OPINIÃO

Rodrigo Santos de Faria é arquiteto-urbanista e historiador (Lei 14.038/20). Professor do Departamento de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, ambos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília.

Rodrigo de Faria

 

Dias atrás foi veiculada pelo portal da UnB a informação de que o edifício que abriga o Ceplan (SG-10) não mais abrigaria o referido Centro. Não tenho informações sobre essa mudança, se ela ocorrerá ou não. Minha opinião pessoal é em defesa da mudança, e isso tem uma explicação.

Não é de hoje, aliás, há muitos anos eu venho reivindicando uma atuação política por parte da FAU-UnB, em especial dos seus dirigentes (no âmbito da graduação, pós-graduação e conselho) para que o edifício SG-10 seja incorporado ao espaço físico da FAU para fins de alocação do PPGFAU-UnB. Reconheço que até mesmo outros usos vinculados à pesquisa, ensino e extensão da FAU poderiam também ocupar o ambiente. Isso se justifica pela qualidade do espaço, pela possibilidade de salas para aulas e, o MAIS IMPORTANTE, para que o belíssimo auditório seja nossa "Sala de Defesa de Teses", espaço inigualável entre todos os espaços no Brasil, à altura (ou mais) à sala dos Espelhos na FAU-Maranhão.

Como docente, e junto com, àquele momento professora do PRO-FAU e Doutoranda no PPGFAU-UnB sob minha orientação, a profa. Carolina Pescatori, enfrentamos a resistência por parte dos membros do Ceplan em oferecer o belíssimo auditório como espaço para a defesa de sua tese. Não desistimos e insistimos, lá realizamos a defesa de sua tese; outras defesas seguiram essa iniciativa.  

O Ceplan , infelizmente, transformou-se num burocrático escritório de arquitetura e obras, com baixa qualidade dos projetos realizados – que são facilmente questionáveis pelo campo da crítica de arquitetura –, como podemos observar em vários “novos” edifícios espalhados pelo campus Darcy Ribeiro. E reafirmo o “infelizmente” porque na sua origem o Ceplan esteve na vanguarda do pensamento técnico-construtivo-arquitetônico.  

Nesse sentido, como a instituição Ceplan é hoje uma instância da estrutura administrativa – pode ocupar qualquer espaço adequado para suas finalidades – , não realiza pesquisa, não desenvolve ensino, não faz extensão, aspectos que considero estruturais para que aquele patrimônio da arquitetura brasileira seja não apenas reconhecido, mas preservado de forma criativa, ao mesmo tempo, memória e prática cotidiana do pensamento crítico. E essa não é a função do Ceplan . Essa é a função da FAU-UnB.

É chegado o momento de uma forte atuação política da FAU para garantir que aquele espaço seja incorporado ao nosso espaço físico, como salvaguarda patrimonial da arquitetura brasileira aqui tão bem representada. A História, às vezes, "abre uma janela", que se a deixarmos fechar, perderemos uma oportunidade ímpar. Espero que, o que ainda segue da atual Direção e da que logo vai assumir tal função, tenhamos a compreensão da função de estadista que esse tipo de momento demanda para lutar por esse espaço. A Reitoria, em sua gestão atual, com o gesto de transferência do espaço físico do SG-10 para a estrutura da FAU, deixaria um dos mais potentes legados à história da arquitetura brasileira, à própria UnB, se assim proceder.  

Sigo firme e acreditando que a professora Márcia, atual Reitora da UnB, seja sensível ao patrimônio arquitetônico da UnB e saberá reconhecer a FAU como o espaço institucional ideal para receber o SG-10, garantindo novos usos e, portanto, a preservação deste espaço atrelado à história fundacional da UnB. E mais, com o SG-10, a FAU insere-se espacial e simbolicamente no campus, articulando SG-10 e ICC, num fluxo de pessoas e ideias que poderão diariamente percorrer áreas de grande beleza arquitetônica, paisagística e cultural.

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