ENTREVISTA

Primeira mulher no cargo, docente do Instituto de Geociências encerra o período de gestão nesta quinta (21) e avalia conquistas e legado de sua administração

 

Após dois mandatos, a gestão da reitora Márcia Abrahão à frente da Universidade de Brasília termina nesta quinta-feira (21). A TV universitária entrevistou a docente para um balanço dos últimos oito anos da UnB. Na conversa, a gestora aborda realizações, desafios e o legado deixado por sua administração.

 

A entrevista está dividida em blocos temáticos: covid-19; direitos humanos, assédio e saúde mental; desburocratização de processos; segurança; relação com a comunidade; servidores; primeira mulher na Reitoria; realizações em aberto; futuro. É possível assistir à entrevista em vídeo ou ler a transcrição a seguir.

 

UnBTV: Você encerrou o primeiro mandato em plena pandemia de covid-19, em novembro de 2020, e iniciou o atual com a missão de organizar a retomada do calendário letivo da Universidade, num cenário ainda incerto sobre a doença, e num Brasil com a democracia fragilizada, o que, à época, gerou uma sombra se seu nome seria ou não sancionado para o cargo pelo presidente da República. Como a pandemia influenciou o mandato que está se encerrando? Foi um dos principais desafios enfrentados pela gestão?

 

Márcia Abrahão: Quando a gente olha para trás, a gente nem imagina o que aconteceu, o que poderia acontecer e como que conseguimos dar conta. Eu não poderia deixar de iniciar essa entrevista sem agradecer, primeiro, àqueles que nos elegeram em primeiro turno, no primeiro mandato, e no segundo mandato – o que aumentou muito a responsabilidade. E, ainda mais, como você lembrou, no segundo mandato em plena pandemia.

 

A pandemia influenciou muito. Estávamos todos em casa, trancados, tinha toda também a questão de saúde mental, o desafio de ir para o [trabalho] remoto e depois o desafio de vir para o presencial novamente. Com muitas incertezas e com um governo que era hostil às universidades, a UnB sempre uma delas, uma das principais, porque sempre foi um farol de resistência a todo governo antidemocrático. Existia, sim, a dúvida se eu iria ou não ser nomeada. Mas tive o apoio de toda a bancada do Distrito Federal, os oito deputados federais, os três senadores, também de várias pessoas influentes da República e também da Câmara [Legislativa] distrital e do governador Ibaneis Rocha. Então, tinha todo esse apoio externo, internamente um forte apoio para que eu fosse nomeada, não só por ter sido eleita ou por aqueles que me elegeram, mas pela garantia da democracia e o respeito à autonomia universitária.

 

A pandemia influenciou, mas com todo o apoio que tivemos, internamente também, um trabalho das comissões que constituímos, a comissão da própria retomada e a comissão dos projetos, que foi a Copei, conseguimos retomar o semestre, retomar as atividades e garantir também uma maior segurança para a nossa comunidade do ponto de vista da sua saúde, com todas as ações que tomamos. Criamos a Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu/DAC), uma coordenação específica que trata da vigilância sanitária, de saúde, isso tudo no âmbito do Decanato de Assuntos Comunitários. Assim, o balanço desse aspecto da pandemia, apesar de toda a crise, de toda a incerteza, das perdas que tivemos, é muito positivo.

 

UnBTV: Direitos humanos, assédio e saúde mental foram temas muito demandados nos últimos anos pela comunidade universitária. Quais foram os avanços nesse segmento?

 

Márcia Abrahão: Isso é muito importante. Quanto mais a gente tem avanços, mais as pessoas se dão conta daquele tema e, obviamente, vão demandar mais. Eu fico feliz de concluir o nosso mandato tendo como um dos grandes legados a pauta de direitos humanos, numa universidade fundada por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira.

 

Nós, na nossa gestão, criamos a Câmara de Direitos Humanos, uma Política de Direitos Humanos e uma Secretaria de Direitos Humanos para dar conta da execução de todas essas pautas. Criamos uma diretoria voltada para a atenção à saúde da comunidade, implantamos várias políticas e também estamos agora prestes a aprovar, ainda no nosso mandato, uma política de saúde mental, aprovada já pela Câmara de Assuntos Comunitários.

 

Então sim, foi demandado, mas muito estimulado por nós, que colocamos para discutir toda uma política de combate ao assédio na Universidade, várias pessoas discutiram, sindicatos, e aprovamos em 2023 uma Política de Combate ao Assédio, um Fluxo de Combate ao Assédio. Hoje as pessoas têm mais segurança, sabem onde procurar ajuda, e esse movimento também faz a gente servir de farol para outras universidades, como temos servido.

 

UnBTV: Uma das bandeiras da campanha é que os processos da UnB seriam melhorados, já que uma das críticas é que os processos são complexos. A meta foi atingida, sobre essa agilidade, essa melhora nos processos internos da UnB?

 

Márcia Abrahão: Essa é uma pauta sobre a qual, obviamente, nunca estamos satisfeitos. Às vezes, as pessoas mandam um processo e já me mandam um WhatsApp dizendo que mandaram um processo, dizendo que está na minha página para assinar. Mas eu fico feliz que a meta foi mais do que ultrapassada e quem diz isso não sou eu, são os dados. Os dados são muito claros.

 

A Universidade, quando nós assumimos, tinha uma prática não aprovada pela legislação, pelos órgãos de controle. Nós tínhamos uma demanda muito grande nos órgãos de controle, principalmente. Os projetos ficavam, às vezes, mais de um ano para serem aprovados. Nós criamos toda uma política nesse sentido, uma câmara de acompanhamento para a aprovação de projetos, que hoje é muito ágil e nos dá também a garantia jurídica desses projetos.

 

A Universidade vivia nas páginas policiais, eu fui da gestão pró-tempore e nós tínhamos ainda algumas demandas daquela época para resolver. Hoje eu fico feliz de termos agilidade, a Universidade era uma universidade toda do papel, implantamos sistemas como o SIG [Sistema Integrado de Gestão], um sistema totalmente integrado. Isso também ajudou na pandemia, porque os nossos sistemas estavam obsoletos e só funcionavam se estivéssemos nos campi. Nós fizemos com que toda a comunidade tivesse acesso a uma universidade digital, fora dos campi.

 

Tudo isso faz parte dessa modernização que fizemos de processos, de sistemas, na nossa gestão, começando, por exemplo, pelo diploma digital, que ninguém nem lembra mais. Quando assumi, eu tinha bolos de diploma para assinar todo dia. Eu tive que ir no MEC [Ministério da Educação], no Conselho Nacional de Educação, para que fosse aprovada uma regulamentação que permitisse às universidades emitirem diploma digitalmente. Essa iniciativa da UnB fez com que todas as universidades hoje pudessem ter diploma digital. Nós temos não só na graduação, como na pós-graduação também.

 

UnBTV: A questão da segurança é um gargalo no Distrito Federal e que se estende para a UnB. Quais as principais ações tomadas para fortalecer a segurança nos campi?

 

Márcia Abrahão: Interessante a gente olhar como foi e como é. Primeiro, como você lembrou, temos um problema de segurança no Distrito Federal. A nossa Universidade é totalmente aberta – o campus principal, que é o Darcy Ribeiro, o campus sede –, e nós fazemos questão que assim seja. Acabamos de aprovar uma política do Plano Diretor da Universidade, amplamente debatido, e que mantém a universidade sem muros, como pensaram Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira.

 

A segurança era um grande problema. Assim que assumi, no primeiro mandato ainda, recebi aqui a então secretária de segurança e toda a cúpula da segurança do DF, dizendo que a UnB impactava negativamente toda a Asa Norte. Fizemos um grande trabalho, uma política de segurança, com planejamento, envolvemos a comunidade, colocamos câmeras em todos os campi e, hoje, a Universidade ajuda a Asa Norte a ter melhores indicadores de segurança, porque aqui nós resolvemos não só nossos problemas de segurança, como também ajudamos o DF a resolver problemas. Por exemplo, alguém que comete crime na Asa Norte, passa pelo nosso campus para ir para a [via] L4. Nossas câmeras captam. Hoje temos vigilância 24 horas, temos também – uma solução simples, mas que deu muito resultado – aquelas cadeiras elevadas nos estacionamentos, que aumentam a sensação de segurança das pessoas.

 

Fizemos também pesquisas que mostram que a maior sensação de insegurança é à noite e no transporte entre a residência – ou o trabalho – e a Universidade. Então, também atuamos junto ao GDF para a melhoria do transporte de chegada e saída da nossa Universidade. Enfim, os resultados de segurança são impressionantes. Reduzimos em torno de 90% as ocorrências. Gostaríamos de zerar, mas é uma questão que não depende somente da Universidade.

 

UnBTV: Como está o relacionamento da UnB com a comunidade interna e com a comunidade externa? A UnB tem conseguido ir para além dos seus limites acadêmicos?

 

Márcia Abrahão: Eu também fico feliz de entregar uma universidade muito mais integrada ao Distrito Federal, inclusive fora do Distrito Federal, como no caso do nosso polo lá em Cavalcante [GO]. A Universidade, de fato, se abriu mais para a sociedade, principalmente por meio da extensão universitária. Nós criamos vários polos de extensão. Isso se reflete também na Semana Universitária, que tem indicadores fantásticos, com o aumento da participação da comunidade externa aqui na nossa Universidade. Ampliamos muito o apoio à extensão.

 

Lembramos que a relação da Universidade com a sociedade se dá por meio também do Hospital Universitário. Na pandemia, o hospital foi fundamental, não só para o DF, mas também para fora de Brasília. Conseguimos concluir aquele prédio da Unidade da Criança e do Adolescente, que é fundamental para a política de saúde do Distrito Federal. É um hospital 100% SUS [Sistema Único de Sáude].

 

E também da pesquisa. Fizemos a Reunião Anual da SBPC aqui, que foi um grande sucesso, a primeira reunião presencial depois da pandemia. Então, fico muito feliz de ver como a nossa Universidade está bastante integrada à sociedade, muito mais integrada.

 

A Biblioteca passou a funcionar 24 horas e é a maior biblioteca pública do Distrito Federal, que recebe pessoas de todo o DF. Internamente, também demos muitas oportunidades para a nossa comunidade, por exemplo, com as atividades culturais. Quando assumimos, tinha apenas uma Casa de Cultura. Hoje temos a Casa Niemeyer, que era uma casa fechada para atividades administrativas. Também o Espaço de Memória: transformamos uma área administrativa do prédio fantástico feito por Oscar Niemeyer (que tem desenhos originais do Oscar Niemeyer), num espaço de cultura. O Beijódromo, que é da Fundação Darcy Ribeiro, que também passou a integrar nossos espaços de cultura.

 

A Universidade se abriu na área de cultura e também na área de esporte, por exemplo, com as pistas de atletismo, que estavam sem serem concluídas há muitos anos e nós não só concluímos como também liberamos para a sociedade. Tivemos esse ano os JUBs aqui, que usaram as pistas de atletismo. Há vários exemplos de como a nossa relação externa com a sociedade melhorou e como também ampliamos as oportunidades internas para a nossa comunidade, para estudantes, técnicos e docentes.

 

UnBTV: Falando em servidores, tanto professores como técnicos administrativos, somos quase 6 mil aqui na UnB. Um problema sempre comentado é a retenção desses servidores na Universidade. Por um lado, a gente não tem concurso, vários cargos foram extintos. Por outro lado, às vezes o Distrito Federal oferece outros concursos com possibilidade de remuneração melhor. E ainda servidores são convidados para assumir cargos fora da UnB. Como isso vem sendo equilibrado até aqui?

 

Márcia Abrahão: O termo é mesmo esse, porque, de fato, é um equilíbrio, diante de uma legislação que nos impõe vários desafios. A situação de docentes e técnicos é diferente. No caso dos docentes, algumas carreiras exigem uma maior capacidade de retenção, porque são carreiras muito procuradas no mercado. Por exemplo: médicos. Algumas áreas da própria medicina nos impõem dificuldades para manter e até para atrair docentes para a área de Medicina.

 

Então, no caso de docentes, a maior dificuldade para reter é naquelas carreiras que têm um maior apelo profissional externo. Nesse caso, a forma da gente atrair e reter esses docentes é com a Universidade sendo cada vez melhor. Por isso nos preocupamos com ranking e com qualidade e entregamos uma Universidade muito melhor academicamente, com os indicadores acadêmicos de altíssimo nível. A pós-graduação, que era nível 4 em média, passou a ser uma pós-graduação nível 5 no último quadriênio. Apoiamos muito por meio de editais, pesquisa, pós-graduação, tanto docentes quanto técnicos.

 

No caso dos técnicos, entra muito essa questão do salário do servidor público. Estamos na capital e nossos servidores fazem concurso o tempo inteiro fora da Universidade, com salários melhores, inclusive para o próprio Executivo. Há um grande desafio em termos salariais. Eu fui presidente da Andifes [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior], atuei fortemente junto com os demais reitores, por exemplo, na greve este ano dos técnicos e dos docentes, junto ao MGI [Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos], junto ao Congresso [Nacional], para tentar melhorar a carreira. Acho que melhorou um pouco, como resultado das negociações que aconteceram. Algumas melhorias vão depender de projetos de lei e, obviamente, todas as pessoas vão procurar melhores salários.

 

O que nós fizemos internamente para tentar manter os nossos técnicos? Saímos de um mestrado profissional, por exemplo, para mais de 18, em várias turmas. Porque o servidor técnico, ao se qualificar, consegue melhorar o seu salário. Logo no início da nossa primeira gestão, fortalecemos a flexibilização por meio da regulamentação e então nossos técnicos passaram a ter flexibilização de horário na Universidade. Eu cheguei a ser quase multada por isso pela CGU [Controladoria-Geral da União]. A CGU queria que eu ficasse inelegível, dizendo que eu tinha extrapolado o que diz a legislação. Consegui vencer. Também o PGD [Programa de Gestão e Desempenho], que fomos a primeira universidade a aprovar. Depois, com o governo anterior mudando toda hora as regras, e depois o governo atual também acabou atrapalhando a implantação adequada, mas servimos de exemplo para o Brasil todo. Então, são várias ações para melhorar tanto o salário como a qualidade de vida do servidor técnico.

 

Uma grande conquista foi a manutenção da URP para nossos técnicos e docentes, como diferencial em termos de salário em relação às universidades de todo o Brasil. Chegamos a perder a URP. Assim que assumimos – talvez as pessoas se esqueçam disso –, no final de 2016, o TCU [Tribunal de Contas da União] já tinha determinado a retirada da URP. Eu cheguei a ser multada. Eu e a então decana Cláudia, em R$ 10 mil. Conseguimos recorrer. A Universidade não podia nem recorrer. O ministro do TCU, em uma das decisões, falou que se eu recorresse mais uma vez ele iria me acionar judicialmente e eu obviamente parei de recorrer. Mas aí já era 2019 e conseguimos discutir o mérito, até que o Supremo [Tribunal Federal, STF] tomasse essa decisão final. Não sem antes chegar também a decidir contrariamente à URP e finalmente decidir pela manutenção da URP dos técnicos. A URP dos docentes está garantida por uma liminar da ministra [do STF] Carmen Lúcia, a outra decisão foi por meio do ministro Gilmar Mendes. Então, são várias ações para equilibrar.

 

Além disso, temos buscado junto ao Congresso Nacional e junto ao atual governo o aumento da quantidade de cargos de técnicos e das funções gratificadas. Esta semana estive no Ministério da Educação com a notícia de que existe, sim, uma proposta de projeto de lei que já está na Casa Civil e que vai para o Congresso Nacional, para aumentar a quantidade de cargos e também para aumentar a quantidade de funções gratificadas.

 

Sobre a negociação da greve, de toda a reformulação da carreira dos técnicos, quero agradecer e parabenizar a decana de Gestão de Pessoas da UnB, Nina [Maria do Socorro Gomes], que atuou representando a Andifes junto ao governo federal, aos sindicatos, na mesa de negociação. Eles conseguiram colocar no projeto de lei a criação de um cargo geral de técnico de nível superior e de técnico de nível médio. Assim que for aprovado esse projeto, a gente vai ter essa possibilidade, ou seja, aqueles cargos extintos vão ser substituídos por esses novos cargos. Eu espero que isso dê um alívio já para 2025. Então, a próxima gestão da UnB já entra com uma perspectiva de ter aprovado esse projeto de lei com aumento de cargos.

 

UnBTV: Você fez história sendo a primeira mulher a chegar à reitoria da UnB, e por dois mandatos seguidos. No último pleito, houve apenas candidatas mulheres para o cargo. Qual a sua avaliação sobre esse cenário?

 

Márcia Abrahão: Eu fico feliz de ter sido uma reitora mulher que defendeu as mulheres, que defendeu os direitos humanos, que defendeu a minha história na Universidade também no âmbito de estudante. Porque não adianta ser mulher, você tem que agir de forma que você proteja direitos. Acho que fizemos uma gestão protegendo direitos e fazendo com que se ampliassem. Por exemplo, aumentamos as bolsas de assistência estudantil, de extensão, de iniciação científica, criamos vários auxílios, por exemplo, auxílio-creche. Consegui, por meio de emenda parlamentar indicada pela deputada Paula Belmonte, construir uma creche na Universidade, na qual teremos 30% das vagas para a nossa comunidade, que poderá também pleitear as outras 70% com critérios de renda e de proximidade.

 

Então, acho fundamental eu ter sido uma reitora – na minha opinião e pelo o que escuto de pessoas feministas que defendem as mulheres –, uma reitora que honrou ser mulher e que honrou a minha história como estudante dessa Universidade. Por exemplo, dando o título de geólogo [post mortem] para Honestino Guimarães, mostrando a defesa da democracia intransigente da nossa Universidade. Eu, como geóloga, também fico muito feliz perante os meus colegas geólogos do Brasil inteiro e todos aqueles estudantes que sofreram na ditadura militar e que chegaram a ser expulsos da nossa Universidade.

 

Foram três mulheres candidatas à reitoria. Conheço a história de algumas delas, mas posso dizer que me orgulho muito da minha história, do meu passado, do meu presente – que honra o meu passado e as minhas atitudes –, e com quem eu ando em toda minha história da Universidade. Porque você também tem que ver com quem as pessoas estão. Vocês podem olhar que eu tenho essa capacidade de interlocução muito grande – isso inclusive foi falado na Câmara Distrital, no meu título de Cidadã Honorária: que eu consigo transitar em várias áreas – na esquerda, na direita, no centro –, mas eu mantenho o meu olhar, as minhas atitudes, de acordo com os meus princípios.

 

UnBTV: Na sua avaliação, o que faltou realizar nesse segundo mandato e como isso contribuiu para que a comunidade universitária optasse por um novo grupo na gestão e não pela candidata que teve o seu apoio?

 

Márcia Abrahão: Sempre falta alguma coisa. Eu fui eleita duas vezes em primeiro turno, apoiamos a professora Olgamir [Amancia], que é da nossa gestão, que certamente daria continuidade ao trabalho que fizemos. A candidata mais votada foi da nossa gestão, saiu por uma decisão minha. Dei oportunidade, inclusive, para ela pedir para sair. Achei que naquele momento, para dar conta das dificuldades, da complexidade de uma gestão de uma universidade do tamanho da Universidade de Brasília, ainda mais no Decanato de Administração, eu precisaria trazer, por exemplo, o auditor-chefe da UnB para resolver problemas que havia naquele decanato.

 

Mas isso não significa que nós fomos reprovados pela comunidade. Óbvio, tem muitos fatores que fazem com que as pessoas votem em outros candidatos: a própria capacidade de transferir os votos, o perfil dos candidatos, o novo. As pessoas sempre têm essa questão do novo: “eu quero o novo!”. Acham que é novo, às vezes não entendem que estão voltando a um passado de 2005, por exemplo. Mas é uma opção da nossa comunidade.

 

Agora, óbvio que eu gostaria de ter concluído todas as obras. Recebi muitas obras inacabadas, concluí praticamente todas, fiz muitas obras novas. Gostaria de ter tido mais orçamento, de não ter tido pandemia. Tudo isso atrapalhou, mas tudo isso foi desafio. Faltou a gente ter tido um governo parceiro das universidades para a gente poder atuar mais e, obviamente, algumas questões administrativas que são estruturais na Universidade, que você não pode chegar e mudar totalmente, porque é uma cultura. Por exemplo, nós temos dificuldade de manutenção, mas fizemos um planejamento de manutenção que não havia na Universidade. Temos dificuldades de segurança, eu gostaria de ter zerado o problema de segurança da Universidade, não zeramos, mas reduzimos drasticamente. Faltou, obviamente, a gente ter tido mais oportunidade de abrir mais cursos, ampliar a oferta de vagas, reduzir a evasão nos cursos de licenciatura, principalmente, porque é uma demanda da sociedade, mas, ao mesmo tempo, é uma profissão que não tem adequada remuneração externa, o que acaba influenciando na procura também. Olhando todo o balanço e vendo tudo com o que nós nos comprometemos, acho que fizemos muito mais.

 

UnBTV: A Márcia Abraão que começou o relacionamento com a UnB lá em 1982, quando entrou para o curso de Geologia como estudante, sai do cargo realizada? Qual é o sentimento hoje e quais os seus planos para o futuro?

 

Márcia Abrahão: Eu saio bastante realizada. Eu estou muito feliz, porque, como ex-aluna da UnB, acho que pude retribuir para a Universidade tudo o que ela fez para mim. Olhando a nossa gestão, falamos de muitas coisas, mas fico feliz de ter fortalecido a política de direitos humanos.

 

Acabei de fazer 60 anos e já tinha pensado em me aposentar. É para esse caminho que vou seguir. Uma das políticas, inclusive, muito importantes que criamos é a Política do Envelhecimento Saudável e, nela, o Vestibular 60+, que é uma das coisas mais lindas que fizemos. A Universidade agora está pronta para acolher pessoas da creche à pós-graduação, da primeira infância até mais de 60 anos.

 

Também estou muito realizada, porque uma luta nossa muito grande, quando eu era estudante, era a questão da democracia na Universidade. Entrego uma universidade muito mais fortalecida democraticamente, com todas as decisões nos órgãos colegiados, que foram fortalecidos. O Conselho Diretor, que já serviu no passado para atitudes antidemocráticas, hoje virou um conselho consultivo.
Eu saio realizada, cumpri o papel que vim fazer aqui na Universidade como reitora, como estudante, como professora e agora caminho para a aposentadoria da nossa UnB.

 

*com informações da UnBTV.

 

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