EXTENSÃO

Projeto da UnB Ceilândia presta atendimento e orientações a idosos em risco potencial de quedas. Iniciativa atua em parceria com a Secretaria de Saúde e com o Corpo de Bombeiros do DF

 

 

Idosos se encontram em atividade da Escola de Avós. Foto: Divulgação
Idosos se encontram em atividade da Escola de avós. Foto: Divulgação

 

Até 2025, segundo a OMS, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, totalizando cerca de 32 milhões de pessoas. Promover o envelhecimento ativo e saudável torna-se cada vez mais necessário e, nesse contexto, um grande desafio é a alta incidência de quedas na terceira idade e o custo que isso representa para a saúde pública.

 

De acordo com dados do Ministério da Saúde, no primeiro semestre deste ano já foram registradas, no Sistema Único de Saúde (SUS), cerca de 62 mil quedas de idosos, que somam um custo de R$97 milhões para os cofres públicos. No ano anterior, os números chegam a mais de 106 mil procedimentos hospitalares, um gasto de aproximadamente R$ 160 milhões.

 

Contribuir para a melhoria desse cenário é o objetivo da Escola de avós e oficinas de quedas: aprender para prevenir – projeto de extensão da Faculdade UnB Ceilândia que, desde 2010, atua em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde do GDF e o Corpo de Bombeiro Militar do Distrito Federal.

 

O PROJETO – A primeira vertente da iniciativa ocorre no primeiro sábado de cada mês, no 8o Grupamento de Bombeiros em Ceilândia, como parte do Programa Bombeiro Amigo e do projeto Escola de avós, do SUS. No encontro, é promovido um circuito de atendimento à terceira idade com o apoio de uma equipe multidisciplinar da qual fazem parte os extensionistas e professores do curso de Fisioterapia da UnB. Esse é o contato inicial entre pacientes e profissionais do projeto. O objetivo é rastrear idosos em risco potencial de quedas e promover dinâmicas educativas esclarecendo dúvidas sobre diversas questões em saúde.

Paciente faz atividade na oficina de prevenção de quedas. Foto: Divulgação
Paciente faz atividade na oficina de prevenção de quedas. Foto: Divulgação

 

Uma vez executada essa etapa, os pacientes mapeados são orientados a participar da Oficina de prevenção de quedas realizada nas tardes de terças e sextas-feiras, também no quartel dos Bombeiros. Na atividade, os idosos praticam exercícios em grupo para trabalhar o equilíbrio e fortalecer a musculatura e recebem orientações que os auxiliam na prevenção das quedas.

 

A terceira linha da extensão, chamada de Acolhimento, acontece no Hospital Regional de Ceilândia, toda sexta-feira pela manhã, e consiste em receber idosos que foram encaminhados pelo clínico geral dos centros de saúde para o atendimento geriátrico. Antes de passar pelo especialista, o paciente é recepcionado pelos extensionistas para uma avaliação que detalha suas condições de saúde.

 

Patrícia Azevedo Garcia, professora de Fisioterapia e coordenadora do projeto, explica que, além do papel preventivo, a ação visa fornecer aos atendidos orientações relevantes e uma rede de apoio. “Aqui eles formam um grupo de convivência e percebem que tem mais uma equipe para contar nessa fase tão importante da vida. Assim, aumentamos a aderência dos idosos às ações preventivas e promovemos seu bem-estar, tornando o envelhecimento possível de ser vivido ativamente e com qualidade”, afirma Garcia.

 

“O que temos percebido como resultado é que os idosos realmente têm diminuído os números de quedas e estão se envolvendo mais na prática de atividades físicas. Outro feedback positivo é que eles são multiplicadores do conhecimento e passam a orientar familiares, amigos, grupos que frequentam em igrejas. Isso tem feito com que outros idosos também procurem pelo nosso serviço”, completa a geriatra do Hospital Regional de Ceilândia Luciana Lilian Louzada Martini, que integra também a equipe do Hospital Universitário de Brasília. “O projeto de extensão tem nos ajudado bastante porque atendemos um público grande na região”, afirma Martini.

 

A professora Patrícia Garcia recebe carinho da paciente Matilde Souza. Foto: Divulgação
A professora Patrícia Garcia recebe carinho da paciente Matilde Souza. Foto: Divulgação

 

DEPOIMENTOS – Ter cuidado na hora de tomar banho, não colocar tapete na casa, não encerar o chão, não caminhar no escuro são algumas dicas que Matilde dos Santos Souza, 81, a primeira idosa atendida na Oficina, conta ter aprendido. Sobre a importância do projeto, ela afirma: “Um tempo atrás eu sempre tropeçava. Quando via já estava no chão. Um dia eu caí no meio da rua, machuquei a mão e o joelho e fui levada ao posto de saúde. Então comecei a ir para a Escola de avós e depois da fisioterapia nunca mais caí”. Ela conta que os motivos de ser assídua na atividade vão além da saúde. “Aqui a gente é bem cuidado, faz muitos amigos, aprende coisas novas”.

 

Para Santa Poliselo Menino, 88, mais conhecida como dona Santa, não é diferente. "Todo aniversário ela comemora na Escola de avós. É como estar em família, todos a conhecem. O atendimento é excelente. É só a gente falar que chegou o dia de ir para lá que ela logo quer se arrumar para sair", compartilha Ângela Regina de Carvalho dos Santos Menino, nora da paciente e uma de suas cuidadoras.

 

Apesar de não poder fazer as atividades físicas realizadas na oficina, devido à limitação na mobilidade resultante do Acidente Vascular Cerebral (AVC), dona Santa recebe outras orientações importantes. “Ensinamos os exercícios que ela precisa fazer para os membros inferiores e superiores. Orientamos sobre os cuidados diários na hora de transferir a paciente da cadeira de rodas para outros locais, cuidados com a pele, sobre a importância de manter a paciente socializada”, esclarece Garcia.

 

Dona Santa comemora aniversário na Escola de avós. Foto: Divulgação
Dona Santa comemora aniversário na Escola de avós. Foto: Divulgação

 

APRENDIZADO – Raphaela Xavier Sampaio está no sétimo semestre de Fisioterapia e há um ano é extensionista no programa. Essa é sua primeira experiência de atendimento ao público da terceira idade. “Sempre tive interesse no cuidado de idosos e essa experiência me influenciou bastante. Estou perto de concluir a graduação e pretendo prosseguir os estudos nessa área”, afirma.

 

Para Raphaela, algo especial é a gratidão com que os pacientes retribuem ao atendimento. “Percebemos que algo importante para o idoso é a convivência. Eles são muito carinhosos conosco. Muitos deles chegam com depressão e outros problemas de saúde. Então, por meio da atividade física e de um pouco de instrução, podemos ajudá-los a vivenciar a terceira idade com a melhor qualidade possível. Isso é gratificante".

 

A coordenadora Garcia acredita que a dedicação de alunos como Raphaela é o segredo do sucesso. “A cada semestre há novos participantes e essa energia do estudante contagia o idoso e revigora o projeto. Eu acho que é por isso que há quase seis anos continuamos crescendo sem perder a qualidade”, compartilha a professora.

 

LEIA MAIS – Outros projetos afins são realizados na Universidade de Brasília. É o caso do Circuito de equilíbrio na marcha, prevenção de quedas e qualidade de vida de idosos, desenvolvido pela pesquisadora da Faculdade de Ciências da Saúde Juliana de Almeida em parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física para Idosos (Gepafi). O objetivo da pesquisa é verificar quais treinamentos físicos os idosos podem fazer para se adaptar às mudanças na forma de andar e alterações no equilíbrio relacionadas à idade.

 

Arte: Igor Outeiral/Secom UnB
Arte: Igor Outeiral/Secom UnB

 

DIA DO IDOSO – Em comemoração ao Dia do Idoso, celebrado no Brasil em 1o de outubro, a Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília realiza uma série especial sobre serviços prestados pela UnB para a terceira idade. As reportagens, publicadas no portal de notícias, têm com objetivo promover o debate sobre os direitos do idoso. A primeira matéria tratou sobre os benefícios da fisioterapia uroginecológica realizada pelo projeto Prevenindo e tratando distúrbios miccionais e evacuatórios. As outras matérias são Os paradoxos da aposentadoria e envelhecimento saudável e Celebrando a terceira idade

 

O dia do idoso foi determinado por lei, em referência ao Estatuto do Idoso, aprovado em 1o de outubro de 2003 (Lei n. 10.741). A legislação é um passo importante para regulamentar os direitos que devem ser assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, previstos na Política Nacional do Idoso instituída pela Lei n. 8.842 de 1994.

 

Em seu terceiro artigo, o Estatuto estabelece que “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.