
A palestra Violências contra as mulheres: isso também é um problema dos homens, apresentada pela professora Valeska Zanello, do Instituto de Psicologia (IP/UnB), encerrou a programação do #8M2025 da UnB, em alusão ao mês de março, no qual se comemora o Dia Internacional da Mulher. Organizada pela Comissão de Direitos Humanos do Instituto de Letras (IL), em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos (SDH/UnB), a atividade reuniu mais de 80 participantes no Auditório da Reitoria, campus Darcy Ribeiro, Asa Norte, na segunda-feira (31).
Com extensa produção e divulgação científica sobre o tema, Zanello debateu diferentes aspectos da violência de gênero, do extremo (feminicídio) ao sutil (controle disfarçado de preocupação), permeados por questões de raça, estética e classe social. A docente destacou que as agressões têm impacto na saúde mental das mulheres: “Depressão, ansiedade, transtorno do estresse pós-traumático e transtorno do sono. Muitas vezes, os sintomas persistem após o fim da relação”, enfatizou.
Com dados do Instituto Avon, a professora refletiu acerca da percepção dos homens em relação à violência doméstica: “Quando perguntado diretamente aos homens se eles já cometeram alguma violência contra as mulheres, apenas 16% assumiram que sim, porém quando descrito aquilo que nós chamamos de violência, ‘você já xingou sua namorada ou sua ex-mulher?’, mais de 70% reconheceram que sim”.

De acordo com a docente, a construção de masculinidade e feminilidade é resultado histórico de características atribuídas aos gêneros. “Se o sexo masculino é ativo, o feminino é passivo. Se homens são agressivos, as mulheres são dóceis”, exemplificou.
As percepções estão atreladas a utilização capitalista do sexo como hierarquia, atravessadas por questões interseccionais: “O capitalismo precisa que mulheres continuem fazendo o trabalho invisível do cuidar e pessoas negras sejam exploradas em subempregos para o sistema econômico continuar a funcionar”.
Para facilitar a compreensão das dinâmicas de poder entre gêneros, Zanello criou a metáfora da “prateleira do amor”, um mercado de opções no qual os produtos (mulheres) da frente da prateleira são escolhidos, mediados por um ideal estético: brancas, loiras, magras e jovens. Quanto mais longe do padrão, localizado no início da prateleira, mais objetificada e desumanizada a mulher será: “Você não é vista como uma pessoa para se ter uma relação afetiva”.
A prateleira do amor cria rivalidade feminina e beneficia apenas os homens, pois as mulheres são, inclusive, condicionadas a se “calarem para manter o bem-estar dos outros e das relações”. Estas questões também influenciam a relação de maternidade e paternidade, na qual há sobrecarga materna e desresponsabilização paterna. No dispositivo materno, mães devem cuidar dos filhos, abdicando do tempo pessoal, mas pais são permitidos interromper o ciclo sem cobranças a respeito do “lanche da merenda e falta de cartolina”.
Zanello utilizou a metáfora da “casa dos homens”, de Daniel Welzer-Lang, para explicar as dinâmicas das masculinidades: “Imagine uma casa com vários cômodos e, para passar por eles, outros homens, ou mais velhos ou mais bem sucedidos financeiramente ou com mais experiência sexual, te testam. E não existe um cômodo final”. O conceito traduz as relações violentas e de cumplicidade dentro das masculinidades, que dão forma aos modos de ação de meninos e homens frente a meninas e mulheres.
SAIBA MAIS – Valeska Zanello fez parte da edição nº 30 da revista Darcy, na matéria Amor feminista, na qual aprofundou as temáticas de maternidade, prateleira do amor e letramento de gênero.
>> Leia a matéria Amor feminista, na edição nº 30 da revista Darcy
“Este evento não é apenas só para lembrar. É sobre honrar as memórias dessas mulheres, transformar nossa Universidade, nosso Distrito Federal, o nosso Brasil, em um espaço onde a mulher não precise temer pela sua vida”, afirmou a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos do IL, professora Roberta Cantarela.
Além disso, Cantarela ressaltou a importância da programação, cujo tema foi Tolerância zero contra assédios e violências de gênero na UnB ao relembrar de dois casos de feminicídios na Universidade: Thais Mendonça, em 1987, e Louise Ribeiro, em 2016.
#8M2025 – A secretária de Direitos Humanos da UnB, Claudia Renault, destacou a participação presencial e on-line da comunidade interna (discentes, docentes e técnicos) e externa ao longo do mês de março. Além disso, houve grande demanda para a palestra de Zanello: “a atividade contou com mais de 80 participantes presenciais e ficaram pessoas de fora da sala”.
O envolvimento da comunidade acadêmica refletiu na participação no Edital n°03/2025 da SDH, que incentivou a produção e criação de materiais educativos para prevenção e combate aos assédio na UnB. Segundo Rafaella Novaes, à frente da Coordenação das Mulheres (Codim/SDH/UnB), os materiais estão em análise. O resultado está previsto para ser divulgado na sexta-feira (4).
*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB