Entre os dias 10 e 12 de setembro, a Universidade de Brasília realiza seu 2º Fórum e Feira de Internacionalização. Gratuito e aberto ao público, o evento reúne especialistas do Brasil e do exterior em diálogo sobre Internacionalização da ciência e desenvolvimento socioeconômico local: modelos, estratégias e mensuração.
Coautor do projeto europeu U-Multirank, ferramenta de ranking multidimensional para instituições de ensino superior, e diretor executivo do Centro de Educação Superior (CHE) em Gütersloh, na Alemanha, o doutor Frank Ziegele é um dos convidados internacionais do evento.
No dia 11, às 14h30, ele ministra a conferência Existe uma abordagem melhor para os rankings das universidades? U-Multirank como alternativa às tabelas classificativas. No dia 12, às 9h, Ziegele falará sobre Como superar as fronteiras do corpo docente e tornar as universidades mais interdisciplinares?. Os encontros acontecem no anfiteatro 10 do campus Darcy Ribeiro.
Ziegele é docente na Universidade de Ciências Aplicadas de Osnarbrück (UAS7), na Alemanha, onde lidera o programa nacional de MBA em Gestão da Educação Superior e o programa internacional de Mestrado Erasmus Mundus para Pesquisa e Inovação no Ensino Superior. Em sua vinda ao Brasil, ele espera influenciar as discussões sobre rankings acadêmicos e compartilhar o que é realmente relevante nessas medições. Confira na entrevista a seguir:
Conte-nos um pouco sobre o U-Multirank. Por que uma nova maneira de avaliar e classificar as universidades era necessária? Existe algum aspecto singular nos processos ou procedimentos de avaliação?
O U-Multirank foi desenvolvido a partir da necessidade de corrigir a distorção e simplificação dos rankings das tabelas tradicionais. As tabelas classificativas tradicionais reduzem o desempenho das universidades à pesquisa e negligenciam sua diversidade de missões e tarefas. No entanto, o U-Multirank evita a produção de tabelas tradicionais, mas revela os perfis de desempenho das universidades. Nossa principal ideia é fornecer aos usuários as ferramentas e informações para comparar as universidades à sua maneira, por meio de uma abordagem de classificação multidimensional e voltada para o usuário. Um dos recursos mais exclusivos do U-Multirank é o módulo Para os alunos. Este recurso oferece aos alunos a oportunidade de encontrar a melhor universidade correspondente, com foco especial em ensino e aprendizado, usando respostas de mais de cem mil alunos atuais nas universidades participantes em todo o mundo.
Como foi o processo de desenvolvimento do U-Multirank?
A ideia surgiu em uma conferência da União Europeia sob presidência francesa, em 2008, que clamou por uma nova metodologia para medir as diferentes dimensões da excelência das instituições de ensino superior e pesquisa na Europa em um contexto internacional. Depois disso, a Comissão Europeia encomendou um estudo de viabilidade para o desenvolvimento de um sistema de classificação multidimensional. Este estudo confirmou, em 2011, que tanto o conceito quanto a implementação adicional de um ranking multidimensional eram viáveis. O U-Multirank construiu esse estudo de viabilidade, publicando seu primeiro conjunto de classificações em maio de 2014. Os métodos foram desenvolvidos e o sistema é administrado por um consórcio de institutos universitários e grupos de reflexão sem fins lucrativos (CHE - Center for Higher Education, Alemanha; CHEPS - Centro de Estudos de Política de Ensino Superior, Universidade de Twente, Holanda; CWTS - Universidade de Leiden, Holanda; Fundação CYD, Espanha). Hoje, o U-Multirank é patrocinado pela Comissão Europeia, pela Fundação Bertelsmann e pelo Banco Santander, o que significa que é um esforço não comercial para criar um acesso aberto global a dados comparativos de desempenho para universidades.
Quais itens do U-Multirank representam o maior desafio em termos de medição?
Envolvimento regional e empregabilidade. Algumas universidades não têm dados relevantes sobre questões regionais de desempenho, e é difícil comparar as estatísticas sobre os mercados de trabalho internacionalmente, pois cada país tem seus próprios sistemas. E ainda é difícil medir a função social das universidades. No entanto, fizemos enormes progressos nos últimos anos.
Os rankings internacionais são amplamente utilizados para avaliar as universidades. A UnB, como outras instituições, ocupa uma posição de destaque em várias delas. No entanto, essas avaliações incluem países com economias em diferentes estágios de desenvolvimento, o que geralmente implica investimentos diferentes em ciência e tecnologia. Que fatores você acha que precisam ser considerados para um debate honesto sobre os resultados dessas avaliações?
Antes de tudo, temos que considerar que os rankings tradicionais se concentram fortemente na reputação, não no desempenho real. Universidades com uma "marca mundial", uma longa história e um bom marketing estão no topo das tabelas de classificação. As Oxfords e os MITs deste mundo são simplesmente conhecidos por muitas pessoas. No entanto, a reputação não está necessariamente de acordo com o desempenho real, as tabelas de classificação não revelam as "joias ocultas". Além disso, a contextualização de rankings é importante. Para alguns países, a contribuição das universidades para o desenvolvimento regional é absolutamente crucial, um tratamento justo desses países exige que essas contribuições sejam medidas lado a lado com a excelência em pesquisa. Um debate honesto também precisa comparar os perfis de desempenho com as respectivas missões das universidades – isso não funciona com as classificações tradicionais.
Em sua pesquisa, você indica que as universidades devem quebrar a compartimentalização das áreas do conhecimento e se tornar mais interdisciplinares para enfrentar os desafios de um mundo globalizado. Como isso pode ser alcançado e quais são as principais barreiras para que aconteça?
Só encontraremos respostas para os desafios globais se as universidades se envolverem em colaboração interdisciplinar. No entanto, estruturas organizacionais com faculdades e departamentos fortes não incentivam a interdisciplinaridade. Temos que superar o pensamento e a atuação em "silos disciplinares" e precisamos de novas estruturas e incentivos transversais. Meu trabalho se concentra em abordagens de gerenciamento para promover a colaboração interdisciplinar.
Quais são as suas expectativas sobre esta viagem ao Brasil?
Eu gostaria de compartilhar e trocar experiências e aprender mais sobre o ensino superior brasileiro. É claro que eu ficaria feliz se pudesse contribuir para uma discussão racional sobre rankings também no Brasil, e se os tomadores de decisão brasileiros no final não levassem as tabelas de classificação tão a sério. Quem sabe eu consigo motivar algumas universidades brasileiras a usar ou mesmo ingressar no sistema U-Multirank?
Você sabe que a Universidade de Brasília aparece constantemente em rankings nacionais e internacionais que atestam sua excelência acadêmica. Para saber mais sobre a UnB e sobre como ela é vista lá fora, confira o que será oferecido no 2º Fórum e Feira de Internacionalização da UnB e participe!
>> Leia também a entrevista com o convidado Torben Schubert, que fará a palestra de abertura