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A Universidade de Brasília realizou cerimônia de entrega da ferramenta Exata Falada, uma inovação baseada em inteligência artificial (IA) para a audiodescrição de equações e gráficos matemáticos. Coordenado pelo professor Rafael Amaral Shayani, do Departamento de Engenharia Elétrica (ENE/FT), e pela mestranda em Ciências Mecânicas (PCMEC/ENE/FT) Késsia Tayná Silva, o projeto tem objetivo de reduzir barreiras na comunicação de conteúdos matemáticos para estudantes cegos, com baixa visão, visão monocular ou com dislexia ou discalculia. O evento ocorreu no dia 20, no auditório do ENE, campus Darcy Ribeiro, Asa Norte.
“Os leitores de tela tradicionais interpretam as equações como se fossem frases em português, o que gera confusão. Nossa solução usa inteligência artificial para estruturar a descrição de maneira mais intuitiva e acessível”, explicou o docente Rafael Amaral Shayani durante a apresentação.
A estudante de pós-graduação Késsia Tayná Silva tem baixa visão. Ela mencionou a própria experiência para falar da importância do projeto. “Nos cursos de engenharias, quase não há estudantes com deficiência visual, justamente pela dificuldade de acesso ao conteúdo. Esta tecnologia abre novas possibilidades de aprendizado e inclusão. Durante as aulas que cursei na graduação em engenharia, percebi que muitas vezes a linguagem matemática não é facilmente verbalizada, tornando o aprendizado ainda mais desafiador”, frisou.
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A ferramenta, que já foi testada em listas de exercícios da disciplina Cálculo 1 da UnB, será disponibilizada para estudantes que utilizam sintetizadores de voz, incluindo aqueles com baixa visão, dislexia ou que prefiram consumir o conteúdo em formato auditivo. “Esse é apenas o primeiro passo. Continuaremos aprimorando a tecnologia para atender cada vez mais alunos”, informa Shayani.
RELEVÂNCIA – A decana de Assuntos Comunitários, Camila Areda, ressaltou o impacto da ferramenta. “Como pessoa e como gestora, é um prazer ver esse projeto se concretizar. As dificuldades de acessibilidade são enormes dentro da universidade, e essa tecnologia demonstra que estamos nos adequando às mudanças da sociedade. Meu envolvimento com a acessibilidade começou ainda no ensino médio, quando aprendi braile para ajudar uma colega de classe. Isso me dá uma compreensão da complexidade de traduzir equações matemáticas para um formato acessível.”
Géssica Oliveira, à frente da Diretoria de Acessibilidade (Daces/DAC), reforçou a relevância da iniciativa. “A felicidade é imensa, pois precisamos constantemente inovar para garantir que nossos alunos tenham pleno acesso ao conhecimento. Esta ferramenta representa um grande avanço para a acessibilidade na UnB”, pontuou.
O diretor do Instituto de Ciências Exatas (IE), Ricardo Ruviaro, destacou o legado da iniciativa. “Fazer uma ferramenta como essa não é apenas um marco, mas uma oportunidade de ampliar a acessibilidade e a inclusão na universidade. É uma inovação que permitirá que mais pessoas compreendam e utilizem conceitos matemáticos de forma eficaz”, enfatizou.
PRÓXIMOS PASSOS – As listas de exercícios de Cálculo 1 em linguagem natural estão com os professores do Instituto de Matemática, que vão disponibilizar aos alunos já no início do próximo semestre. Caso outras unidades ou instituições de ensino tenham interesse, podem entrar em contato pelo e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
A equipe responsável pelo Exata Falada pretende ampliar a aplicação da ferramenta para o ensino médio, aprimorar a leitura de tabelas e desenvolver uma interação mais dinâmica com o usuário. Além disso, há planos para incorporar um tutor de inteligência artificial que auxilie estudantes com dúvidas sobre o conteúdo matemático.
PARTICIPAÇÃO – Além do professor Rafael Amaral Shayani e da mestranda Késsia Tayná Silva, participa do projeto o docente Jorge Cormane Angarita (FCTE). Doze estudantes de graduação e um do ensino médio colaboraram com o desenvolvimento da tecnologia de áudio descrição. Entre os cursos envolvidos no projeto, estão os de graduação em Computação, Engenharia Aeroespacial, Engenharia de Computação, Engenharia de Produção, Engenharia de Software, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecatrônica, Letras, Medicina e de pós-graduação em Ciências Mecânicas.
O investimento para desenvolvimento da ferramenta foi de R$ 100 mil, provenientes de emenda parlamentar da bancada do Distrito Federal indicada pela deputada federal Érika Kokay (PT-DF). Ao todo, a equipe levou nove meses para concluir o projeto.