A modernização das tecnologias da informação e da comunicação, a diversidade de perfis dos estudantes ingressos e as necessidades de aliar formação à prática têm trazido às instituições de educação superior desafios para se pensar novos modelos de ensino e aprendizagem para ampliar a qualidade acadêmica. Com a proposta de trazer o tema ao debate e estimular a troca de experiências positivas, especialistas no assunto se reuniram na Universidade de Brasília durante encontro sobre Educação Superior e Metodologias Ativas.
Cláudia Griboski, professora do Instituto de Psicologia da UnB e ex-diretora de Avaliação Superior do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), destacou a utilização de políticas públicas, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), como estratégia para promoção de mudanças nos projetos pedagógicos dos cursos de graduação. Segundo ela, os instrumentos utilizados pelo sistema permitem avaliar integração entre pesquisa, ensino e extensão, abrangendo quesitos como a qualidade da instituição e dos cursos, desempenho dos estudantes e do corpo docente, além da promoção da responsabilidade social.
“A avaliação é indutora de qualidade: ela deve ser usada para mudar a prática e os projetos pedagógicos nos cursos das Universidades”, comentou a professora, que participou do processo de criação do Sinaes. Griboski acredita que as discussões em nível mundial sobre os avanços necessários para a formação discente apontam para uma nova dinâmica da educação superior que atenda ao desenvolvimento da sociedade, possibilite o acesso de forma igualitária e com qualidade. Além disso, ressaltou que os avanços devem passar pela internacionalização, regionalização e globalização das instituições, com integração da aprendizagem à pesquisa e à inovação.
No painel Políticas da Educação Superior, Marlis Polidori, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também reconheceu que os indicadores do Sinaes têm se refletido em investimentos e políticas para ampliar a qualidade do ensino superior no país. Alguns dados das avaliações feitas em 2004, em comparação com as de 2014, demonstram essa evolução. “Nós já temos um sistema consolidado. Na criação, nos espelhamos em exemplos de outros países. Atualmente, o modelo como ele está estabelecido, não existe em nenhum lugar. Mas ainda há essa ânsia em tentar rever no que ele precisa ser melhorado”, pontua.
As transformações do ensino nas universidades a partir da internacionalização foi outro tópico do painel. Gladys Barreyro, professora da Universidade de São Paulo, apontou a acreditação das graduações (instrumento utilizado para avaliar e reconhecer a qualidade dos cursos universitários, seja em nível regional ou nacional) e os rankings globais como principais estratégias para avaliação da qualidade em nível global.
Barreyro pontua que ainda está sendo pensado um sistema de avaliação que abranja instituições de todo o mundo para mensurar qualidade, pois a grande dificuldade atual é traçar um comparativo considerando as especificidades de cada. No entanto, blocos como o Mercosul e a União Europeia já possuem sistemas de acreditação regional para reconhecer graduações de países que compõem esses grupos.
NOVAS ABORDAGENS – Promovido pelo Decanato de Ensino de Graduação e o Laboratório de Psicologia Escolar da UnB, o encontro sobre Educação Superior e Metodologias Ativas também abriu espaço para o debate sobre novas propostas de ensino para formação discente na graduação. “Temos casos de sucesso na UnB, mas várias áreas ainda desconhecem a temática. Cabe a nós auxiliar os alunos a se profissionalizarem para além do conhecimento técnico trazido pelas universidades”, declarou o decano de Ensino de Graduação, Mauro Rabelo, durante a mesa de abertura.
Entre as experiências positivas compartilhadas nos workshops, professores da Universidade do Minho, em Portugal, apontaram a interdisciplinaridade como uma das chaves para transformação do ensino. Segundo a docente portuguesa Diana Mesquita, a aplicação dessa abordagem nos currículos proporciona maior envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem, além de reflexões mais críticas e uma visão mais global dos temas trabalhados.
“A interdisciplinaridade traz uma consciência de que os problemas não estão divididos em ‘gavetas’, como os currículos atuais nos mostram. Problemas reais são, na verdade, uma integração de todas as ‘gavetas’, então por que não tornar essa articulação mais curricular para que os alunos sejam capazes de resolvê-los?”, questionou Mesquita.
Conferência de abertura, painel e workshops marcaram a programação do evento, realizado na última sexta (19), no auditório do BSA Norte, com a participação de convidados da UnB e de outras universidades do país e do exterior. Entre os presentes, estiveram o decano de Extensão, Valdir Steinke, e os professores Cleisy Marinho e Daniele Nunes, do Instituto de Psicologia, Ricardo Ramos Fragelli, da Faculdade do Gama, Rui Lima, da Universidade do Minho, João Mello da Silva, da Faculdade de Tecnologia, e Paulo Sérgio França, da Faculdade de Medicina.