Que a universidade desenvolve pesquisas e projetos pensando na evolução e no bem-estar da sociedade, você já sabia. Agora, uma nova ação da Faculdade UnB Ceilândia (FCE) deixa ainda mais evidente como a instituição, de fato, pode compor o dia a dia das pessoas e se integrar à comunidade externa.
Na última quinta-feira (12), por meio de uma parceria da Universidade de Brasília com o Centro de Ensino Médio 12 (CEM 12) e a Unidade Básica de Saúde (UBS 1), foi dado o pontapé inicial em uma iniciativa que pretende levar ações de prevenção e promoção da saúde mental para escolas e UBSs do Distrito Federal.
Pelo projeto Tecendo o Amanhã, estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes do curso de Terapia Ocupacional da UnB vão atuar primeiramente com alunos do CEM 12 e da comunidade que apresentem e/ou lidem diretamente com transtornos de neurodesenvolvimento, como o do Espectro Autista (TEA) ou o do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
“Vamos promover saúde mental através do protagonismo juvenil, da participação juvenil por meio de ações que envolvam arte e cultura. A ideia é identificar não só o potencial que a escola tem para aprimorar e botar no seu dia a dia, mas também quem podemos identificar como parceiro da escola para estar desenvolvendo ações”, pontua a professora da FCE Flávia Mazitelli.
“Dentro desses grupos vamos identificar os estudantes que têm o perfil de ser um educador entre pares, para que [a ação] seja perene e eles consigam ficar na escola com a nossa supervisão, fomentando discussões, rodas de conversa, encontros de arte e cultura”, complementa a educadora.
O estudante do terceiro ano do ensino médio do CEM 12 Thiago Pereira já estudou com colegas diagnosticados com TEA e também convive com um primo que apresenta paralisia cerebral. Ele acredita que iniciativas como a do Tecendo o Amanhã podem ajudar o aprendizado e a integração dessas pessoas.
“Ajuda e incentiva também. Acho que é muito importante, porque tem pessoas que nem sempre vão ter certas oportunidades e habilidades iguais às de outras”, opina.
Também estudante do terceiro ano do ensino médio do CEM 12, Sofia Sousa Araújo conta que ela mesma tem dificuldades para acompanhar as aulas e se utiliza dos recursos que a escola oferece atualmente para conseguir ter êxito.
“Eu sempre tive dificuldade, mas com minha mãe me ajudando, fazendo cursinho, melhorou um pouco. Mas eu acho muito bom que vai ajudar quem tem dificuldade, e vai me ajudar também”, espera.
Além de estudantes, serão foco do projeto os professores e os profissionais de saúde, que, segundo a docente da UnB Ceilândia Daniela Rodrigues, precisam de um olhar de autocuidado. “É importante também olhar para nós, o quanto muitas vezes ficamos sobrecarregados com algumas questões de trabalho e o quanto precisamos olhar para o nosso autocuidado”, ressalta.
“Vamos promover isso junto com vocês fazendo oficinas, estando tanto aqui na escola quanto nas unidades básicas que temos como piloto. Mas a ideia é expandir. Vamos iniciar dessa maneira e aí vamos vendo quais serão as principais demandas que vão surgindo no decorrer do projeto”, expôs Daniela, durante o lançamento do projeto.
Josenaide Engracia, também professora da FCE e coordenadora do Tecendo o Amanhã, explica que o grupo vai discutir o tema neurodiversidade com as equipes de Atenção Primária à Saúde do Distrito Federal – conjunto de serviços e ações do SUS que previne doenças mais frequentes, promove a saúde da comunidade e trata do acompanhamento e recuperação de casos menos graves.
O objetivo é melhor atender a comunidade da Ceilândia junto com a Secretaria de Saúde e de Educação, sobretudo em casos de crianças com TEA, por exemplo. “Este projeto foi construído pela comunidade de Ceilândia. Esse pedido de ter acolhido o seu sonho, de ter seu projeto de felicidade tem que ser construído coletivamente”, ressalta.
“Estar aqui, poder materializar isso: conceitos que ensinamos em sala de aula, a necessidade de promoção à saúde, de desenvolver competências para que as pessoas façam escolhas mais legais, seu projeto de felicidade; essa é a proposta”, resume Josenaide.
A professora Sarah Lins, da FCE, ficará responsável pelo eixo do projeto que lidará diretamente com a UBS 1 e os atendimentos ali prestados. “A ideia inicial é fazer uma ampliação na estrutura do espaço da UBS. Vamos construir esses espaços para viabilizar os atendimentos que serão realizados por equipe multiprofissional, com neuropediatra, neuropsicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, que vão atender a comunidade", explica a docente.
A princípio, todas as atuações das professoras, dos técnicos e dos estudantes do curso de Terapia Ocupacional da UnB Ceilândia serão realizadas uma vez por semana.
ALÉM DOS MUROS – O diretor da Faculdade UnB Ceilândia, João Paulo Chieregato, lembra que nos 16 anos do campus sempre houve uma grande preocupação com a comunidade e que a FCE lançou muitas ações e cursos de extensão para atender a essas demandas.
“Essas atividades vêm crescendo, amadurecendo. Nessa escola mesmo: a aliança que fazemos hoje é fruto de uma iniciativa que começou alguns anos atrás, de professores nossos aqui trabalhando com educação sexual, trabalhando com saúde nesses jovens, e hoje temos a perspectiva de ter um projeto muito maior. Sem dúvida faz cumprir o papel social de criação desse campus aqui em Ceilândia”, acredita.
“E sem dúvida é um dos nossos grandes projetos que extrapola de uma maneira muito potente os muros da Universidade para acolher essa população que nos acolheu 16 anos atrás”, avalia o diretor.
O projeto Tecendo o Amanhã é financiado pela Câmara dos Deputados, por meio de emenda parlamentar apresentada pelo deputado federal Reginaldo Veras. “É um projeto inovador, necessário, que trabalha a área de saúde mental na comunidade em que eu cresci, e desenvolvido pela Universidade de Brasília, que é onde eu estudei. Então, é tripla a felicidade. Mas, acima de tudo, é algo que além de trazer esse atendimento para a comunidade, vai contribuir para o desenvolvimento da ciência e para o desenvolvimento da pesquisa”, elogia Veras.