Planejado para atender mulheres idosas, o projeto de extensão Prevenindo e tratando distúrbios miccionais e evacuatórios, que teve início em 2012, hoje presta assistência também a outras faixas etárias, incluindo homens com incontinência urinária relacionada aos problemas de próstata e crianças com enurese noturna (eliminação de urina involuntária durante o sono).
A iniciativa do departamento de Fisioterapia da Faculdade UnB Ceilândia tem como propósito auxiliar pacientes com disfunções na hora de ir ao banheiro e melhorar sua qualidade de vida. O sucesso do projeto deve-se à parceria com o Centro de Saúde 4 da cidade, que recebe, semestralmente, cerca de 12 alunos de graduação, uma de mestrado e três fisioterapeutas voluntárias. Sob a coordenação da professora e fisioterapeuta Aline Teixeira Alves, o grupo integra a escala dos profissionais da unidade de saúde.
O TRATAMENTO – Inicialmente, todos os pacientes participam da terapia comportamental. Nessa abordagem, grupos de sete a dez pessoas passam por três encontros com orientações sobre alimentação e ingestão de líquidos, postura de evacuação e outros aspectos que influenciam a micção e evacuação. Para isso, há o apoio do curso de Nutrição da UnB, que fornece uma lista de alimentos laxativos, flatulentos e constipantes adequando a dieta dos participantes. Caso os distúrbios permaneçam, o paciente é encaminhado para consultas individuais, quando são utilizadas outras abordagens para corrigir a disfunção, como o uso de técnicas de eletroestimulação.
A coordenadora Aline Alves diz que há escassez desse atendimento no SUS e que, também por isso, a iniciativa tem grande relevância social. “Ao longo desse tempo, sempre tivemos muito apoio do Centro de Saúde. Hoje somos uma referência na área do tratamento dos distúrbios miccionais da região. Nós atendemos toda a comunidade porque os postos de saúde e hospitais já conhecem o serviço”, afirma.
Ela explica que, como a iniciativa carece de verbas, os próprios voluntários arcam com todo o material necessário, inclusive de itens básicos como luvas e sondas. “Utilizamos equipamentos de ponta na eletroestimulação que foram doados por mim. Também dividimos os custos ao longo do semestre entre alunos e voluntários. Já fizemos campanhas de arrecadação e outras vezes recebemos doações. Estamos concorrendo a alguns editais de fomento e esperamos em algum momento ser contemplados para termos melhores condições no atendimento à comunidade”, compartilha Alves.
TRANSFORMAÇÃO – Aos 62 anos de idade, Dulcinea de Oliveira Ferreira é uma das pacientes assistidas pela extensão. Ela conta que o tratamento durou cerca de seis meses e que mudou sua qualidade de vida. “A importância do projeto foi grande. Eu tinha um pouco de incontinência urinária e aprendi a educar a bexiga para ir ao banheiro sem precisar sair correndo. Nas consultas, me explicaram que o aparelho que usavam em mim era para estimular a musculatura da bexiga. Eles também ensinaram a usar um suporte para os pés na hora de ir ao banheiro porque a postura correta também ajuda a melhorar a evacuação”, conta a paciente.
E não são apenas os assistidos que relatam o impacto da iniciativa em suas vidas. Voluntários do projeto afirmam que a vivência marca suas trajetórias profissional e pessoal. É o caso da estudante Thamires Lopes Botelho, que está no último semestre de Fisioterapia e participou da ação durante o ano de 2015.
"Recebi uma paciente que chegou muito triste. Em um dos questionários que aplicamos, ela atingiu a pontuação máxima no diagnóstico de depressão. Ela chorava e demonstrava pensamentos suicidas. Minha percepção era de que ela estava gritando por socorro. Fiz a avaliação e tentei acalmá-la. Disse que toda a equipe estava lá para ajudá-la e que ela não precisava se desesperar porque o quadro dela tinha solução. Por volta da quinta sessão, houve melhora significativa, tanto da saúde física quanto mental. No dia em que teve alta, ela não queria ir embora, mas disse que sairia apenas porque era necessário ceder a vaga para outra pessoa. Mesmo assim, voltou diversas vezes para nos visitar. Me recordo de como ela chegou e como rapidamente melhorou. É uma paciente que nunca vou esquecer”, compartilha Thamires.
A graduanda recomenda que todos os alunos participem de um projeto de extensão, ambiente propício para aliar teoria e prática. "Foram os dias mais bem vividos durante o meu curso. Tive oportunidade de ter contato direto com os pacientes, de colocar em prática o que aprendi nas aulas e de formar uma rede de contatos. Contamos com o apoio da coordenadora e de outros fisioterapeutas sempre dispostos a esclarecer nossas dúvidas e compartilhar bagagem profissional deles. Foi uma experiência incrível”, conclui Thamires.
SERVIÇO – O atendimento acontece às quartas e sextas-feiras, das 14h às 18h. Para agendar a primeira consulta basta comparecer ao Centro de Saúde 4 de Ceilândia. Atualmente existe uma lista de espera, sendo dada preferência a crianças, gestantes e idosos. Parcela considerável dos usuários é encaminhada pelo projeto Bombeiro Amigo do 8º Grupamento em Ceilândia – iniciativa do Corpo de Bombeiros que todo primeiro sábado do mês promove um circuito de atendimento à terceira idade com o apoio de uma equipe multidisciplinar da qual fazem parte também os voluntários desse projeto de extensão.
DIA DO IDOSO – Em comemoração ao Dia do Idoso, celebrado no Brasil em 1º de outubro, a Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília realiza uma série especial sobre serviços prestados pela UnB para a terceira idade. As reportagens, que serão publicadas no portal de notícias, têm com objetivo promover o debate sobre os direitos do idoso. Confira as outras reportagens: Prevenindo quedas na terceira idade, Os paradoxos da aposentadoria e envelhecimento saudável e Celebrando a terceira idade.
A data foi determinada por lei, em referência ao Estatuto do Idoso, aprovado em 1º de outubro de 2003 (Lei nº 10.741). A legislação é um passo importante para regulamentar os direitos que devem ser assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, previstos na Política Nacional do Idoso instituída pela Lei 8.842 de 1994.
Em seu terceiro artigo, o Estatuto estabelece que “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.