“Sua gestão nos acompanhou nesse processo de aldear a universidade”, disse a estudante da Faculdade de Direito e presidente da Associação dos Acadêmicos Indígenas (AAIUnB), Manuele Pimentel Serra, indígena do povo Tuyuka, para a reitora Márcia Abrahão. A homenagem preparada pelos estudantes em reconhecimento às contribuições da gestora à inclusão dos povos originários foi lida durante a abertura da VIII Semana dos Acadêmicos Indígenas da Universidade de Brasília, na terça-feira (9), na Maloca, no campus Darcy Ribeiro. O professor da Faculdade de Direito e reitor (2009-2012) José Geraldo de Sousa Junior também foi homenageado pelos estudantes.
Márcia Abrahão recebeu uma placa da Associação dos Acadêmicos Indígenas e um maracá com as impressões Márcia Reitora UnB – Atikum, presente do egresso do curso de Ciências Biológicas da UnB Leonel Atikum. Ao final da homenagem, participou do Toré, um ritual indígena que pede proteção e significa agradecimento.
“A professora Márcia Abrahão é uma das pessoas que colaborou e ainda continua colaborando para que a gente consiga permanecer na Universidade, levando a nossa cultura, a nossa história, nossa resistência e a nossa luta”, disse o estudante de Jornalismo da UnB Helder Rabelo, do povo Kambeba, ao iniciar a homenagem.
Manuele Pimentel Serra leu um texto e entregou a placa à reitora. “Tivemos momentos difíceis, mas superamos juntos, no diálogo e na escuta, fossem elas de subidas calorosas na rampa da Reitoria ou por meio da Coquei [Coordenação da Questão Indígena]. A pandemia foi um dos mais difíceis percalços, senão um dos piores, mas lembro que a nossa amada Universidade se desdobrou, se envergou ao máximo para que seus frutos não sofressem muitos prejuízos, e assim voltamos, apesar de algumas perdas de colegas que infelizmente não tiveram fôlego para continuar a caminhada, pois de fato não é fácil.”
O reitor (2009-2012) José Geraldo de Sousa Junior também recebeu uma placa e um paneiro. “Muito mais do que a construção da Maloca, o professor José Geraldo sempre foi um incentivador da presença de vocês na Universidade. Foi na gestão dele que criamos a primeira coordenação indígena, no Decanato de Ensino de Graduação, quando eu estava como decana. Sempre com todo o apoio do professor José Geraldo. Depois conseguimos uma salinha no final do ICC Sul até, finalmente, chegarmos à Maloca”, relembrou a reitora.
José Geraldo destacou as contribuições de Márcia Abrahão como gestora do Reuni, Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, quando esteve como decana de Ensino de Graduação da UnB. “A Maloca é síntese das duas dimensões: expansão e reestruturação. Ela coordenou a gestão que permitiu ao Conselho Universitário inscrever o projeto da Maloca. Foi uma conquista das lutas dos movimentos indígenas. Nos dá muita alegria ver a professora Márcia, reitora, mantendo o engajamento que sempre expressou nesse modo de abrir a Universidade, fazer a gestão compartilhada, de inserir a dimensão dos direitos humanos.”
Márcia Abrahão recordou que o primeiro protesto com subida de rampa de sua gestão foi protagonizado pelos estudantes indígenas. “O vestibular indígena tinha parado e eu não sabia. Nós retornamos com o vestibular e aprovamos a resolução de 1% de vagas extras para indígenas, também já não tinha mais limite de cursos. Com o passar dos anos, vimos que precisávamos avançar. No ano passado, aprovamos uma nova resolução tirando a barreira. Então, quantas vagas os cursos quiserem ofertar, nós teremos oportunidades para mais indígenas”, descreveu.
A secretária de Direitos Humanos da UnB, Deborah Santos, participou da homenagem. “É uma honra estar aqui com pessoas que já estavam lutando no momento em que eu cheguei na Universidade de Brasília. Eu participei da primeira recepção dos indígenas, lá na Fazenda Água Limpa. E considero a Maloca a minha casa, sempre me emociono quando venho aqui”, disse Deborah Santos, que foi assessora de Diversidade e Apoio aos Cotistas durante a gestão do professor José Geraldo. Atualmente, a Coordenação da Questão Indígena (Coquei), coordenada pela professora Claúdia Renault, faz parte da SDH.
“Quero parabenizar vocês pela luta, pela persistência e por nos ajudarem a ter forças para manter vocês e trazer cada vez mais indígenas para a nossa Universidade. Vocês sabem muito bem que nada é feito sem luta. Nós trabalhamos muito na gestão, mas é tudo graças à luta de vocês. É essa luta que nos dá forças para podermos resistir em momentos difíceis. O que nós estamos fazendo na gestão é um dever. Estudar é um direito de vocês. É por isso que nós procuramos dar todas as condições possíveis, ainda sabendo que não são as condições perfeitas’, finalizou a reitora.
INDÍGENAS NA UnB – Em 2004, estudavam na UnB 12 estudantes indígenas. Hoje, são 203, de 53 etnias diferentes, em 58 cursos de graduação, e 55 estudantes na pós-graduação: 18 no mestrado e 37 no doutorado. Ao todo, há 52 indígenas formados pela UnB. Entre os servidores, há onze professores indígenas e sete técnicos administrativos, nesse caso, somente os autodeclarados.
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Pioneira na reserva de vagas para indígenas, com o primeiro vestibular em 2004, a UnB aprovou, em 2020, a reserva de vagas na pós-graduação. Em 2021, também passou a ter reserva de vagas em estágios. A previsão era de dez vagas por ano e, no último vestibular, foram disponibilizadas 85 vagas. Ano passado, foi aprovada a resolução que acaba com o limite de vagas extras para indígenas nos cursos.
Com relação aos auxílios, a Universidade oferece bolsas emergenciais e acesso gratuito ao Restaurante Universitário (RU). Uma bolsa instalação é destinada aos estudantes nos primeiros três meses, no valor de R$ 465. Eles podem participar de diferentes editais da assistência estudantil, como o auxílio socioeconômico de R$ 500, bolsa moradia de R$ 530 e auxílio transporte de R$ 300. Além desses, tem a bolsa permanência do Ministério da Educação (MEC) no valor de R$ 1.400.