade de apresentar continuamente inovações revolucionárias, possibilitando ao país ficar à frente da concorrência. Ao mesmo tempo, esse consenso tende a se manter em prática apenas enquanto os governos federais não enfrentam problemas orçamentários. Em anos de crise, os investimentos em ciência estão frequentemente entre os primeiros a serem reduzidos, também porque as consequências negativas só se tornam aparentes após décadas.
Há alegações de que as universidades federais brasileiras não usam os recursos de maneira eficaz, apesar dos dados sobre aumento das publicações e dos inúmeros grupos de pesquisa de excelência em todo o país. Que estratégia pode ser usada para garantir que a sociedade veja as universidades como instituições respeitáveis de pesquisa e desenvolvimento?
Na Alemanha, o público também exigiu maior responsabilização das universidades e organizações de ciências públicas. Estas instituições reagiram aumentando suas interações diretas com a sociedade, por exemplo, através da cooperação com o setor empresarial. Entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Alemanha tem agora uma parcela principal de pesquisa pública financiada pelo setor empresarial privado. A Sociedade Fraunhofer alemã, maior organização pública de pesquisa aplicada do mundo, arrecada fundos de empresas privadas no valor de 670 milhões de euros por ano. Isso significa que as empresas estão reconhecendo o enorme valor da pesquisa pública. Assim, boas conexões com o setor empresarial são uma estratégia importante para aumentar o apoio da sociedade. No entanto, o apoio e a aceitação requerem um consenso público muito amplo. Na minha opinião, a melhor maneira de alcançar esse consenso é garantir que as pessoas entendam os méritos da ciência. Uma maneira é aumentar a participação de pessoas com educação superior no terceiro setor. Outra maneira igualmente importante é criar entendimento sobre a ciência e seu funcionamento ainda no ensino das escolas básicas. Nem todo mundo precisa se tornar um cientista. No entanto, todos devem entender o que os cientistas fazem. A União Europeia agora entende a necessidade de estabelecer o sistema científico na sociedade e enfatiza cada vez mais os impactos sociais no atual programa Horizonte 2020 - Ciência com e para a sociedade. Eu acho que esta é a chave: a ciência deve ocorrer em colaboração com a sociedade e atender às necessidades da sociedade. Se as organizações científicas forem eficazes, a aceitação e o apoio do público as seguirão, automaticamente.
Quais são as suas expectativas sobre esta vinda ao Brasil?
Embora os sistemas científicos nacionais tenham convergido nos últimos 20 a 30 anos, ainda existem muitas diferenças organizacionais e institucionais. Essas diferenças são empolgantes do ponto de vista científico e prático, porque permitem aprender com os outros sobre quais coisas funcionam e quais não. Estou certo de que minha visita oferecerá ideias inspiradoras sobre o funcionamento do sistema científico brasileiro. Também estou convencido de que, nos momentos em que o Mercosul e a União Europeia estão prestes a se aproximar, precisamos fazer grandes esforços para criar conexões e contatos através do oceano para aproveitar os benefícios do acordo comercial bilateral. Além da minha empolgação profissional, também ouvi rumores de que a carne de churrasco brasileira é excelente, possivelmente até líder mundial. Estou ansioso para descobrir se essa reputação é justificada.
Se você fica tão animado quanto Schubert diante de novas oportunidades, conheça mais sobre o 2º Fórum e Feira de Internacionalização da Universidade de Brasília, o evento que traz o mundo para dentro da Universidade!