Desafiador à primeira vista, os contatos iniciais como docente no ambiente escolar são transformadores. É em sala de aula que estudantes de licenciatura dão seus primeiros passos para aperfeiçoar a formação profissional, colocam seus conhecimentos em prática e se preparam para, futuramente, enfrentar a realidade das escolas como professores.
Essas são algumas das experiências proporcionadas pelo Programa Institucional de Bolsistas de Iniciação à Docência (Pibid). Além de inserir os licenciandos já nos primeiros semestres de curso no cotidiano escolar, o programa prioriza a qualidade da formação inicial de docentes em nível superior na educação básica pública.
Durante as atividades, os estudantes podem contribuir de forma inovadora com a proposição de alternativas para o processo de ensino e aprendizagem nesses espaços. Coordenador institucional do Pibid na UnB, o professor Pedro Gontijo destaca a importância da iniciativa para o amadurecimento dos graduandos no exercício da docência desde o início do curso. “Tem toda uma especificidade dos saberes docentes – aqueles desenvolvidos a partir da prática pedagógica na escola – os quais não são obtidos nas salas de aula da universidade”, avalia.
Estudante de licenciatura em Filosofia, Luciano Gonçalves considera que a oportunidade de atuar como bolsista do programa lhe possibilitou aprofundar a discussão de problemáticas que permeiam a realidade dos jovens secundaristas. Atuando em uma escola de ensino médio de Sobradinho, o incômodo com a ausência de diálogo sobre situações de desigualdade de gênero presenciadas em sala de aula logo tornou-se mote para a realização de atividades extraclasses que promovessem reflexões críticas sobre o assunto.
“Percebi que os alunos são muito interessados nessas temáticas, mas, às vezes, o espaço que temos para abordá-las são limitados”, afirma. Para incentivá-los, Luciano decidiu reunir um grupo de alunos para acompanhar algumas aulas do curso de verão de Filosofia e Feminismo, ministrado pela professora Ana Miriam Wuensh, na UnB. A ideia é que os alunos pudessem se aproximar da temática do feminismo a partir de leituras, de discussões em grupo e da apresentação de seminário em classe.
Nathália de Souza Lima, aluna do terceiro ano do ensino médio, foi uma das participantes do projeto e relata o aprendizado adquirido. “É notório que, nas escolas, alguns assuntos de extrema importância são tratados de forma bem superficial. Ter participado do intercâmbio entre escola e Universidade me fez perceber várias questões que, mesmo comuns, afetam o rendimento escolar, a vida do aluno e a convivência com os colegas”.
MUDANÇAS — Neste ano, serão oferecidas na UnB 128 bolsas para o desenvolvimento de atividades de docência em escolas públicas do Distrito Federal. Pedro Gontijo explica que recentemente a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), responsável por articular os programas nacionais para formação de professores da educação básica, fez algumas reformulações no Pibid.
Entre as mudanças está a divisão de metade das bolsas do Pibid em nível nacional para o Programa de Residência Pedagógica, criado neste ano como instrumento adicional para aprimorar a formação de discentes como educadores. A oferta para todo o país será de 45 mil bolsas para cada programa – na edição anterior, lançada em 2013, o total disponibilizado para o Pibid era de quase 90 mil bolsas.
Houve também corte nos recursos financeiros para a compra de materiais e insumos e redução do período de vigência das bolsas: antes era de até quatro anos, agora é de no máximo 18 meses.
A definição do número de bolsas por unidades federativas inclui-se às adequações realizadas pela Capes. Segundo Gontijo, o critério, no entanto, desconsidera as especificidades de cada universidade para a execução do programa. “O número de vagas destinadas para o Distrito Federal é muito baixo diante da própria demanda”, critica. Ele reforça que as vagas concedidas à UnB também foram inferiores às solicitadas, sendo necessária a reestruturação do projeto institucional para o desenvolvimento das atividades.
Para contemplar as diversas áreas do conhecimento, desta vez, a UnB contará com apenas um subprojeto multidisciplinar, com cinco núcleos de iniciação à docência, os quais incluem as seguintes disciplinas: filosofia, pedagogia, educação no campo, ciências naturais, história, geografia, sociologia, letras - português, letras - inglês, artes cênicas, artes visuais, música, física, química e biologia. Os núcleos podem conter o mínimo de 24 e o máximo de 30 discentes, além de um coordenador de área e três supervisores.
NOVIDADE — Licenciandos podem contar a partir deste ano com uma nova opção de aperfeiçoamento da formação, voltada à imersão nas escolas por meio do estágio supervisionado: a Residência Pedagógica. A inciativa inclui atividades de regência de sala de aula e intervenções pedagógicas que possibilitam o desenvolvimento de habilidades práticas, com base nos conhecimentos adquiridos ao longo do curso. As práticas são acompanhadas por um professor da escola pública da respectiva área de atuação do estudante, sob orientação de docente da Universidade.
Para esta primeira edição, 360 bolsas foram disponibilizadas para a UnB. Podem participar do programa discentes que estejam na segunda metade do curso ou cursando a partir do quinto período. Assim como no Pibid, as bolsas têm o valor de R$ 400. Informações sobre inscrições nas respectivas áreas do conhecimento podem ser obtidas na Coordenação de Integração das Licenciaturas (CIL) pelo telefone 3107-6417 ou pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Ambos os programas estão entre as ações promovidas pela CIL para valorização e fortalecimento da formação docente inicial e continuada. Para integrar essas iniciativas às que já são desenvolvidas na UnB, a unidade tem conduzido as discussões para a elaboração de uma política institucional de formação de professores. “A Universidade está em busca não apenas de regulamentar os seus currículos de formação de professores, mas também de ajustar as normativas de temas específicos das práticas curriculares e estágios supervisionados”, esclarece a coordenadora da CIL, Maria Isabel Montandon.