ENTREVISTA

Márcia Abrahão apresenta as estratégias para alcançar a excelência em ensino, pesquisa e extensão

 Foto: Luis Gustavo Prado / Secom UnB

 

Avançar na qualidade acadêmica, desenvolver mais as áreas de pesquisa e inovação, ampliar o diálogo com professores, estudantes e servidores, garantir interlocução com a sociedade, simplificar os processos e melhorar a aquisição e a execução orçamentária. Esses são alguns dos desafios a serem vencidos nos próximos quatro anos pela gestão liderada pela reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão.


Márcia, professora e ex-diretora do Instituto de Geociências, é a primeira mulher a ocupar o cargo máximo da UnB. Enrique Huelva, ex-diretor do Instituto de Letras, é o vice-reitor. Os dois, ao lado de uma equipe formada por seis decanas e um decano, ficarão à frente da administração até 2020.


“As mulheres se sentem mais representadas”, afirma Márcia, para quem a presença feminina no comando da Reitoria tem um peso simbólico. Docente do quadro da UnB há mais de 20 anos, a reitora defende a excelência nas diversas áreas da instituição como aspecto primordial a ser trabalhado.


Graduada (1986), mestre (1993) e doutora em Geologia (1998) pela UnB, além de pós-doutora na área (2003-2004) pela Queen’s University, no Canadá, Márcia foi também decana de Ensino de Graduação entre 2008 e 2011, quando coordenou o Programa de Reestruturação e Expansão da UnB (Reuni). Sob o comando dela, houve a criação dos campi do Gama e de Ceilândia e a ampliação das vagas em Planaltina e no Plano Piloto.


Em entrevista à Secretaria de Comunicação da UnB, Márcia Abrahão falou sobre as principais propostas para o mandato e sobre as perspectivas de avanço da instituição.


O que representa ser a primeira mulher indicada à Reitoria da UnB?


É uma responsabilidade enorme nesse momento peculiar do país e da própria Universidade. Acho que as mulheres de toda a comunidade da UnB se sentem mais representadas, inclusive, porque sou mãe também. Mas, independentemente do fato de ser mulher ou homem à frente da Reitoria, o importante é que tenhamos um olhar mais cuidadoso, com mais tolerância. Temos uma comunidade muito diversa, com gerações diferentes, incluindo jovens de 17 anos, e técnicos e professores prestes a se aposentar. São muitas realidades, precisamos estar atentos às necessidades de todos.

Márcia Abrahão e Enrique Huelva na posse dos decanos que compõem a gestão 2016-2020. Foto: Luis Gustavo Prado / Secom UnB

 

Quais os principais desafios e as prioridades da gestão para os próximos anos?


O maior desafio é melhorar a qualidade acadêmica, com especial atenção para a pesquisa e para a inovação. Outros grandes desafios são reduzir a evasão na graduação, melhorar a infraestrutura com recursos reduzidos e aprimorar os processos internos de gestão. Queremos, ainda, que a instituição volte a participar dos grandes debates nacionais e internacionais, com maior inserção na sociedade, e aumentar a arrecadação de recursos próprios.


Como fazer isso?


Antes de aumentar a captação, precisamos melhorar a execução orçamentária e reduzir a burocracia nos contratos e convênios. Deixamos de captar recursos porque a burocracia torna tudo muito complicado, o professor acaba desistindo. Para atuar nesse problema, estamos lançando o programa Simplifica UnB, que terá como objetivo a simplificação de processos e estruturas. Hoje, por exemplo, para efetuar a matrícula, o aluno precisa buscar um carimbo na SAA [Secretaria de Administração Acadêmica]. Isso tem que mudar. Vamos ouvir a comunidade acadêmica sobre quais são os principais entraves para a agilidade das atividades na UnB.


E como aumentar a captação de recursos para ensino, pesquisa e extensão?


Vamos atuar fortemente junto ao Congresso Nacional para trazer mais recursos de emendas orçamentárias. Além disso, vamos trabalhar com o parque científico e tecnológico, para promover uma maior inserção do conhecimento produzido na UnB junto à sociedade.


A gestão já delineou uma estratégia para melhorar as posições da UnB nos rankings nacionais e internacionais?


A posição nos rankings é consequência da nossa qualidade interna; devemos manter o foco nesse objetivo. Na graduação, vamos manter os projetos pedagógicos atualizados, ampliar os incentivos financeiros para que os estudantes participem de eventos e inserir novas tecnologias de ensino e aprendizagem em sala de aula. Vamos voltar a trabalhar com os editais de livros didáticos, ampliando as possibilidades de divulgação do trabalho dos nossos pesquisadores. É fundamental investir em uma estrutura de apoio ao professor e ao pesquisador, incluindo aí a desburocratização e o estímulo para que ingressem na pós-graduação, especialmente no caso dos novos docentes. Quando apoiamos o professor em todas as suas atividades, ele acaba se motivando e produzindo mais. Outro aspecto é a capacitação continuada dos servidores técnicos, também para mantê-los no quadro.

Reitora destaca aposta da gestão no diálogo permanente com estudantes e servidores. Foto: Luis Gustavo Prado / Secom UnB

 

E os possíveis cortes de recursos para a Universidade? Como podem impactar nesse processo de melhoria?


Os cortes sempre impactam. Mas estamos na capital do país e temos uma capacidade de interlocução muito grande com o governo e com as embaixadas. Buscaremos trazer mais recursos externos, inclusive, por meio da iniciativa privada, e vamos trabalhar fortemente para não desperdiçar os recursos que já recebemos. Outra medida que deve otimizar a gestão dos recursos é a criação do Decanato de Pesquisa e Inovação, sem custo adicional e sem aumentar estrutura, como outras grandes universidades já fizeram há vários anos. Hoje, temos muita pesquisa aplicada, e o que não está ligado à pós-graduação acaba ficando um pouco de lado.


Como será o diálogo com os segmentos da Universidade?


Eu e o professor Enrique [Huelva, vice-reitor] apostamos no diálogo sempre. Nossa equipe também conta com pessoas preparadas para isso. Além das discussões nos órgãos colegiados da Universidade, vamos ter rodas de diálogo permanente com estudantes, para tentar evitar crises. Com os técnicos, também pretendemos fazer isso. Vamos, ainda, retomar uma prática da qual participei quando era decana de Graduação: as visitas aos campi e às unidades acadêmicas. Somos a Reitoria de todos, dos que votaram e dos que não votaram em nós, é importante ouvirmos todas as vozes.


A flexibilização da jornada de trabalho foi uma de suas propostas de campanha. Como isso poderá ser implementado?


A flexibilização é uma proposta que entra no contexto da expansão da UnB. A Universidade cresceu nos últimos anos, foram abertos muitos cursos à noite, mas a estrutura de apoio permanece a mesma de quando o campus tinha prioritariamente cursos diurnos. Precisamos rever isso, garantir o funcionamento da UnB das 7h às 22h30. Já há uma comissão de flexibilização da jornada de trabalho criada pelo Conselho de Administração da UnB. Então, inicialmente, a decana de Gestão de Pessoas [Cláudia Araújo] vai convocar essa comissão para avaliar os processos e ver se há necessidade de renovação dos membros. Em alguns setores, existe a possibilidade de flexibilização, mas, como disse durante a campanha, vamos trabalhar sempre em respeito ao que está previsto em lei.

 

Confira entrevista da reitora Márcia Abrahão, concedida à UnBTV: