A UnB obteve destaque na 19ª edição do Prêmio Capes de Tese 2024, com cinco pesquisas reconhecidas. Aline Rocha, do Programa de Pós-Graduação em Metafísica (ICH/UnB), foi a vencedora com a tese Corpo-orí-idade: uma investigação filosófica sobre ontologia relacional no pensamento de Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí, orientada pelo docente Wanderson Flor do Nascimento, do Departamento de Filosofia (FIL/ICH).
A pesquisa examina a questão de gênero na cultura iorubá, baseada nos estudos de Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí sobre a sociedade Oyó-Iorubá pré-colonial. De acordo com a teórica nigeriana, observa-se que o gênero não é uma categoria ontológica da cultura, mas uma imposição do colonialismo.
“A tese é um avanço em um debate pouco estabelecido nos estudos em Filosofia no Brasil, sobre as relações entre corpo, raça, gênero e ontologias. Ela foi realizada a partir de uma interlocução interdisciplinar com o pensamento africano e ocidental, de modo politizado e rigoroso”, comenta o orientador.
Aline explica que o estudo explora “a ontologia relacional e desconstrói a visão tradicional sobre o continente africano, o colonialismo e a relação entre gênero e raça. E busca embaralhar as cartas sobre a mesa da Filosofia, ao estimular reflexões profundas sobre essas questões”.
Sobre o reconhecimento, a pesquisadora expressa emoção, agradecimento e diz que nutre “boas expectativas em relação ao Grande Prêmio”. Além dela, outros quatro egressos receberam menções honrosas.
RECONHECIMENTO – A egressa Daniely Neves, do programa de Pós-Graduação em Ciências Mecânicas (PCMEC/FT/UnB), foi premiada pela pesquisa Two-phase flow pattern analysis from pressure and vibration signature. Duas patentes resultantes da tese de doutorado também foram laureadas na 24ª edição do Prêmio Inventor Petrobras, entregue em abril.
Orientador da pesquisa de Daniely, o docente do departamento de Engenharia Mecânica (ENM/FT) Adriano Fabro destaca a relevância do reconhecimento, visto a baixa participação feminina nas Ciências Exatas, especialmente na Engenharia Mecânica. “Ter mulheres como a Daniely, com um grande destaque na sua área de atuação, é fundamental para dar visibilidade e para que as pessoas vejam que essa baixa representatividade é uma perda de talentos”, comenta.
“Realmente, ser reconhecida como uma pesquisadora nas Ciências Exatas tem um significado especial, pois vai além do reconhecimento pessoal. Representa um avanço na luta por igualdade de gênero em áreas dominadas por homens, inspira mudanças e contribui para um ambiente mais inclusivo e igualitário para as futuras gerações”, salienta Daniely.
Outra tese reconhecida foi a de Bruno de Paula, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGSOL/ICS/UnB). Intitulada Fazendo a ciência não-feita: a produção de contra-expertises diante da mineração de urânio em Caetité (BA), a pesquisa foi orientada por Tiago Duarte, do Departamento de Sociologia (SOL/ICS).
O autor conta que a pesquisa questiona a neutralidade científica e propõe que a ciência se engaje com populações vulneráveis, como aquelas afetadas pela mineração. Ele também apoia a união da academia com os movimentos sociais para pautar, com dados concretos, questões ambientais e de saúde pública.
“Foi a partir dessa abordagem que conseguimos dados robustos para entender o quadro de contaminação ambiental e a saúde pública na região de Caetité, na Bahia”, afirma Bruno.
Ainda receberam menção honrosa os trabalhos de Jane Cristina Pinto, com a tese Avaliação institucional externa e diversidade institucional no campo da educação superior no Distrito Federal, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/FE/UnB), com orientação do professor da Faculdade de Educação (FE) José Vieira; e a pesquisa de Marcio Conke, com o tema As raízes filosóficas da Epístola 7 de Santo Agostinho, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, orientado por Guy Hamelin, do Departamento de Filosofia (FIL/ICH).
PRÊMIO – O resultado final foi divulgado em 13 de setembro, contando com 49 trabalhos vencedores e 97 menções honrosas. Este ano, a premiação criada em 2005 registrou 1.632 inscrições, maior número de todas as edições. No ano passado, a UnB venceu na área de Serviço Social e teve cinco menções honrosas.
Considerado o oscar da ciência brasileira, o prêmio avalia critérios como originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação e o valor agregado, para reconhecer os melhores doutorados defendidos no país.
Os vencedores recebem bolsa de estágio pós-doutoral, certificado e medalha, já os orientadores ganham premiação em dinheiro. Instituições parceiras ainda oferecerão prêmios adicionais. A cerimônia oficial de entrega está marcada para dezembro e, entre os vencedores, três receberão o Grande Prêmio, um para cada colégio: Ciência da Vida e Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar.